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NEGOCIAÇÕES DE CANDIDATURA | Sánchez e Iglesias: sem acordos em uma negociação que acaba de começar

Finalmente, “começaram” as negociações entre Pedro Sánchez e Pablo Iglesias marcadas por inúmeras declarações públicas. Nesta sexta-feira, ambos os dirigentes se reuniram, porém as diferenças se mantiveram.

terça-feira 9 de fevereiro de 2016 | 01:37

Por Guillermo Ferrari

Na sexta-feira (05/Fev), o secretário geral do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) se reuniu com seu correspondente do Podemos. Pablo Iglesias - como já havia anunciado - exigiu que Sánchez tomasse uma decisão: negocia com o Podemos ou com o Ciudadanos.

Depois da reunião, Pedro Sánchez questionou a proposta de Iglesias: "Propuseram-me uma negociação exclusiva e excludente." "Há muitas coisas que nos separam, porém existe uma, acima de todas, que nos une, isto é, que devemos por um fim ao governo do Partido Popular (PP)".

Quando Pablo Iglesias teve a palavra, reafirmou sua negativa de um acordo que inclua o Ciudadanos: "Um governo progressista não é compatível a acordos com as alas de direita. E neste caso, entendemos que um acordo com o Ciudadanos seria um acordo em direção ao Partido Popular".

"Tenho a esperança de que escolherá fazer um governo conosco e não com Ciudadanos. E, de qualquer maneira, respeitarei a decisão tomada, mas espero de coração que aposte em um governo progressista e de mudança, e entenda que neste caso não é possível fazer as duas coisas simultaneamente", disse o líder do Podemos.

Ada Colau, prefeita de Barcelona pela coligação Barcelona em Comum também opinou nesse sentido. Após uma reunião com Puigdemont (Convergência Democrática da Catalunha-CDC) declarou: "espero que um acordo seja feito o mais rápido possível".

Iglesias e sua carta-na-manga: negociar com os indepe
ndentistas

Diante da negativa de Sánchez em aceitar uma negociação exclusiva PSOE-Podemos, na qual incluiria o partido Izquierda Unida (IU), Iglesias revelou uma “carta-na-manga”: sua disposição em negociar com as forças independentistas para garantir o apoio destas ao governo de Sánchez.

Sánchez se recusou a negociar um apoio a sua candidatura com a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) ou com coligação Democracia e Liberdade (do qual faz parte CDC e outros), mas Iglesias se mostrou disposto a conversar com estas forças, - a “arregaçar as mangas", em suas palavras - para formar um Executivo alternativo ao de Mariano Rajoy (PP).

Iglesias acredita que pode mediar entre o espanholismo do PSOE e o independentismo catalão, para buscar certo tipo de compromisso entre eles. Uma atitude muito diferente dos limites traçados ou “linhas vermelhas” que havia feito há poucas semanas, como a reivindicação do direito de decidir e o referendo catalão.

Contudo, está claro que o papel de "mediador" de Iglesias apenas será possível se Sánchez decidir pactuar com sua formação para compor um "governo progressista" e não em acordo com Ciudadanos.

É uma pena que nas negociações não haja holofotes, nem palco, nem câmeras de televisão, como exigia Iglesias há pouco tempo atrás. Desse modo, talvez, pudéssemos ter mais conhecimento de alguns detalhes sobre sua proposta.

O que está em jogo

Tanto PSOE, como Podemos, embora por motivos diferentes, aparentavam uma aversão em comum a que ocorressem eleições antecipadas. Após a primeira reunião, os dirigentes de ambos os partidos deixaram claro que as distancias permanecem. Mas a negociação acaba de começar e muita coisa está em jogo.

Para o líder socialista o quê está em jogo é o seu futuro enquanto político. Ou chega a presidência com algum acordo ou finalmente será presa dos barões que o esperam, como animais famintos, dentro de seu partido. Embora várias pesquisas tenham demostrado nos últimos dias o suposto crescimento das intenções de voto no Podemos, Iglesias, por sua vez, teme que um cenário de novas eleições estabeleça novas contradições com seus aliados e que desgaste o seu partido (política e economicamente) em uma nova disputa.

Não ata nem desata

O PP lentamente se recompõe. O que acontece é que o presidente age para boicotar qualquer possibilidade de acordo que inclua os Ciudadanos. Mariano Rajoy anunciou que apresentarão uma impugnação ao Tribunal Constitucional (Suprema Corte) a declaração independentista catalã. Rapidamente, convocou o presidente do partido Ciudadanos, Albert Rivera e se colocou de acordo em "defender a unidade da Espanha".

Precisamente por isso, a bancada do PP exigiu que a candidatura fosse lançada no dia 22 deste mês, diminuindo pela metade os prazos de negociação requisitados por Sánchez.

Nuvens carregadas para 2016

Ainda na difícil hipótese do Secretario Geral do PSOE alcançar um acordo para lançar sua candidatura, dificilmente conseguirá manter um governo estável. A aritmética parlamentar é muito rasa, as diferenças políticas são importantes e as nuvens carregadas que se aproximam também.

Aparentemente, a economia espanhola continuará crescendo em 2016, embora menos que em 2015 e com uma perspectiva decrescente. No entanto, os mercados europeus estão em queda, porque preveem uma nova recessão a nível mundial, devido aos resultados da China. Esse fato sugere um panorama mais difícil para a economia espanhola.

Bruxelas também anunciou que o déficit público espanhol encerrou acima do acordo previsto. Questão que obriga o novo governo a fazer mais ajustes que os já anunciados, caso queira continuar "cumprindo" com as exigências de Bruxelas. A comissão europeia calculou que em 2016 a Espanha deverá cortar quase 10 bilhões de euros.

O índice IBEX 35 da bolsa de valores da Espanha vota todos os dias

Exatamente por todos esses desafios, as grandes empresas do IBEX 35 buscam a formação de um governo estável. Continuam fazendo de tudo para que surja uma “grosse koalition” (grande coalisão), PP-PSOE-Ciudadanos, porém a opção parece descartada por hora.

O establishment não considera estável, muito menos forte, um executivo liderado pelo PSOE, que a cada passo tenha que consultar três ou quatro sócios. Por isso sonha com um "plano B": a formação de um governo tecnocrata que se encarregue de levar adiante todos os ajustes impostos pela União Europeia. Porém, isso significaria nada menos que passar Rajoy e Sánchez para trás e formar um governo de tecnocratas apoiado por PP-PSOE-Ciudadanos. Um governo estável que governe com "mãos de ferro” para as grandes empresas de IBEX. Porém o sonho que o establishment consideraria como uma saída está muito longe do que a maioria dos trabalhadores e do povo do estado espanhol aceitaria.

As negociações parlamentares seguem abertas. A 36 dias das eleições do dia 20 de dezembro, não está claro se será possível formar um governo ou se inevitavelmente haverá novas eleições. A única certeza é que o próximo governo deverá aplicar novos e duros ajustes contra os trabalhadores e o povo, como exigem o FMI e o eixo Berlim-Bruxelas.




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