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LETRAS USP | Salas lotadas e Biblioteca Contaminada: volta às aulas na Letras USP

O retorno às aulas na Letras - USP na semana passada, dia 03, foi marcado por confusão: sem grades fechadas, com salas extremamente lotadas, professores “fantasmas”, desorganização e descaso da universidade. Após os problemas nas matrículas virtuais, denunciados pelo Esquerda Diário, a realidade que nós estudantes encontramos “no mundo real” ao voltar às aulas na Universidade não é menos preocupante.

segunda-feira 10 de agosto de 2015 | 11:25

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Um grande problema foi a distribuição das turmas pelas salas do nosso prédio. Com informações desencontradas, muitas vezes equivocadas, os corredores permaneciam movimentados mesmo após o início das aulas porque os estudantes não sabiam ao certo onde aconteceriam suas aulas. Muitos iam às salas informadas pelo sistema e descobriam que ali seriam dadas outras disciplinas.

Diversas turmas grandes, como as de disciplinas obrigatórias do ciclo básico, e optativas de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, foram colocadas em salas absolutamente incapazes de comportar o alto número de alunos. Uma turma de Introdução aos Estudos Literários II no primeiro horário do noturno, por exemplo, com 75 alunos matriculados, foi alocada em uma sala (131) que conta com apenas 40 vagas. Minutos antes do horário em que começam as aulas, a sala já estava apinhada de gente, com ainda boa parte da turma fora dela. Com uma sala que comporta pouco mais da metade da turma, a solução não poderia ser outra, o professor fez o que pôde para locomover a turma pelo prédio buscando uma sala maior, e se comprometendo a “negociar” outra sala.

A partir da denúncia de um estudante, flagramos a mesma sala em outro dia com estudantes assistindo aula no chão e até do lado de fora, dada à lotação da turma... Em uma situação absolutamente prejudicial ao aprendizado, dezenas de estudantes, muitos após um dia de trabalho, se espremiam no chão de uma sala lotada na “Universidade de excelência” da América Latina.

Confirmando a desistência compulsória, fruto das inúmeras “turmas lotadas” e “chutes” que os alunos recebem ao longo da graduação, também denunciado no arquivo do Esquerda Diário, o professor desta turma, ignorando sumariamente a sala lotada, declarando apenas “turma, depois melhora”.

Cadê meu professor?

Outro problema que foi recorrente, foram os diversos estudantes pegos de surpresa ao descobrirem, no horário da aula, que o docente responsável pela disciplina na verdade “não existia”. Tanto por terem sido remanejados (sem aviso) pelo sistema, quanto por causa da falta de professores.

O caso de uma das turmas de Introdução aos Estudos de Língua Portuguesa II foi emblemático. Como a professora indicada no sistema Jupiter Web como responsável pela turma não apareceu no primeiro dia de aula, os estudantes enviaram a ela um e-mail perguntando se iniciaria o curso na próxima aula, ao qual ela respondeu com surpresa: “Creio que deva haver algum engano, pois neste semestre ministrarei a disciplina Filologia Portuguesa. De qualquer forma agradeço a gentileza.”

O nome indicado no sistema no lugar dela logo depois disso, tampouco seria a responsável pela turma ou apareceria na aula seguinte, sendo apenas mais um nome colocado a esmo para esconder o que todos sabem: não há professores suficientes no curso de Letras. Os estudantes agora esperam a resposta do Departamento para ver se o problema já foi resolvido ou se terão mais uma semana sem aulas.

Informações desencontradas pra encobrir um problema estrutural

A diretoria da FFLCH tenta parecer que todos esses problemas são “pontuais”, frutos de “desorganização” e “informações desencontradas”. Quando na verdade, se olharmos mais atentamente o histórico do curso de Letras veremos que se trata de um problema estruturante de nosso curso, e que longe de ser um “caso isolado” na USP, expressa um projeto de educação.

A falta de professores vem sendo um problema histórico em nosso curso, já tendo sido inclusive estopim para greves como a de 2002, que conquistou mais de cem professores, e parte da pauta de muitas outras. A insuficiência de nosso prédio, que foi entregue de forma “provisória”, há mais de 40 anos e nunca concluído, é também um problema de longa data. Sem salas que comportem o número de alunos, sem auditório e sem laboratórios para pesquisa. Realidade que pode ser vista em salas do Brasil inteiro.

Como já apontamos no artigo anteriormente citado sobre as “salas lotadas”, este problema estrutural é fruto de um projeto de educação do nosso país, que volta os investimentos das universidades públicas e todo o conhecimento produzido aos interesses dos grandes ramos empresariais, e não das necessidades da população que as financia e dos estudantes que as constroem cotidianamente.

Esse projeto de educação, voltado exclusivamente ao mercado, se agrava com a crise pela qual a universidade passa. O congelamento da contratação de professores (que não tem prazo para acabar) faz com que cada vez mais salas lotadas e falta de professores sejam uma realidade no nosso curso. Se continuarmos do jeito que está a situação vai piorar ainda mais.

Por isso em cursos como a Letras, que mais sofremos com a precarização exatamente por oferecermos pouco interesse para o mercado - formação de professores não dá lucro - que deve partir um profundo questionamento e movimento contra este projeto educacional do nosso país e por uma disputa real da universidade.

A Literatura Brasileira aprisionada

Outra má notícia do início das aulas foi que a Biblioteca da Florestan Fernandes, da FFLCH,interditada em fevereiro deste ano após uma forte luta dos trabalhadores para a retirada de um acervo contaminado, ainda está fechada.

Entre os professores de Literatura, principalmente Brasileira, a preocupação ao apresentar a bibliografia aos alunos era a mesma: todos os livros de literatura e crítica literária estão presos no segundo andar da Biblioteca. Em comunicado enviado por e-mail no dia 31/07, a Diretoria da FFLCH não dá nenhum prazo para a reabertura do segundo andar, apenas desejando “que a Biblioteca seja o mais breve que possível completamente desinterditada de forma a poder continuar atendendo aos quase 14.000 alunos da graduação e da pós-graduação, aos cerca de 500 docentes e ao número igualmente considerável de consulentes externos.”

Ou seja, os alunos do curso de Letras da USP, depois de um semestre inteiro praticamente sem biblioteca, não têm previsão de quando terão acesso a obras fundamentais para a sua formação. Algo que parece também estar fora das “prioridades” do diretor Sérgio Adorno.

Cadê o CENTRO ACADÊMICO?

Sem biblioteca, sem matérias, sem salas de aulas e sem professores, o mínimo seria que os estudantes de Letras, ao retornarem para as aulas, encontrassem muita discussão política e espaços abertos onde pudessem buscar as soluções para os estes problemas. Responsabilidade que é principalmente do Centro Acadêmico, o nosso CAELL.

Infelizmente, falta também uma gestão à altura de cumprir esse papel à frente da nossa entidade. Que organize os estudantes pra que possamos debater e enfrentar desde cada pequeno problema do nosso curso, a como isso se liga aos muitos ataques que a Reitoria e o governo do estado têm aplicado na Universidade, e à série de cortes na educação que vem sendo implementada no país pelo governo do PT.

Ao contrário disso, a gestão Ruído Rosa mal apareceu no curso ao longo da semana, e quando esteve por lá fez “vista grossa” aos problemas que passamos. Realizando apenas uma pequena reunião para organizar uma intervenção visual contra a Redução, por sinal esvaziada e mal construída, e uma cervejada no final da semana que também não reuniu muita gente.

Se privar de responder aos problemas mais sentidos pelos milhares de estudantes da Letras é, concretamente, permitir que a Reitoria faça o que quiser dentro da Universidade. É aceitar de cabeça baixa um projeto de educação mercadológico, elitista e excludente. Esta postura não está dissociada de qual é a corrente política presente na atual gestão, o Levante Popular da Juventude. Em todos os Centros Acadêmicos onde atua, como exemplo os da FFLCH da USP, esta corrente vem construindo a despolitização e a passividade entre os estudantes, além da defesa intransigente do governo do PT que bate recordes de desaprovação em todo o país e vem tendo a mesma política que Alckmin em âmbito estadual: cortar ainda mais da educação pública.

É preciso iniciarmos um grande debate e movimento na Letras e em toda a USP, que se coloque contra a precarização nos cursos, mas também contra a proposta de trazer ainda mais repressão policial pra dentro do campus, o total descaso com a exigência de cotas na universidade, o corte de bolsas e todos os ataques que visam implementar um projeto de educação que não defendemos. Parte importante de criar este debate e esse movimento é a esquerda retomar das correntes governistas (como o Levante Popular) todos os centros acadêmicos, e colocá-los a serviço da organização e luta dos estudantes, tornando vivas, orgânicas, combativas e democráticas as entidades estudantis, históricas ferramentas de luta.


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USP    Juventude



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