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INDÚSTRIA CULTURAL E RACISMO | "SELMA", o Oscar e os negros

Num momento onde os afro-americanos se levantam quanto a violência policial, retomando grandes levantes negros nos EUA, com grupos armados que remetem à história de organizações como o Partido dos Panteras Negras, nada melhor do que indicar ao Oscar um filme que trata de um grande líder afro-americano, que ao contrário do que fizeram Malcon X, Panteras Negras e outros importantes lutadores, pregava que os negros devem resistir de forma pacifica a violência dos EUA.

segunda-feira 2 de março de 2015 | 11:16

A premiação esse ano do Oscar gerou discussão na mídia internacional e principalmente nas redes sociais, pois é a primeira vez desde 1998 que nenhum negro foi indicado a nenhum premio. Mas por quê?

O problema do negro e sua representação no cinema e em todas as mídias é uma questão antiga. A indústria cultural, que produz os grandes filmes que são indicados não tem apenas o papel de entretenimento, é uma empresa que gera lucros exorbitantes, mas também é responsável por fortalecer a ideologia dominante.

Por isso não podemos nos surpreender com a ausência de atores, diretores e roteiristas negros, com o papel que cumprem os negros nos filmes, muito menos com a ausência de filmes que contem histórias de grandes revoltas negras ou que coloquem o negro num papel de protagonista de sua própria história.

Num momento onde os afro-americanos se levantam quanto a violência policial, retomando grandes levantes negros nos EUA, com grupos armados que remetem à história de organizações como o Partido dos Panteras Negras, nada melhor do que indicar ao Oscar um filme que trata de um grande líder afro-americano, que ao contrário do que fizeram Malcon X, Panteras Negras e outros importantes lutadores, pregava que os negros devem resistir de forma pacifica a violência dos EUA.

Martin Luther King foi um dos mais importantes líderes da luta dos negros por direitos civis nos EUA, porém acreditava que a melhor estratégia era de pressão pacífica da população negra no Estado. Obama tentava usar essa mesma lógica contra os protestos ditos “violentos” de Feguson, dizendo que era necessário protestos pacíficos, chegando até a dizer que poderia ser seu filho o jovem negro morto pela policia. Ao que parece a indústria cultural tenta tornar a figura de um importante líder em um mártir inofensivo, fortalecendo a posição do estado americanos de tentar amenizar toda a revolta negra contra o racismo.

É importante rememorar as grandes figuras da luta negra, e ter um filme que mostre o negro como protagonista de sua própria luta concorrendo ao Oscar deve ser visto como um fenômeno importante. Mas não podemos ignorar o fato de que a escolha dos grandes filmes também tem a ver com a política. É como se fosse um recado aos milhares de jovens negros que se levantam nos EUA e no mundo, sejam como King. Mas a pergunta é: essa é a melhor forma de vencer o racismo?

Os vencedores de uma guerra contam a história de seu jeito escolhem quais devem ser os lutadores que podem se tornar grandes matiris e tornam importantes figuras de luta em figuras inofensivas. Vejam não premiaram um filme que conte a história dos negros que perceberam que a própria organização da sociedade em que vivemos é racista e que precisamos derrubá-la, contaram a história dos que achavam possível negociar com o Estado para acabar com o racismo.

Mesmo ganhado apenas o prêmio por sua trilha sonora, não deveria ser uma contradição tem um filme que fala sobre igualdade de direitos entre negros e brancos numa instituição que não indicou sequer um nome negro esse ano e que só premiou em toda a sua história 15 negros? Qual seria a intenção, questionar a desigualdade racial, ou simplesmente colocar os negros em seu devido lugar, utilizando de uma importante referência negra para apaziguar os ânimos?

O OSCAR é a maior premiação do cinema mundial, ser indicado e premiado é um grande salto na careira quem atua nessa área. Porém tanto as indicações quando as votações seguem seus critérios, que são fortemente impactados pela ideologia hegemônica.

Mas qual é a saída?

O racismo não se trata simplesmente de um preconceito, mas de uma trama de relações que fazem com que os negros tenham menos condições sociais e econômicas que os brancos. Essa relação permite com que os patrões consigam lucrar ainda mais a partir dessa “desigualdade”.

Pois bem, é muito importante que lutemos para que abram mais portas para que os negros estejam em mais espaços, seja por incentivo financeiro aos diretores, roteiristas e atores negros ou quaisquer outras políticas culturais que incentive a formação de cineastas e atores negros, que incentive a transmissão da cultura e da história negra.

Mas não podemos perder de vista que única saída para o racismo e todas as suas expressões é a luta dos trabalhadores junto aos negros e negras contra essa relação de opressão, partindo sim da luta por direitos elementares para negros e ao mesmo tempo avançando para a derrubada dos que ainda mantém esse sistema como está por pura ganância.


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