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CIDADE OLÍMPICA | Rio 2016 ou as Olimpíadas da crise

Juan ChiriocaRIO DE JANEIRO

sexta-feira 22 de janeiro de 2016 | 00:30

O que pareceu por muito tempo o setor da economia carioca que não era afetado pela crise expressa hoje a 196 dias do começo dos jogos, que a crise econômica é capaz de afetar até a menina dos olhos do prefeito Eduardo Paes (PMDB). Atrasos nas obras, greves de operários da construção, conflitos com as empresa. Quanto mais nos aproximamos do ponta pé inicial do megaevento mais esperado pela administração municipal e pelos empreiteiros cariocas, mais evidentes ficam os traços da crise econômica do resto do Brasil.

Essa semana foi anunciada a "demissão" de 20mil voluntários dos originalmente 70mil que trabalhariam durante os Jogos. Essa modalidade de trabalho voluntário já foi implementado anteriormente em outras edições dos jogos olímpicos como Londres ou Pequim e por meio de um trabalho escravo disfarçado de "voluntario" aumenta ainda mais os grandes lucros para as empresas envolvidas com o evento. Um modo de exploração do trabalho que se garante a partir dos supostos valores universais e humanos próprios dos jogos Olímpicos e também do discurso desinteressado construído ao redor da organização dos Jogos Olímpicos e do COI (Comitê Olímpico Internacional). Em termos de trabalho formal as 20mil "demissões" são o equivalente a demitir a totalidade de operários das 4 fábricas da Volkswagen no Brasil. Por outro lado, os 50mil voluntários que continuam nos Jogos terão que assumir as tarefas que os demitidos deixaram atrás.

Por outro lado, a manobra da prefeitura sob o nome "Servidor Olímpico" para explorar servidores públicos já aposentados pagando o 50% do valor dos proventos e com um teto máximo de R$1,5mil para desempenharem funções na preparação e realização dos Jogos Olímpicos. Isto é publicizado como uma oportunidade em tempos de crise, mas a verdade é que é a Prefeitura junto com o COI garantindo a precarização do trabalho nas olimpíadas.

Os cortes não param por ai, e além do indignante da situação de precarização e exploração do trabalho que envolve os jogos olímpicos, varias instalações temporárias sofrerão reduções e simplificações, ou mesmo não serão mais realizadas como a arquibancada móvel flutuante da Lagoa Rodrigo de Freitas. A precarização das instalações temporárias pode trazer riscos à segurança do público que assistira aos diversos eventos das Olimpíadas.

O conjunto destas medidas dificilmente significarão uma economia considerável nos gastos num megaevento com 38,5 bilhões de orçamento (valor segundo O Globo 5/8/2015). É no mínimo questionável que a demissão de 20 mil voluntários sem salário vai garantir uma redução de R$660 milhões. Mas por outro lado todos esses valores são questionáveis.

Essas Olimpíadas ja foram denunciadas como "Os Jogos Obscuros" pelo portal UOL denunciando a Prefeitura do Rio de Janeiro por falta de transparência e de violar a Lei de Acesso à informação escondendo documentos relativos ao conjunto das obras. Segundo o Dossiê do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o orçamento total das olimpíadas seria de 38,7 bilhões, quase o triplo do custo da Copa do mundo. Segundo UOL destes 38 bilhões, 18 são somente pra gastos referentes à gestão municipal.

O orçamento bilionário não garante que as obras serão entregues à tempo. Segundo os cronogramas, 40% das obras preocupam ou requerem uma atenção especial devido ao seu atraso. A construção e testes da Linha 4 do Metro por exemplo será entregue até junho e seu uso comercial em julho. 1 mês antes do inicio das olimpíadas.

Por outro lado, as grandes obras na cidade, não são garantia de que a cidade está preparada. E não é palpite. Já vimos o caos que a cidade ficou por exemplo na vinda do Papa na Jornada Mundial da Juventude em 2013 onde o transito da cidade virou um caos total, com cortes e desvios de ruas não planificados nem informados às empresas de ônibus, ou mesmo durante a Copa do Mundo em 2014 onde o Prefeito decretou feriados ou ponto facultativo nos dias dos jogos no Maracanã. Olimpíadas na cidade não serão diferentes, e o Prefeito já declarou que pretende estender as ferias das escolas municipais. E pior, nos horários dos eventos com mais público, o uso do BRT e/ou do Metrô estarão restritos a quem tiver um cartão de cartão especial de transporte olímpico, ou seja a já cara e precária mobilidade oferecida pelo sistema de transporte urbano na cidade do Rio, será negada aos moradores jovens e trabalhadores cariocas em nome dos lucros destes empreiteiros corruptos.

A cidade dos megaeventos onde as obras que hoje transformam a cidade não são de forma alguma um legado para os cariocas e seguirão o mesmo caminho já trilhado pelas experiências como Pequim, África do Sul e os estádios construídos no próprio Brasil da Copa do Mundo deixando cidades mais desiguais, segregadas (as mais de 67mil pessoas removidas nas gestões de Eduardo Paes são prova disto) e com maior concentração dos recursos vindos da esfera pública em mãos dos empreiteiros.




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