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ENTREVISTA | Retrocedemos a uma República de Bananas, declara Joaquim Barbosa à Folha

O ex-ministro caracteriza o período atual como de "fragilidade institucional" e "desestabilização estrutural" pelo enfraquecimento da presidência. Para o juiz, diante de uma presidência sem legitimidade e de um Congresso com motivações degeneradas, com um "grupo que se sente motivado a praticar as maiores barbáries institucionais contra o país", para por fim a essa turbulência, é necessário uma presidência eleita, legitimada pela soberania popular.

quinta-feira 1º de dezembro de 2016 | Edição do dia

Após quase um ano sem conceder entrevistas, o ex-ministro, clamado herói nacional pela mídia devido ao julgamento do Mensalão, afirmou à Folha que o processo que destituiu a presidente Dilma já estava planejado desde 2015 por um grupo de políticos que antes de realizar o impeachment, a apoiavam, e levaram o impeachment adiante para impedir a investigação de seus crimes.

Para Joaquim Barbosa, o processo levado a cabo no Congresso Nacional não foi um golpe, mas não passou de meras formalidades - "um grupo de líderes em manobras parlamentares", apoiadas muitas vezes com ódio. A motivação estava clara: "impedir a investigação de crimes por eles praticados". Em dado momento, para Barbosa, a elite econômica passou a apoiá-las como pretexto para estabilidade econômica.

O ex-ministro caracteriza o período atual como de "fragilidade institucional" e "desestabilização estrutural" pelo enfraquecimento da presidência. Para o juiz, diante de uma presidência sem legitimidade e de um Congresso com motivações degeneradas, com um "grupo que se sente motivado a praticar as maiores barbáries institucionais contra o país", para por fim a essa turbulência, é necessário uma presidência eleita, legitimada pela soberania popular.

Barbosa afirma que esse desequilíbrio estrutural também abre caminho para o enfraquecimento de outras instituições, como o Judiciário, e fortalecimento dos membros do Legislativo. Falando sobre a lei de abuso de autoridade da Câmara, declarou que "a lógica é a seguinte: se eu posso derrubar um chefe de Estado, por que não intimidar e encurralar juízes?".

O juiz também considera o momento de apresentação das propostas de medidas de combate à corrupção inoportuno, pois permitiriam a esses setores de motivações espúrias defender medidas que os beneficiassem.

Sobre a Lava Jato, afirmou que a acompanha a distância, mas que a Justiça dá todas as mostras (aparências) de estar funcionando.

Talvez o governo não chegue ao fim

Para Joaquim, esse governo ilegítimo não resistiria a grandes manifestações. O ex-ministro defende que uma boa presidência se faz com diálogo com a nação, em sintonia com o povo, e não com o Congresso.

Barbosa afirma que com Dilma já não era assim, e agora a legitimidade que Temer crê alcançar, pelo apoio de setores parlamentares, é ilusão, uma vez que os próprios representantes do Congresso são vistos com muita suspeita pela população. "Ele [Temer] acha que vai se legitimar. Mas não vai."

Retrocedemos a uma República de Bananas

O juiz declarou à Folha que 2016 significou um "passo para trás gigantesco" na economia brasileira, após um período de 30 anos de estabilidade e fortalecimento das instituições democráticas. "Rebananização": "é como se o país estivesse reatando com um passado no qual éramos considerados uma República de Bananas", já que o mundo nos olha com desconfiança, como a "um anão político em sua região". Inclusive, Barbosa afirma que a própria prisão de Lula, caso não tivesse fundamentos inconstestáveis, apenas reforçaria esse olhar negativo sobre o país.

Por fim, reafirma à Folha sua posição de não se candidatar à presidência, por seu "temperamento", "isolamento pessoal", "estilo de vida".

Que Joaquim Barbosa venha a público declarar-se tão crítico aos políticos mostra que a atual crise político está reembaralhando muitas cartas e trajetórias políticas e pessoais. Seja pela falta de sinceridade em sua declaração sobre não ser candidato, seja pelo tom de suas críticas o retorno de Joaquim Barbosa à mídia marca o retorno à cena de mais atores políticos.




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