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TESTES MASSIVOS JÁ | Resultados de testes demoram tanto que chegam semanas após morte de pacientes

Além da falta de testes para todos, mesmo aqueles que foram testados acabam morrendo sem saberem se contraíram o Coronavírus por conta da demora no resultado.

terça-feira 31 de março de 2020 | Edição do dia

O processamento do teste, tecnicamente, exige de 4 a 10 horas. Mas pacientes já esperam duas semanas por um resultado, e recebem informações de que demora pode chegar a um mês. O que dizem as autoridades nesses casos é que as instituições estão priorizando a verificação dos casos graves e óbitos e que o teste não impacta no tratamento da pessoa. Mas ao não ter os resultado as pessoas ficam ansiosas e preocupadas se estão colocando suas famílias em risco, como ocorre nas favelas, onde famílias vivem aglomeradas em um único cômodo em condições precárias de vida e por vezes até sem água para lavar as mãos.

Há muitos relatos de situações dramáticas por consequência da demora. Pessoas que passam vários dias tentando ser testadas sem sucesso (mesmo quando recorrem ao pagamento de testes na rede privada), sendo mandadas para manter cuidados em casa, só são testadas depois de piorar e serem internadas, e morrem horas depois, sendo os parentes que ainda aguardam os resultados por mais de uma semana. Nesses casos, os familiares e parentes têm que manter distância do paciente quando doentes e sequer podem fazer um velório digno. Segundo o Ministério da Saúde, esses casos suspeitos não são contabilizados até que sejam confirmados por exames.

Assim, com esse grande número de pessoas que estão morrendo sem ter passado por nenhum teste, a solução do governo federal, anunciada no último dia 20, é de liberar o registro de óbito “indeterminado” porque o “estado não tem condições para testar todos os corpos”. Ou seja, a autópsia é desaconselhada por segurança e é assinado um sem a realização de testes que possam comprovar que a morte ocorreu pelo novo coronavírus.

Além do amargor da espera, as mortes de possíveis vítimas sem diagnóstico oficial, ocorrido pela escassez e a demora nos resultados dos testes, fazem com que muitos casos não sejam e nem serão identificados, e que os dados atuais são subestimados e dizem respeito à situação da pandemia há vários dias ou semanas atrás. O próprio ministério da saúde apontou que [“de cada 100 pacientes com coronavírus, conseguimos identificar 14. Ou seja, 86% das pessoas que têm o vírus não são identificadas”

A gravidade da subnotificação chega até o fato de o número de pessoas hospitalizadas em São Paulo com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), complicação causada por infecções respiratórias como a gripe comum e a Covid-19, dobrou nos três primeiros meses de 2020 em comparação ao mesmo período de 2019. Porém, segundo dados do Ministério da Saúde, apenas 4% desses casos já foram confirmados com o novo coronavírus.

Tudo isso mostra que o Brasil não faz sequer o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda testes em massa para casos suspeitos para “achatar a curva” de transmissão - evitar que milhares de pessoas fiquem doentes ao mesmo tempo e isso sobrecarregar o sistema de saúde, e que mesmo os testes prometidos por Bolsonaro e Doria não são suficientes para uma país de 210 milhões de habitantes, onde mais de 31 milhões de pessoas não têm acesso à água potável e quase 6 milhões não tem banheiro em suas casas, evidenciando que até as medidas de isolamento, em si mesmas, são completamente insuficientes.

Não há dúvidas que a ganância capitalista mundial produziu toda essa barbárie, desde o sucateamentos dos sistemas de saúde públicos até a sua total privatização em alguns países, mas também a baixa na qualidade de vida da maior parte da população enquanto outra pequena parte enriquecia, gerando não somente uma maior desigualdade de classe, mas o afogamento dos trabalhadores e as minorias na miséria, os tornando um grupo mais suscetível a agravamentos de saúde em decorrência do Coronavírus junto falta de garantia de atendimento.

Uma das nossas principais batalhas deve ser a testagem em massa, pois é com ela que teríamos uma ideia melhor de como promover medidas de isolamento mais efetivas (para desacelerar o contágio) e também para possibilitar que aqueles que não estejam contaminados possam trabalhar para conter a crise. Também garantindo os dados mais precisos para observar como a doença avança no país, a taxa real de letalidade e as características dos grupos mais afetados.

Sabemos que existe uma dificuldade de pronta-entrega num cenário de esgotamento de insumos no mundo e a demora para se ter o resultado ocorre ao longo da cadeia de testagem, desde a coleta do material nos hospitais, que já enfrentam sobrecarga de pacientes, a organização das amostras do dia, o transporte, até a fila de processamento do teste, que exige mão de obra qualificada e análise mais complexa. Por isso, para garantir testes em massa é necessário o controle operário da produção, ou seja, que os trabalhadores em cada fábrica verifiquem e organizem a produção para volta-lá a produção de testes e também de álcool gel, máscaras, jalecos e respiradores, pois não faz sentido nesse momento produzir carros onde seria possível produzir motores para respiradores. E junto a essa medida, deve ser centralizado a saúde pública e privada (inclusive laboratórios) sob controle dos trabalhadores da saúde, construindo novos leitos, contratando profissionais e técnicos da saúde que estejam desempregados e comprando equipamentos para cuidado dos doentes e para os testes.

O governo afirma que não existem recursos para aplicar os testes massivamente, mas gastou R$ 4,8 milhões recentemente com sua campanha negacionista e obscurantista “O Brasil Não Pode Parar", o que mostra, na verdade, que não se trata sobre a falta de recursos, mas sim sobre as prioridades que o governo Bolsonaro tem, e a vida das pessoas definitivamente não é uma delas. O que também é evidenciado no compromisso do pagamento da dívida pública, principal forma de espoliação imperialista no país - o qual devemos rechaçar veemente. Além disso, uma pesquisa de entidades feita recentemente concluiu que se o governo taxar as grandes fortunas a verba que se poderia arrecadar é de R$ 272 bilhões, o que seria suficiente para fazer testes para todos, ampliar os leitos de UTI e investir em respiradores, ou mesmo, garantir um salário de R$ 2 mil por pessoa que esteja sem renda, na informalidade ou desempregado, como medida emergencial.

Como sabemos que nem o Bolsonaro e nem as grandes empresas podem defender esse programa, confiamos na força da classe trabalhadora para dar respostas para crise. E como a burguesia e seu aparato estatal temem tanto convulsões sociais e a tomada da linha de produção por parte dos trabalhadores, não é de se estranhar que hoje o ministro da Justiça, Sérgio Moro, autorizou o uso da Força Nacional para “reforçar a segurança em situações como distribuição de alimentos e insumos médicos, controle sanitário e para evitar saques e vandalismos”, mas que na verdade esconde um maior autoritarismo sob os trabalhadores e a garantia de contenção de possíveis explosões sociais.




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