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CENTRO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS HUMANAS DA UNICAMP | Resposta do CACH-Unicamp à declaração do professor Leandro Karnal

Em nota na sua página do Facebook, o Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp (CACH), critica as posições do professor de história de seu instituto, Leandro Karnal, perante a manifestação que ocorreu em Brasília ontem contra as reformas e pela saída de Temer. Reproduzimos a nota nesse diário.

quinta-feira 25 de maio de 2017 | Edição do dia

Conversas com um velho professor

No final da tarde de ontem, o Professor Leandro Karnal, do departamento de História do IFCH, publicou o seguinte comentário em sua página no facebook: “Por vezes a história atravessa o caminho do historiador. Cruzei a Esplanada dos Ministérios em meio a chamas e caos. Uma pena que manifestaçōes degenerem em agressōes e depredação. Esvazia-se a pauta dos manifestantes que, hoje, conseguiram reforçar o gov Temer como alternativa à desordem. Será que era o objetivo deles? Saindo de Brasília ainda temendo as calendas de março…”
O Centro Acadêmico de Ciências Humanas lamenta profundamente que um professor de História da universidade dita como uma das mais “conceituadas” desse país possa ter uma compreensão tão rasa do desenrolar da crise política que vivemos. Ouvimos sobre o comentário do professor ainda com os olhos ardendo por causa do gás lacrimogêneo da repressão policial, ao final da manifestação.

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Não basta uma mera oposição entre paz e violência para compreender o porquê da manifestação de ontem em Brasília ter se transformado em um verdadeiro cenário de guerra. É preciso entender o processo de impeachment da presidente Dilma como um golpe com o objetivo de acelerar a implementação das reformas para recompor os lucros do capital imperialista em crise. É preciso entender que diferentes campos burgueses hoje disputam a saída da classe dominante para a crise (e a melhor forma de implementar as reformas). É preciso entender como a greve geral do dia 28 de abril de 2017 colocou a classe trabalhadora organizada em campo para esta disputa, e como isso ameaça toda a saída pactuada e a aplicação do ajuste.

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A disputa em curso em nosso país hoje não é pura e simplesmente pela “manutenção da ordem”. A disputa em curso é pela aplicação de um ajuste em favor dos ricos e poderosos. Neste processo estão em jogo nossos direitos trabalhistas, a previdência, o investimento público em saúde e educação e, mais do que isso, ficou provado ontem que nossas liberdades democráticas básicas também estão em jogo. Temer convocou as forças armadas para reprimir uma manifestação em Brasília, coisa que não ocorria desde a ditadura militar. Fomos atingidos por bombas de gás arremessadas de helicópteros, a polícia utilizou armas de fogo. A paz não foi uma opção que nos foi dada, seja pelos ataques aos nossos direitos, seja pela repressão brutal que sofremos. Chegar até o Congresso Nacional era nosso direito.

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Nos comentários a essa publicação do professor, foi feita a pergunta: “A paz interessa a quem?”, ao que o professor respondeu “a quem odeia mortes”. O professor também analisou a Tomada da Bastilha como um “banho de sangue imenso” ao qual se seguiu a “ditadura de Napoleão”. Como fica claro, “paz”, para o professor Leandro, é não desafiar a ordem imposta, a violência do Estado, a inconstitucionalidade dos corruptos: é silenciar. Pedir pelo silêncio dos que se manifestam e resumir a manifestação em Brasília de ontem como uma degeneração esvaziada de pauta é um uso lamentável de sua visibilidade enquanto intelectual no Brasil, que o coloca no lugar de um comentarista virtual desqualificado de argumentos articulados ou, ainda, de um intelectual que, cínico, só acessa a realidade através das pequenas janelas das altas e distantes cátedras universitárias. Gostaríamos que o professor refletisse a respeito de dois pequenos trechos de Brecht, o primeiro retirado do poema “Deutsche Kriegsfibel” (“Cartilha de Guerra Alemã”) e o segundo, do poema “De que serve a bondade?”:

“Os de cima dizem: guerra e paz
São de substância diferente
Mas a sua guerra e a sua paz
São como tempestade e vento.
A guerra nasce da sua paz
Como a criança da mãe
Ela tem
Os mesmo traços terríveis.
A sua guerra mata
O que a sua paz
Deixou de resto.
No muro estava escrito com giz:
Eles querem a guerra.
Quem escreveu
Já caiu.
Os de cima
Juntaram-se em uma reunião.
Homem da rua
Deixa de esperança.
Os governos
Assinam pactos de não-agressão.
Homem da rua
Assina teu testamento.
Quando os de cima falam de paz
A gente pequena
Sabe que haverá guerra.
Quando os de cima amaldiçoam a guerra
As ordens de alistamento já estão preenchidas.”
“1
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?
De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
2
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor,
A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!
Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!”
Por fim, dizer que o ato de ontem em Brasília fortaleceu o governo é uma afirmação que carece de nexo.

O CACH esteve presente ontem, ocupou Brasília e seguirá lutando junto à juventude, aos trabalhadores, centrais sindicais e movimentos sociais pela manutenção dos nossos direitos. Reivindicamos o chamado de uma nova greve geral, para derrubar Temer e suas reformas!

#GreveGeral
#ForaTemer
#MelhoreKarnal




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