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VENEZUELA | Repudiamos as provocações de Bolsonaro, auxiliar do golpismo dos EUA contra a Venezuela

A aventura imperialista de Trump pelo petróleo venezuelano conta no Brasil com os provocadores oriundos do clã familiar bolsonarista e sua corte de ministros olavistas, pontos de apoio para a ofensiva norte-americana na América Latina.

sexta-feira 22 de fevereiro de 2019 | Edição do dia

O governo Bolsonaro segue como um vassalo se ajoelhando no altar de Donald Trump, e fazendo demagogia com o justo descontentamento do povo venezuelano com a política catastrófica de Maduro, busca ser um pilar para a "intentona golpista" dos EUA que aprofundará as condições de miséria dos trabalhadores.

Diante do fechamento da fronteira venezuelana em Roraima por Nicolás Maduro, o porta-voz de Jair Bolsonaro, Otávio Rêgo Barros, anunciou que a "ajuda humanitária" coordenada com Estados Unidos e Colômbia será transportada até Boa Vista e Pacaraima por motoristas brasileiros e, a partir da fronteira, os medicamentos e os alimentos "deverão ser transportados por motoristas venezuelanos". As ações desencadeadas pela provocação bolsonarista, entretanto, seriam "de total responsabilidade do governo venezuelano".

Trata-se de uma frase cínica de um governo bolsonarista que serve de facilitador e apoiador direto do golpismo norte-americano na Venezuela.

O governo Bolsonaro apóia o autoproclamado presidente interino Juan Guaidó, um fantoche saído do paletó de Washington que defendeu o embargo petrolífero dos EUA sobre a PDVSA e o confisco dos bens venezuelanos depositados em território estadunidense, ambas medidas que agravarão a catastrófica situação econômica e social do povo venezuelano, imposta por Maduro. Isso seria a forma de "ajudar os venezuelanos", agora com envio de medicamentos e alimentos pela fronteira em Pacaraima e Boa Vista com aviões da Força Aérea Brasileira, que nada mais são que uma senha para causar incidentes internos.

A Colômbia, país que abriga cerca de mil militares norte-americanos, já começou a montar seu centro de interferência perto da cidade fronteiriça venezuelana de Cúcuta. Ali, a Força Aérea dos Estados Unidos opera livremente, apesar do bloqueio da ponte de Tienditas, que liga os dois países, por parte do regime de Maduro. Mais novo aliado do repressivo regime de Bogotá, o reacionário governo brasileiro coloca seus recursos a serviço do intervencionismo imperialista.

O desejo de Washington é, apoiando-se na submissão de Bolsonaro, converter o Brasil numa segunda Colômbia. Distintos meios de comunicação informaram sobre os encontros do chanceler Ernesto Araújo com representantes do governo Trump nas últimas semanas. O objetivo da Casa Branca é comprometer o Brasil a dispor tropas para determinadas eventualidades na Venezuela, e também a aceitar a presença de soldados estadunidenses na fronteira.

Araújo encontrou-se com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, e na semana seguinte conversou com o chefe do Comando Militar Sul dos EUA, almirante Craig Faller, em Brasília. Um dos resultados da reunião com Faller - que tratava da crise na Venezuela - foi a designação, pelo Exército brasileiro, do general-de-brigada Alcides Valeriano de Faria Júnior para o cargo de subcomandante do Comando Sul, a unidade que coordena os interesses estratégicos e militares dos Estados Unidos na América do Sul, na América Central e no Caribe. Ou seja, o Exército, com apoio do governo, colocou um militar tupiniquim como funcionário direto de Trump.

Veja aqui: "Trump e o imperialismo não são alternativa diante do autoritarismo de Maduro na Venezuela"

O assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, aproveitou o momento para acenar ao Brasil com a possibilidade de estabelecer um amplo pacote de cooperação militar, semelhante à que tem com a Colômbia. Nota-se que a proposta de bases militares ianques no Brasil, feita com capachice por Bolsonaro, não caiu em ouvidos surdos.

O desenvolvimento do ofensiva golpista na Venezuela - que deve ser repudiada e cujo caminho foi aberto pela política autoritária e catastrófica do chavismo, encabeçado por Maduro, que beneficia os capitalistas nativos e estrangeiros - tem efeitos diretos para a configuração política latino-americana. Bolsonaro tende a usar a política de Trump na América Latina como suporte moral, nesse caso servindo-se mais cinicamente das investidas do trumpismo na região para contornar problemas internos, como a crise com a saída do ex-Secretário de Estado Gustavo Bebianno.

Fissuras no alto escalão do Planalto na questão venezuelana

O que unifica a ala "nacionalista-ideologica" no governo é a identificação entre a subordinação aos EUA e a submissão ao trumpismo. Conhecemos as diferenças entre os componentes militares no alto escalão, como Mourão e Heleno, além de personagens como Azevedo e Silva e Santos Cruz (o que impediria a noção de "ala militar"). Nos temas internacionais, entretanto, o que parece ter algum consenso entre os militares é aceitar a subordinação aos EUA (uma característica de Estado desde a Segunda Guerra Mundial) sem que isso signifique um alinhamento automático ao trumpismo.

Assim, a turma "olavista" do setor, formada por Araújo e seu fiador político, o filho de Bolsonaro e deputado federal Eduardo (PSL-SP), além do assessor internacional do presidente, Filipe Martins, tendem a ouvir como música os desejos de Trump.

Diferentemente agem os generais da reserva que ocupam a Esplanada dos Ministérios. O vice Hamilton Mourão já havia anunciado que "O Brasil não participa de intervenção. Não é da nossa política externa intervir nos assuntos internos de outros países". Depois que Faller deixou o país, Mourão deu entrevista à Bloomberg lembrando os "problemas orçamentários do Brasil e a dependência energética da Venezuela", em referência ao estado de Roraima, o único do país que não faz parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) e se tornou dependente do fornecimento do país vizinho.

O Exército se indispôs com Araújo ao ficar ciente de que um dos pontos assinados pelo chanceler no Grupo de Lima era "cortar relações militares com a Venezuela". Araújo viu o Itamaraty imediatamente sob tutela pelas Forças Armadas e, ato seguido, teve de se submeter à proposta de Mourão e Heleno na criação de um "conselho de ministros" em assuntos internacionais delicados (como a Venezuela, as relações com a China e com os países árabes). Nada de cortar cooperação militar com Caracas, fonte de informações de inteligência, nem abraçar a pressão trumpista por uso de tropas brasileiras ou, norte-americanas, na fronteira com a Venezuela.

Por ora, a ida de Mourão para a reunião do Grupo de Lima no dia 25, substituindo o protagonismo de Araújo na cúpula anterior, sugere que os militares seguem dando as cartas na questão venezuelana. A área de Defesa não quer ver a repetição de termos que considera inadequados em resoluções às quais não teve acesso, e a situação está mais grave do que em janeiro.

Repudiamos as provocações de Bolsonaro a mando de Trump

A sabujice capacha de Bolsonaro aos Estados Unidos deixa mais claro que nunca que não existe nada parecido com um "capitalismo esclarecido" na América Latina, como sugeriu o ex-assessor de Trump, Steve Bannon.

Repudiamos as provocações de Bolsonaro a serviço de Trump e sua intervenção imperialista na Venezuela. Contra o autoritarismo de Maduro, os Estados Unidos e a direita latino-americana não tem nada a oferecer aos trabalhadores e ao povo pobre da Venezuela.

Trump, Bolsonaro e a oposição de direita usam miseravelmente os grandes sofrimentos da população para avançar seu golpismo, apoderar-se do petróleo e dos recursos naturais, e converter a Venezuela num protetorado norte-americano. Esta cruzada foi facilitada pelo próprio Maduro, cuja política autoritária não fez mais que aumentar a catástrofe inclemente que se abate sobre os trabalhadores, gerando escassez de alimentos e uma hiperinflação de mais de 1.000.000%, enquanto paga a dívida externa fraudulenta aos especuladores capitalistas.

Os trabalhadores brasileiros não tem nenhum interesse no triunfo do golpe estadunidense, que fortaleceria a extrema direita no Brasil e incrementaria a força de Bolsonaro para aplicar seus ajustes neoliberais como a reforma da previdência. A classe trabalhadora é uma e sem fronteiras: os trabalhadores venezuelanos precisam de uma saída própria, independente tanto do imperialismo quanto de Maduro, uma luta cujo desenvolvimento seria um trunfo para os trabalhadores brasileiros em seu enfrentamento contra o capacho de Trump.




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