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GOLPE MILITAR 64 | Relatoria do MP Federal e do Trabalho conclui participação ativa da Volks na ditadura

Relatório apontado pelo Ministério Público Federal de São Paulo e Ministério Público do Trabalho conclui depois de 6 anos de trabalho de uma força tarefa que a montadora alemã Wolkswagen teve participação ativa nos anos em que o Brasil vivia sob um regime de ditadura civil-militar (1964-1985)

quarta-feira 31 de março de 2021 | Edição do dia

Foto: InfoMoney

O relatório foi produzido a partir do trabalho de dois pesquisadores externos: o cientista político Guaracy Mingardi, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), convidado pelos Ministérios Públicos, e o professor Christopher Kopper, da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, contratado pela própria Volkswagen.

Os investigadores concluíram que a participação da Volks no regime militar girou em torno de três eixos. O primeiro começa com engajamento no golpe: a montadora teria ajudado materialmente na implantação da Operação Bandeirante (Oban), que funcionou como o primeiro aparato repressor criado pelos militares, antecessor do famigerado e odioso DOI-CODI.

O segundo eixo foi a colaboração com os órgãos de repressão, com conhecimento da presidência da empresa. A segurança industrial da montadora e a polícia política do regime militar trabalharam juntos na troca de informações. Materiais considerados subversivos eram confiscados e trabalhadores tidos como suspeitos delatados, o que teria levado diversos empregados da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo à prisão sem que as famílias fossem comunicadas, já que os paradeiros eram ocultados pela empresa.

A Volks também teria condenado diversos empregados demitidos por suspeita de envolvimento em atividades políticas ao desemprego permanente. Isso porque seus nomes passaram a constar em espécies de ’listas sujas’ trocadas pela Volks com outras empresas.

Por fim, a Volks teria participado da repressão a organizações dos trabalhadores, sobretudo nas greves de 1978 a 1980. De acordo com o relatório, a montadora agiu para criminalizar lideranças sindicais, colaborando com a polícia política para reprimir o movimento. A empresa teria, por exemplo, infiltrado funcionários armados para as alas grevistas e desligado a rede de telefonia para impedir a comunicação entre os trabalhadores mobilizados.

"Essa cooperação foi muito além de mero suporte por simpatia política ou da defesa dos interesses comerciais da companhia. A empresa, por decisão de sua alta direção no Brasil e conivência da direção da matriz na Alemanha, se envolveu diretamente na perseguição política a opositores do regime ditatorial", diz um trecho do relatório final. "Está claro que a Volkswagen estabeleceu por disposição própria uma intensa relação de contribuição com os órgãos da repressão política, muito além dos limites da fábrica. A empresa demonstrou vontade de participar do sistema repressivo, sabendo que submetia seus funcionários a risco de prisões ilegais e tortura".

"Adotou-se a prática rotineira de delatar trabalhadores e trabalhadoras aos órgãos de polícia política, expondo-os conscientemente a prisões ilegais e tortura. Facilitou-se a realização de prisões ilegais nas dependências da companhia, assim como a perpetração de atos de tortura física e psíquica dentro de seus escritórios. O departamento de segurança institucional da empresa agia como um ’longa manus’ da polícia política, conduzindo interrogatórios, inquéritos e investigações, mesmo fora das dependências da empresa. A cumplicidade chegou ao ponto de a empresa participar intelectual e materialmente da criação de falsas versões sobre o paradeiro de trabalhadores, ludibriando as famílias, quando se sabia que os funcionários se encontravam presos e submetidos à tortura", informa ainda o documento.

A Volkswagen foi uma das empresas que ajudou a sustentar de perto a época sanguinária da ditadura militar no Brasil. Como ela, há muitas outras, pois a burguesia industrial foi parte crucial da sustentação do regime ditatorial brasileiro.

É preciso ir a fundo nas investigações de participações empresariais na ditadura, como parte da necessidade histórica de punir os torturadores e a grande burguesia que apoiou esse regime que assassinou centenas de trabalhadores, estudantes e indígenas.

Um bom documentário que explicita essa relação intrínseca da Volskwagen com a ditadura é "Cúmplices":




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