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ACIDENTES DE TRABALHO | Relato de um jovem trabalhador sobre sua experiência nas fábricas

Neste dia mundial de memória as vitimas de acidentes de trabalho, penso em todos os operários mortos e mutilados e é muito angustiante saber que neste momento se continua a morrer e a sofrer acidentes no mundo todo, nestas condições em que se limita a capacidade do ser humano e faz dele algo a ser consumido até não servir mais.

quinta-feira 28 de abril de 2016 | Edição do dia

No último ano a OIT calcula o número de 313 milhões de acidentes de trabalho e 2,3 milhões de mortes, são números que mostram a voracidade do capitalismo e da necessidade de travar uma luta contra a burguesia que sempre acumulou suas riquezas a custa de muito sangue da classe operária exposta a violência cotidiana do trabalho.

Minha experiência, já no processo de formação no SENAI a cada máquina que aprendíamos a operar era mostradas dezenas de fotos de acidentes, na guilhotina, na lixadeira, no oxi-corte etc., Eram fotos impactantes e mostravam o quão frágeis erramos frente às máquinas, que em segundos poderia nos deixar mutilados, para garantir a segurança era colocada a necessidade de utilizar os equipamentos de proteção individual e coletivo, e se negar a trabalhar em condições que colocasse em risco a nossa segurança, mas o cenário que íamos enfrentar no mercado de trabalho era muito pior.

Nas fábricas as condições de operação das máquinas era muito diferente o ritmo de produção, a pressão no trabalho, os equipamentos de proteção, era a ditadura da patronal os donos dos meios de produção, compram nossa força de trabalho, nervos e músculos, para extrair mais valia, a segurança entra na medida em que assegurava a continuidade dessa extração.

Sofri alguns acidentes no meu trabalho, dentro os mais graves relatos dois, quando eu estava começando a trabalhar ainda sem registro em carteira, numa serralheria, ali não se tinha preocupação com a segurança, era máquinas sem proteção, falta de itens básicos de seguranças, sem divisão entre os setores de produção, sofri um acidente que me deixou por dois dias com um tampão nos olhos, sofri queimadura nos olhos devido à exposição à radiação da solda MIG, tinha que terminar o serviço já na hora extra sem itens básicos de segurança sem uma noção dos riscos a que me expunha o que acarretou neste acidente; em outra empresa que fabricava máquinas para laticínios, estava soldando pelo processo TIG embaixo de uma máquina, quando ia sair me desequilibrei e a vareta de inox acabada de sair da poça de fusão ainda em brasa entrou por volta de dois centímetros no meu peito, isso depois de perfurar minha roupa e passar ao lado do aventar que utilizava que se mostrou inadequado.

Sempre escutei relatos e vi cicatrizes dos colegas principalmente de quem está há mais tempo, Um colega contava da cicatriz no peito, fazia a manutenção debaixo de um caminhão e utilizava uma lixadeira quando perdeu o controle e o disco cortou sua roupa e entrou em seu peito, causando um corte profundo, eram poucos que não tinha passado por acidentes de certa gravidade.

Outra forma de acidentes recorrente ocorria no deslocamento da casa para o local de trabalho, principalmente dos colegas que vinha de moto, uma vez um colega teve fratura na perna, em outro acidente um colega sofreu uma fratura na bacia e ficou de cama por semanas sem poder se locomover.

Esses acidentes sempre me sensibilizaram muito, por um lado mostrava a relação de trabalho, a escravidão assalariada, toda a pressão pela produção e por não errar, a pressão pelas horas extras e todo esse stress e o medo de ficar desempregado.
Muito vezes eram visto como um erro do colega ,mas, a culpa do acidente não pode ser de quem sofreu, é devido ao não treinamento, ao desvio de função, a condições fora dos padrões de segurança, a pressão pela hora extra, ou seja, as condições que levam a ter os números assustadores de acidentes de trabalho, de mortos, é este sistema que desumaniza e faz do trabalhador um número, nesta relação descartável na medida em que se pode ser substituído por outro.

Vejo que é necessária a atuação combativa dos cipeiros, se organizar no chão da fábrica, cobrar o sindicato, criar mecanismo de parar a produção em momentos de risco de acidentes, ou quando ocorrem acidentes, também buscar conhecimento dos riscos a que está sendo exposto, dos direitos e discutir com os colegas para terem uma compreensão da condição de trabalho e assim aumentar a solidariedade e poder realmente lutar por melhores condições de trabalho mas tendo consciência também que concretamente a segurança só pode ser conseguida quando não a relação de trabalho não for mais baseada na exploração dos trabalhadores pela burguesia parasita e assassina.




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