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MOVIMENTO OPERÁRIO | Rebelião operária paralisa as fábricas de Renault, Fiat e Ford na Turquia

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

sexta-feira 22 de maio de 2015 | 00:01

Os trabalhadores da fábrica Renault iniciaram o movimento grevístico na noite da quinta-feira, 14 de maio. Na quinta, 1500 trabalhadores do turno da manhã se negaram a entrar para trabalhar, concentrando-se nos portões da fábrica para protestar e apoiar seus companheiros. Nesse dia também se somaram os trabalhadores da FIAT (um Joint Venture entre a italiana FIAT e o conglomerado turco, Koc) e várias empresas montadoras como Çoskumöz.

O movimento rapidamente se espalhou e se transformou em uma grande greve regional, com vários milhares de trabalhadores parando as fábricas automotrizes de Bursa, no noroeste da Turquia.

Esta semana se somaram duas fábricas operadas pela Ford, em Kocaoi. Segundo informaram trabalhadores às agências de notícias, entraram de greve em solidariedade aos trabalhadores da Fiat e da Renault. A gerência da Ford informou que devido a uma falta de abastecimento, causada por estas greves, não se podia produzir.

Os trabalhadores exigem um aumento salarial e melhores condições de trabalho. O que desatou o conflito foi a notícia de que em uma empresa da região os trabalhadores haviam conseguido 60% de aumento.

Enquanto a Renault anunciou que suspendia sua produção por alguns dias, a empresa Çoskumöz disse que as demandas dos trabalhadores eram ilegais e que iniciarão ações legais contra a greve. FIAT-Tofas enviou a seus trabalhadores um SMS dizendo que a produção tinha parado até o próximo aviso.

A greve está sendo seguida por trabalhadores de outras empresas do setor automobilístico da cidade de Bursa, como Botan Troleborg Vibracoustic (TBVC), Dophi, SKT, Ototrim Automotive, Rollmech e Mako.

Um movimento anti-burocrático e anti-patronal

Entre os trabalhadores há muito descontentamento com as patronais e com os sindicatos majoritários do setor, que assinaram acordos desfavoráveis para os trabalhadores, em meio a um clima inflacionário. Segundo várias fontes, o mesmo sindicato que assinou um aumento de 60% em outra fábrica, aceitou um acordo muito pior na Renault.

O sindicato do Metal assinou um acordo para o período 2014-2017, com a associação patronal da indústria automotriz (MESS), faz oito meses. Mas os trabalhadores exigem agora uma melhora em suas condições de trabalho e nos salários.

Por isso os trabalhadores gritam consignas contra as patronais e o sindicato do Metal, (Türk Metal), ao qual muitos trabalhadores haviam renunciado.

A luta dos trabalhadores das automotrizes remonta ao ano de 2012, quando milhares de operários da fábrica alemã Bosch renunciaram a seu sindicato, o Türk Metal, denunciando que os sindicatos estavam falhando na defesa dos interesses dos trabalhadores, já que negociavam a favor das patronais. Os protestos que se seguiram levaram a que emergisse uma nova organização entre trabalhadores de diferentes fábricas automotrizes.

Em abril deste ano, os trabalhadores de várias fábricas automotrizes realizaram uma manifestação em Bursa e publicaram um comunicado com suas demandas:

“-Nosso acordo deve ser renegociado em base ao acordo da fábrica Bosch
Os trabalhadores devem ter o direito de eleger a seus próprios representantes em um processo democrático
Queremos a segurança de que se renunciamos ao Sindicato turco do Metal não seremos demitidos de nossas empresas
O Turk Metal deve deixar as fábricas imediatamente”.

Depois disto iniciaram uma desfiliação coletiva do sindicato Türk Metal. No dia 5 de maio começaram as desfiliações e neste mesmo dia receberam agressões com paus por parte da burocracia. Também foram agredidos alguns jornalistas.

Em meio a esta situação, na Renault aconteceram demissões, mas os trabalhadores se colocaram na porta, e conseguiram que fossem readmitidos.
Desde que começou o movimento, faz uma semana, mais de 7000 trabalhadores se desfiliaram do sindicato Türk Metal, segundo fontes locais.

Sindicatos pró-patronais e baixa sindicalização

Os sindicatos estão muito desprestigiados na Turquia, por suas políticas pró-patronais e pró-governamentais. Isto levou a que nos últimos anos descesse de forma considerável a taxa de sindicalização.

Segundo estatísticas da OCDE, a Turquia é o país com a taxa de sindicalização mais baixa da OCDE, com 5,3% de sindicalização. Enquanto que a média da OCDE para o mesmo ano, 2012, era de 17,1%.

Erhan Imrali, um trabalhador da Renault, declarou para jornalistas que a empresa não oferece um aumento de salário suficiente há um longo tempo, enquanto que a inflação aumenta. “Nós reagimos frente a isso, mas o sindicato falhou em manifestar isto para a empresa… Tudo o que queremos é ter as mesmas condições que os trabalhadores da empresa que conseguiram um aumento de salário, mas a direção do sindicato não nos escutou”.

O Sindicato de trabalhadores unidos da indústria do Metal (Birleşik Metal-İş) que é parte da Confederação de sindicatos progressistas (DISK), emitiu um comunicado na sexta-feira, com as demandas dos trabalhadores, que incluem o aumento de salários, condições de segurança no trabalho, reconhecimento dos representantes elegidos pelos trabalhadores.

O Sindicato das patronais do Metal (MESS) e a Confederação turca de empresários, (TİSK), chamaram os trabalhadores a finalizar com suas medidas de luta.

A baixa sindicalização é expressão de um descontentamento muito grande com a burocracia sindical mafiosa que controla os sindicatos, mas por sua vez expõe os trabalhadores a todo tipo de abusos por parte das empresas. Algo que com esta greve, no entanto, os trabalhadores estão enfrentando. Segundo fontes de organizações de esquerda, os trabalhadores estão começando a organizar-se em uma coordenadora de fábricas, de forma independente da burocracia.

Piquetes, manifestações e solidariedade operária e popular

Desde quinta-feira (14) passada os trabalhadores estão protestando em frente às portas das fábricas, acompanhados por familiares e grupos solidários. Alguns trabalhadores ficam durante as noites em acampamentos improvisados ao lado dos portões.

Em muitos vídeos pode ver-se os trabalhadores de um turno e outro saudarem-se com cantos e darem-se ânimo de lados opostos no portões de entrada, nos dias de começo da greve.

Assim podia ver-se a força com que começava a greve na FIAT, onde os trabalhadores respondem com cantos desde fora e de dentro:

Em todas as fábricas o apoio dos familiares e outros trabalhadores vem sendo muito importante para sustentar a greve:

O segredo do setor automobilístico turco

Bursa é a quarta maior cidade da Turquia e o centro do conglomerado automobilístico do país. O setor automobilístico turco cresceu durante os últimos anos devido a seus custos trabalhistas mais baixos que no resto da Europa. O posicionamento estratégico da Turquia, entre a Europa e a Ásia, é muito benéfico para as grandes multinacionais. As principais automotrizes instaladas na Turquia são Renault, FIAT, Toyota, Ford e Hyundai.

A Renault é gerenciada por um Joint Venture com o fundo de pensões do exército da Turquia, Oeak, e produz uns 318.000 automóveis por ano. A empresa FIAT-Tofas produz aproximadamente 240.000 unidades anualmente. A FIAT-Tofas está investindo milhões para a produção da nova “família” de automóveis compactos que substituirão o FIAT Bravo na Europa. As fábricas turcas vêm juntando linhas como a Doblô e a Fiorino para a FIAT, o Citroën Nemo, Peugeot Bipper e o Opo/Vauxhall Combo.

A Turquia produziu mais de 1.25 milhões de veículos no ano de 2014, transformando-se no quinto maior produtor de automóveis europeu. A produção e a comercialização de automóveis representa 14% das exportações da Turquia. 70% das quais se dirige a outros mercados europeus.

A greve que está comovendo a Turquia chega algumas poucas semanas antes das eleições de 7 de junho.




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