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UNESP BAURU | Racismo na UNESP de Bauru

Pichações racistas feitas num dos banheiros da Unesp de Bauru são expressão de que o racismo é um elemento estrutural do atual projeto elitista de universidade levado à frente pela reitoria e Governo do Estado. A repressão aos lutadores que travaram a luta pelas Cotas em 2013 derrubando o PIMESP (Alternativa racista do PSDB às Cotas), bem como a situação das trabalhadoras terceirizadas da Unesp (em geral mulheres e negras) são outras faces da mesma questão.

quarta-feira 5 de agosto de 2015 | 02:13

Na ultima sexta-feira (24) foram encontradas pichações racistas num dos banheiros da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da UNESP-Bauru, que faziam referencia ao professor de jornalismo Juarez Tadeu, 55, que é coordenador do Núcleo Negro para Pesquisa e Extensão (Nupe). As pichações atacavam também os estudantes negros e negras que vêm adentrando a Unesp por conta da política de cotas. As frases racistas diziam: “Unesp cheia de macacos fedidos”, “Negras fedem” e “Juarez Macaco”.

Diante do fato, nesta última quinta (29), a Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp soltou uma nota se posicionando contrária às pichações e informando a abertura de uma Comissão Investigativa Preliminar para apurar o caso. Mesmo dizendo na nota que “repudia as pichações racistas, considerando-as um ato contra o Estado Democrático de Direito”, será mesmo que a UNESP se propõe a combater o racismo de maneira consequente e efetiva dentro da universidade? Ou será que o racismo já é um elemento estrutural da própria universidade?

A Derrubada do PIMESP: Uma vitória da Greve de 2013

A greve de 2013 foi um marco na história das lutas na Unesp por diversos motivos: Foram 3 meses de luta que atravessaram o conjunto de manifestações conhecidas como “Jornadas de Junho”. Entre estudantes, trabalhadores e professores 14 dos 24 campi entraram em greve. O movimento estudantil com sua organização de base e métodos de luta - 2 ocupações da REItoria, ocupações de direções e salas em diversos campi, cortes de rodovia etc.- deu a linha do movimento estadual e conquistou pautas importantes ligadas à permanência, extensão (cursinhos) etc. Dentre elas, uma das pautas mais centrais era justamente pela derrubada do PIMESP (Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior). E junto com os demais setores e diversos apoios democráticos vindos de todo país, derrubamos o pior do programa.

Em linhas gerais o PIMESP adiaria as cotas imediatas na universidade, fazendo com que os estudantes oriundos da escola pública e dentre eles os “PPI´s” (Pretos, Pardos e Indígenas) tivessem de passar por um curso de 2 anos à distância - os chamados “colleges” - para que apenas depois tivessem acesso às cotas nas Universidades Estaduais Paulistas. E esse acesso só se daria para os que obtivessem um rendimento de no mínimo 70% nesses dois anos de curso, que possuía matérias como “Serviços e Administração do Tempo”, “Profissionalização, Inovação e Empreendedorismo” e “Liderança e trabalho em Equipe”.

A Conquista das Cotas

Com a derrubada do PIMESP, desde 2014 foi implementado um sistema de cotas que visa destinar 50% das vagas para estudantes que cursaram todo o ensino médio em escolas publicas, sendo 35% desse percentual destinado especificamente para Negros e Indígenas. Mas, no entanto, da maneira como a grande mídia e a própria Unesp divulgam, parece que isso já está ocorrendo efetivamente desde 2014, o que não é verdade. Essas cotas têm um plano de 5 anos para serem implementadas: 15% em 2014, 25% nesse 2015, 35% em 2016, 45% em 2017, 50% em 2018. Ou seja, para sabermos a porcentagem de vagas especificamente para Negros e Indígenas temos que tirar 35% da porcentagem de cada ano.

Repressão à quem lutou pelas Cotas: Uma prova do Caráter Racista Estrutural da Universidade

A repressão aos estudantes que travaram a luta de 2013 foi brutal: reintegração de posse à segunda ocupação da reitoria, prisões e em seguida sindicâncias que resultaram suspensões de 60 dias para 95 estudantes que participaram dessa luta. Essa repressão continuou em 2014 com 17 expulsões à estudantes de Araraquara que lutavam por moradia estudantil. Tudo baseado no regime disciplinar da ditadura militar - letra “muita viva” na universidade – que puniu os estudantes por se “organizarem politicamente”, “ferir a boa moral” e “os bons costumes”.
Em outras palavras, a repressão aos que lutam e lutaram contra o PIMESP, por políticas de permanência estudantil para os mais pobres, ou seja, que lutaram contra o elitismo e o racismo existentes no atual projeto de universidade defendido pela reitoria e o governo do Estado é uma prova de que o racismo é um elemento estrutural desse projeto.

Terceirização e Racismo: Mais uma prova do Racismo Estrutural.

Em entrevista à Folha de São Paulo, o professor Juarez disse sobre o que o que mais lhe impactou nesse ataque racista foi: “A reação de minha filha e de uma faxineira da Unesp, uma mulher negra que teve de limpar as pichações. É triste ver uma senhora numa condição subalterna “limpando uma ofensa à ela no banheiro”. Aqui cabe pensar que combater consequentemente o racismo dentro da universidade deve passar necessariamente também pela luta contra a terceirização do trabalho, que super-explora e atinge principalmente as mulheres negras.

Há pouco tempo atrás nessa mesma Unesp-Bauru as trabalhadoras tiveram seus salários atrasados e a universidade como sempre lavou as mãos. Na Unesp de Assis ocorreu o mesmo com as terceirizadas da limpeza e vigilância, que resolveram parar o trabalho até que fosse acertado o pagamento e os direitos. Todas foram demitidas pela empresa como medida repressiva da empresa - novamente a instituição nada fez. Na Unesp de Marília, nessas últimas semanas o Pão e Rosas veio impulsionando uma forte campanha democrática contra o risco de demissões das trabalhadoras que já haviamassinado aviso prévio, denunciando também as condições de trabalho e os assédios que estas sofrem cotidianamente.

Vale ressaltar que as altas cargas de trabalho, os baixos salários, os atrasos destes e os assédios cotidianos (onde entra o racismo e o machismo se tornam eficientes mecanismos à serviço da exploração) não são meras coincidências, mas sim políticas conscientes dessas empresas em parceria com a universidade. Logo, combater o racismo passa necessariamente pelo combate à terceirização, ou seja, para que todas sejam efetivadas imediatamente sem necessidade de concurso. A terceirização é mais um grande exemplo de como o racismo é constitutivo do atual projeto de Universidade




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