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TRIBUNA ABERTA | RELATO: Academias militares, sua homofobia e seu machismo institucional

Guilherme Hamilton dos Santos SilvaEstudante de Historia UERJ

sexta-feira 23 de dezembro de 2016 | Edição do dia

Com a exposição do caso de Thales, e a repercussão que se tomou adiante das discussões, vemos uma realidade escondida por anos o preconceito e opressão das forças armadas. Essa não é uma exclusividade do ITA e seus futuros oficiais, esta é uma característica de todo e qualquer regime militar, como sabemos em 2015 o exército escreveu em nota oficial que é contra a criminalização da homofobia, vimos como o assunto foi recebido em um grupo de WhatsApp de cadetes, com ameaças de agressão, discursos de ódio e apoio as atitudes homofóbicas de Bolsonaro o militarismo conservador mostrou a que veio e a quem atende. Por isso dividirei minha experiência do que vi e passei durante 4 anos de exército brasileiro, lembro que minha orientação sexual atual é hétero, mas devido a postura e algumas práticas sempre fui caracterizado do que eles chamam de "afeminados".

Aos 18 anos ingressei nas fileiras do exército brasileiro pelo regime de alistamento obrigatório, em um batalhão de engenharia. Minha formação de eletricista era interessante a eles, já na seleção pude ver os discursos e práticas machistas e homofóbicas dá instituição, cabelos grande era motivo de chacota, qualquer semelhança física que lembrasse características ferminas (olhos, bocas ou bunda) eram expostas e ridicularizadas. Após o meu ingresso, qualquer prática minha que não se enquadrasse nas de um bom soldado, como futebol no TFM (treinamento físico militar), frequentar prostíbulos ou sair para beber cerveja, me rendia apelidos como Hamiltinho ou Hamiltola (ligados ao meu nome de guerra Hamilton Silva).

A minha possível homossexualidade sempre foi discussão na Cia, e isso anulava o meu profissionalismo, mas existiram casos mais "graves" com agressões mais sérias, lembro de um soldado que tinha sua sexualidade assumida, chamarei ele de D.C., ele era motivo de chacotas, sempre deixavam de lado sua capacidade profissional para fazerem seus julgamentos preconceituosos, lembro que D.C. sempre esteve com sua farda, corte de cabelo e botas impecáveis, sempre elogiado na parada diária (inspeção para serviço) e possuía uma medalha de praça mais distinta de seu ano (competição âmbito batalhão), então tínhamos o melhor soldado atendendo a todas as regras do RISG (Regimento Interno de Serviços Gerais), com aptidão física excelente (três testes físicos anuais) e habilitado a manutenção e manejo de diversos armamentos. Mas no fim sempre sendo inferiorizado por sua orientação sexual, e não venha com o discurso de a regra é essa, pois não é e é aqui que entra a hipocrisia dos militares, D.C. era um exemplo a ser seguido mas por puro preconceito tornaram ele um vilão, e começaram as perseguições o perfil dele no Orkut foi "descoberto" e rapidamente as fotos viralizaram pela intranet (rede interna) do batalhão.

D.C. não se escondia, ele era quem era dentro e fora do batalhão, divertido, sorridente, educado e um profissional dedicado, mas sua orientação sexual tornou-se "publica" e agora devia responder por um "crime" que não cometeu. D.C. sumiu durante um tempo e após retornar para resolver questões administrativas foi preso, depois de cumprir sua pena virou desertor, e o exército perdeu mais um excedente soldado. Das hipocrisias que passei e assistir a maior é a de que um homossexual não é um bom militar, mentira tivemos oficiais e praças exemplares nas fileiras.

Estive em uma "missão de paz" no Haiti por 6 meses em 2010, pelo batalhão de engenharia como eletricista, e lá alguns se sentiram confortáveis para se aproximar de mim e abrir sua privacidade, então tinha capitão atleta que era gay, médicos gay e até subtenentes gays que não podiam "oficializar" sua escolha pois estavam em um ambiente onde usar creme poderia lhe tirar uma promoção.

Então reforço que todo e qualquer regime militar é ultra machista, conservador e homofóbico seja ele marinha, aeronáutica, exercito, as práticas de perduram e repetem a cada formação de oficiais e praças anualmente, devemos sim mudar a forma de educação e formações desses militares, que hoje deveriam atender uma sociedade plural.




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