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Denúncia | “Queremos justiça!” diz aluno da moradia da UFF em repúdio ao assédio sofrido por trabalhadoras terceirizadas

Os estudantes e moradores da Moradia Estudantil da UFF vêm se colocando ao lado das trabalhadoras terceirizadas assediadas por um aluno da universidade. O relato abaixo é parte de uma série de denúncias feitas por um estudante da moradia estudantil da UFF que escancara a indignação dos estudantes com o caso sofrido pelas trabalhadoras e pela demora dos órgãos da Reitoria em tomar uma providência. O DCE vem se negando a travar essa batalha e não esteve na audiência ocorrida no dia de ontem (29/09).

Faísca - UFF@faiscajuventude

quinta-feira 30 de setembro de 2021 | Edição do dia

Duas trabalhadoras da UFF que foram assediadas na moradia estudantil estão recebendo apoio dos estudantes e moradores da Moradia Estudantil da UFF na tentativa de afastar o acusado para que a sindicância continue sem constrangimentos para as trabalhadoras terceirizadas que estão tendo que trabalhar dia-a-dia na presença de seus agressores. Os trechos relatados abaixo são parte de uma série de denúncias feitas por um estudante da Moradia Estudantil UFF:

“Desde março de 2021, nós residentes da moradia estudantil estamos lutando para que o residente que é aluno que cometeu o crime de importunação sexual contra duas trabalhadoras terceirizadas, responda pelos atos por ele cometido.

As duas funcionárias, por medo de perderem seus empregos, suportaram esta importunação por vários meses. Quando alguns estudantes tomaram ciência do caso, levaram o assunto a coordenação juntamente com um abaixo assinado pedindo que o mesmo fosse retirado preventivamente da moradia, pois sua permanência poderia oferecer risco a residentes e funcionários, sendo que o agressor tentou intimidar e agredir fisicamente algumas pessoas que se colocaram a frente para denunciar.

Depois de 6 meses nesta luta, houve a primeira audiência do processo de sindicância, o agressor continua a viver entre nós, sempre debochando e nos provocando. Ouvimos relatos de ameaças, intimidação, ofensas, em determinado momento por exemplo, invadiu um dos apartamentos dos residentes e começou a intimidá-lo, ao se ver encurralado pelo agressor dentro do próprio quarto, a única solução que este residente encontrou de se proteger do agressor foi pedir ajuda através do grupo de whatsapp do conselho de moradores, foi quando outros residentes foram imediatamente ajudar e filmaram o ocorrido.”

Estes três parágrafos mostram como o incômodo da convivência por 6 meses com o agressor não se restringia somente às trabalhadoras, como também às estudantes que já foram vítimas de casos semelhantes e aos estudantes que buscaram apoiar o afastamento do acusado e são intimidados pelo mesmo. Fica claro pelo comportamento descrito de deboches, provocações, intimidações e ameaças que o agressor não demonstra nenhum arrependimento pelos atos que cometeu e os traumas que gerou em trabalhadoras e estudantes da UFF.

O relato também deixa claro a demora em agir da universidade que soube do caso há pelo menos 6 meses e só começou a tomar ações no momento em que os estudantes pressionaram os órgãos da Reitoria. Apesar de não terem acatado a retirada preventiva da moradia, prevista no Regimento da Moradia Estudantil e aprovada unanimemente pelos estudantes em assembleia democrática, foi só pela batalha dos estudantes que a própria sindicância foi aberta.

Desde março de 2021, nós residentes da moradia estudantil estamos lutando para que o residente que é aluno que cometeu o crime de importunação sexual contra duas trabalhadoras terceirizadas, responda pelos atos por ele cometido.

Estudantes marcaram presença na Reitoria ontem para apoiar as trabalhadoras durante a audiência

“As duas trabalhadoras são mulheres negras, mães solteiras, e têm uma excelente convivência dentro do espaço da moradia, os residentes em geral tem uma relação amistosa com elas. Quando o agressor descobriu que havia sido acusado pelos atos por ele cometido, e descobriu que era referente às duas funcionárias, foi sem o conhecimento da coordenação ou dos demais residentes, procurar o supervisor das mesmas e juntamente com ele, constrangeram as meninas na frente de outras pessoas na sala de convivência da moradia estudantil, que foi quando o caso passou a ganhar maiores proporções dado a grande audácia e covardia do indivíduo em questão, que quis vingar-se por ter sido denunciado.

As funcionárias relatam que se sentem constrangidas e envergonhadas, por terem de se justificar, falar sobre o caso na frente de homens, ter que reviver estas situações tantas vezes, que elas querem esquecer e somente garantir seus empregos, contudo sentem medo do agressor, e se sente desconfortável quando acontece de estarem sozinhos no mesmo ambiente. “

No trecho acima, fica claro como a terceirização significa a precarização dos postos de trabalho para todos os trabalhadores, principalmente as mulheres negras que são maioria nos cargos terceirizados da Universidade. As trabalhadoras, antes de tudo, sentiam medo de perderem seus empregos se levassem o caso aos seus supervisores, o que só foi levado a frente com o incentivo dos estudantes. A terceirização para essas mulheres significa o medo constante do desemprego pela instabilidade desses postos de trabalho num nível onde as trabalhadoras não se sentem confortáveis para relatar um caso de assédio sofrido durante o horário de trabalho. A grande quantidade de terceirizados demitidos pela Reitoria antes e durante a pandemia com certeza não foi um incentivo às trabalhadoras terceirizadas para que denunciem casos de assédio sofridos por elas dentro da Universidade, com medo da represália.

Além disso, uma grave denúncia de que o acusado de assédio, quando soube da acusação, procurou o supervisor das trabalhadoras para tentar trocá-las de trabalho alegando constrangimento na presença delas. O comportamento de buscar afastar trabalhadoras que estavam levando denúncias de assédio a frente, indignou os moradores da Moradia Estudantil que deram ainda mais apoio às trabalhadoras.

Outro problema que ficou claro durante o início dos depoimentos da Sindicância no dia de ontem foi a comissão presente para analisar o caso. As trabalhadoras tiveram que além de depor na frente de seu agressor, expor os assédios sofridos para uma comissão formada somente por homens, fato que certamente as constrangeu. Os estudantes conseguiram impor a entrada de uma aluna na sala para que as trabalhadoras pudessem falar na presença de, pelo menos, uma mulher. Para as trabalhadoras e estudantes da UFF, o constrangimento absurdo e o medo gerado por terem que ver seu agressor todos os dias, ao que parece, continuará até pelo menos o fim da sindicância.

Cartazes contra a terceirização foram produzidos pelos estudantes no dia de ontem

“Como residentes nos sentimos impotente e de mão amarradas, de ter de esperar tanto tempo para que alguma ação concreta seja tomada, de ter de suportar diariamente o agressor rir de nossa cara e nos provocar, de falar para os funcionários que ele é universitário e para ele não há risco de proibir servidores da UFF de entrar na moradia.

Ansiamos para que ele responda pelas agressões que cometeu, e para que neste tipo de situação a resposta da UFF possa ser mais eficaz, são seis meses de impunidade e provocação. Precisamos nos unir e fazer com que os clamores por justiça possam ser ouvidos, para que possamos nos sentir seguros no local onde trabalhamos e moramos. Queremos justiça!”

Por parte dos residentes, apesar de terem incentivado as trabalhadoras e estejam lutando lado a lado delas, resta o sentimento de impotência de ter que escutar provocações dia após dia. Além disso, o relato aponta que o acusado se utilizava da posição de estudante para menosprezar e impedir a livre-circulação das trabalhadoras. Se misturam os sentimentos de por um lado indignação com a demora que os órgãos da Reitoria tiveram para agir e pela maneira como estão conduzindo a sindicância (como, por exemplo, a necessidade das trabalhadoras de darem suas versões sobre os assédios na frente do agressor) e por outro lado um desejo de justiça para que tanto o conjunto dos estudantes quanto às trabalhadoras possam se sentir seguros na Moradia Estudantil.

Precisamos nos unir e fazer com que os clamores por justiça possam ser ouvidos, para que possamos nos sentir seguros no local onde trabalhamos e moramos. Queremos justiça!

Caso essa sindicância não surta efeito, e não devemos confiar que sim, fazemos um chamado para todas as correntes do movimento estudantil se engajarem em uma campanha democrática ampla de toda a comunidade universitária para que as vozes das trabalhadoras terceirizadas sejam ouvidas. Afinal, essa é a mesma reitoria que demitiu terceirizados durante a pandemia se orgulhando de ter cortado gastos, além de ser a reitoria que não presta nenhum apoio a Vanessa Rodrigues, a estudante da UFF que foi vítima de estupro por parte de um professor da própria Universidade, sem contar o fato de, como dito acima, deixar terceirizadas trabalhando por mais de 6 meses na presença de seu violentador sem tomar nenhum tipo de providência. Essa batalha deve ser parte da luta pelo fim da terceirização, pela efetivação dos trabalhadores terceirizados sem necessidade de prestar concurso. Igual trabalho, igual salário.

Quer denunciar algum ocorrido na Moradia Estudantil da UFF? Mande seu relato com anonimato garantido para +55 11 97750-9596

Veja mais: Estudantes prestam apoio às trabalhadoras terceirizadas na UFF.




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