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DECLARAÇÃO PÃO E ROSAS | Querem usar o movimento de mulheres para encobrir a conciliação do PT com golpistas, e não pra enfrentar a extrema-direita

Pão e Rosas@Pao_e_Rosas

terça-feira 25 de setembro de 2018 | Edição do dia

Alckmin adere ao movimento #EleNão. Manuela D’Ávila anuncia "#EleNão #HaddadSim". Organizadoras da manifestação propõem que a escravista Ana Amélia e a amiga do agronegócio Kátia Abreu possam encerrar o ato com todas as presidenciáveis e vices transformando o ato em palanque eleitoral. Querem usar nosso ódio à extrema-direita para encobrir a conciliação do PT com os golpistas e capitalistas. Essa conciliação só servirá pra manter 28 milhões de desempregados no país, fazer a reforma da previdência, o que atingirá duplamente as mulheres e deixar o direito ao aborto de lado, como o PT já fez em seus 13 anos de governo por alianças do mesmo tipo.

Que Rachel Sherazade aderisse a este movimento já era sinal de que "algo não ia bem" - ainda que o site Jornalistas Livres comemore sua entrada e defenda "sororidade" com ela - mas agora a hashtag #EleNão está estampando as propagandas eleitorais de Geraldo Alckmin. No último domingo, em reunião de organizadoras da manifestação, o PT e o PSOL defenderam que todas as presidenciáveis e vices façam o encerramento do ato se estiverem presentes. Nós do Pão e Rosas rechaçamos essa política que serve apenas pra encobrir uma conciliação com golpistas tão escravistas quanto Bolsonaro. As mulheres negras que sofrem todos os dias devem se submeter a um ato com encerramento de Ana Amélia e seu chicote? As mulheres indígenas e trabalhadoras do campo devem se submeter a um ato com encerramento de Kátia Abreu, a motosserra de ouro, vice de Ciro Gomes? Subirá no mesmo palanque Sonia Guajajara com Kátia Abreu inimiga da demarcação de terra dos indígenas? As mulheres trabalhadoras tem que aceitar Marina Silva financiada pelo Itaú e apoiadora do golpe institucional falar em nome das mulheres? E, ainda que não igualemos o PT e PCdoB com os partidos burgueses, temos que aceitar que Manuela D’Avila que é parte dessa busca de conciliar com os golpistas mais escravistas do país encerre o ato pra dizer #HaddadSim?

Afinal, se fosse um ato "das mulheres" por que a maioria a falar serão as representantes de partidos burgueses e de conciliação de classes? É preciso discutir estratégia no movimento de mulheres!

O que estamos vendo é que nas últimas semanas, com inspiração no movimento internacional de mulheres que se levanta em todo o mundo, grupos de mulheres no Brasil pelas redes sociais organizaram um grupo que chegou a mais de 2 milhões de mulheres protestando contra Jair Bolsonaro, um fiel representante da extrema-direita no país que hoje conta com 28% das intenções de votos. Como chegamos a essa situação de fortalecimento da extrema-direita?

Sem nunca ter apoiado o PT, nós do Pão e Rosas lutamos contra o golpe institucional em 2016, contra a prisão arbitrária de Lula, contra o veto à candidatura de Lula, contra a Lava-Jato e o autoritarismo judiciário nessas eleições manipuladas e contra todos os ataques e reformas do governo golpista de Temer, sempre mostramos que foi o próprio PT que ao governar com a direita abriu espaço ao golpe institucional, ao autoritarismo judiciário e o que permitiu inclusive esse fortalecimento da extrema-direita.

Bolsonaro não caiu do céu. Por isso temos autoridade pra denunciar toda a política petista que, neste momento, busca um pacto nacional com golpistas de todo o tipo em nome de supostamente "enfrentar a extrema-direita". Acenando aos mercados financeiros, deixando claro que vai fazer reformas como a da previdência, anunciando que em seu governo haverá espaço para o PSDB, tranquilizando os empresários de que não vai se opor à venda da Embraer, Fernando Haddad começa a se colocar como "governável" aceitando administrar um regime golpista que estará condicionado à voz dos generais e a essa base bolsonarista que quer escravizar o conjunto da classe trabalhadora e atacar ainda mais as mulheres.

Portanto, setores do movimento #EleNão buscam conduzir a força e a luta das mulheres para dizer #HaddadSim e aceitar toda sua conciliação com golpistas como Alckmin e Ana Amélia em nome de ser um "mal menor" contra a extrema-direita. Também fica claro que o próprio Alckmin busca cooptar o movimento como já se expressou em seu programa eleitoral onde ele e Ana Amélia usam a hashtag #EleNão e o ódio das mulheres contra Bolsonaro para tentar ressuscitar sua candidatura golpista e escravista.

Chega a ser ridículo mas querem nos fazer acreditar, depois de o PT ter impedido qualquer tipo de luta real através dos sindicatos que controla com a CUT contra o golpe institucional ou a prisão de Lula, que o PT "vai enfrentar a extrema-direita". Não. O fortalecimento da extrema-direita seguirá existindo mesmo num eventual governo Haddad. A questão é que temos que ter clareza que a extrema-direita que defende a ditadura militar não se enfrenta no voto. E menos ainda com votos em um suposto "mal menor" que já está dando todos os sinais de que quer governar com apoio do golpistas reacionários do "centrão" que fizeram parte dos governos passados do PT, e talvez até mesmo com o golpista PSDB. Com essa pré-disposição a pactuar com os golpistas e o mercado financeiro, o PT já começa a deixar claro que estará de joelhos para os juízes, os militares e para a extrema-direita fazendo os tão necessários ajustes contra a classe trabalhadora pra manter os lucros dos capitalistas. O acordo com golpistas que Fernando Haddad quer fazer é com gente tão escravista quanto Bolsonaro: ou esquecemos que Alckmin reprime qualquer greve que vê pela frente, incluindo as greves das professoras do estado de São Paulo e que Ana Amélia defendeu o chicote como método de repressão no Rio Grande do Sul?

O justo sentimento de ódio contra Jair Bolsonaro pode ser transformado em nada por todos estes setores que querem somente nosso voto para conciliar com golpistas, capitalistas e reacionários de todo tipo. Por isso nosso ódio contra Jair Bolsonaro precisa ser um ódio de classe. E se é um ódio de classe, nossos aliados são os trabalhadores, a juventude, as mulheres, os negros explorados e oprimidos, não os golpistas e capitalistas que nos oprimem, nos exploram e nos atacam Repudiemos essa tentativa de transformar em aliados aqueles que são parte dos ataques mais profundos conta a classe trabalhadora e as mulheres. Por isso nós do Pão e Rosas lutamos contra a extrema-direita e Bolsonaro mas apostando na mobilização independente dos sindicatos e movimentos sociais. Para que se expresse verdadeiramente o movimento de mulheres internacional no dia 29 nós demos uma batalha pra que o microfone seja aberto, sem palanque eleitoral, nenhum espaço para as candidatas da burguesia e para as candidatas da conciliação com golpistas e capitalistas, que possam falar as mulheres trabalhadoras e jovens que são as mais afetadas pela crise que querem descarregar em nossas costas.

Essa proposta foi rechaçada e PT e PSOL - de forma escandalosa - defenderam fortemente que representantes da burguesia e do golpe institucional falassem no ato. Nós achamos que deveriam falar no carro de som as organizações políticas e movimento de mulheres que defendem a legalização do aborto, e que denunciam que Jair Bolsonaro irá tornar crime o aborto incluindo as três causas hoje legalizadas (estupro, risco de vida para a mãe e fetos anencéfalos). Mas também denunciamos o fato de o PT ter governado durante 13 anos e rifado nosso direito ao aborto para as cúpulas das Igrejas, mantendo a morte de milhares de mulheres por abortos clandestinos.

Chamamos as mulheres que querem seguir a batalha contra este golpe institucional, que o PT já deu inúmeras mostras de que não vai fazer, a exigir dos sindicatos e dos movimentos de mulheres a luta por uma proposta de emergência: uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que comece debatendo o não pagamento da dívida pública contra todas essas candidatas que manterão o pagamento da dívida pra descarregar a crise conta nós, que debata a igualdade salarial entre homens e mulheres entre negros e brancos e a efetivação de todos os terceirizados sem concurso público, que debata a estatização de todas as empresas privatizadas sob controle operário e popular como a Petrobrás, que debata uma reforma agrária radical e a demarcação das terras indígenas, que debata a revogação de todas as reformas do governo golpista de Temer e dos governos anteriores, que debata o direito ao aborto legal seguro e gratuito em nosso país com um sistema de saúde único 100% estatal e sob controle dos trabalhadores. No capitalismo não existe mal menor para as mulheres, por isso batalhamos por essa Assembleia Constituinte para impor a vontade da maioria explorada e oprimida do país contra a minoria de parasitas que usa as instituições existentes para pactua contra nossos interesses, na perspectiva de um governo de trabalhadores que exproprie os grandes capitalistas e socialize os meios de produção a serviço das grandes maiorias.

Nós já vimos o neoliberalismo cooptar o movimento de mulheres pra fazer um suposto "capitalismo feminista", que existe só no discurso poque na prática continuamos sendo dupla ou triplamente exploradas e oprimidas. Não deixemos que roubem nossa energia e nosso ódio contra Bolsonaro pra conciliar com golpistas e capitalistas tão escravistas quanto ele. Com a atual do golpismo institucional encarnada nos juízes, e apoiada pelos militares e a extrema-direita, em meio à crise econômica internacional que vivemos, não existe nenhuma condição de retornar ao período de crescimento econômico e concessões precárias que marcou o lulismo. Num eventual governo Haddad, vamos enfrentar um estelionato eleitoral ainda muito mais grave do que no segundo mandato de Dilma. A conciliação estará a serviço de manter e aumentar os 28 milhões de pessoas sem emprego no país e fazer a reforma da previdência. Por isso, a nossa tarefa é se preparar para a situação política que virá depois das eleições e não se permitir ser usadas como massa de manobra para um suposto "mal menor" que nos desarma e terminará se voltando contra nós. Ato pelos nossos direitos, contra o machismo, a extrema-direita e para apostar na mobilização independente da classe trabalhadora, das mulheres, dos negros e da juventude sim! Mas se vão fazer um ato para tentar usar o movimento de mulheres para encobrir a conciliação do PT com golpistas e capitalistas temos que dizer não a essa política!

Nossa luta é pra que sejam os capitalistas que paguem pela crise!




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