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FICHA CORRIDA PRIVATISTA | Quem é Delcídio Amaral, líder do PT no senado preso em flagrante?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quarta-feira 25 de novembro de 2015 | 13:54

Tentando minimizar o dano de ter o líder de seu partido preso em flagrante por corrupção e obstrução de justiça parte da blogsfera petista diz que finalmente um “tucano” foi preso. Esta é manchete do “Conversa Afiada”. Como diz o ditado “filho feio não tem dono”. Porém este filho das classes dominantes que passou do PSDB ao PT sem nunca perder seu DNA privatista foi peça crucial de sustentação do governismo e do próprio PT.

Os motivos de sua queda, sua ascensão a líder petista e sua trajetória em ambos os partidos ilustram parte dos interesses empresariais comuns que unem os dois principais – e opostos – partidos políticos nacionais.

De funcionário da Shell a político tucano e privatista

Delcídio do Amaral é parte dos setores empresariais e políticos de outros partidos que correram para aderir ao PT e ao governismo quando havia claros sinais de que o PSDB perderia as eleições em 2002. Numerosos empresários fizeram isto. Políticos também. Dilma pulou do PDT ao PT, o salto de Delcídio foi maior, do PSDB para o PT.

Delcídio trabalhou na Shell de 1989 a 1991 daí assumiu importante cargo na Eletrosul durante o governo Collor. No governo Itamar assumiu o ministério de Minas e Energia do final de 1994 a meados do governo FHC quando assumiu uma importante diretoria da Petrobrás.

No ministério de Minas e Energia de Itamar administrava a situação política das recém privatizadas Cosipa e Usiminas e foi preparando o terreno para a venda anos mais tarde da jóia da coroa, a Vale do Rio Doce.

Como ministro assinou o acordo coletivo com os petroleiros que seu chefe, FHC, rasgaria um ano depois motivando a histórica greve petroleira de 1995.

Na diretoria de Gás e Energia da Petrobrás até 2001 esteve a frente do fechamento de alguns dos negócios mais privatistas que a Petrobrás já fez. Sob seu comando a Petrobras construiu o gasoduto Brasil-Bolívia, apesar do país não ter demanda para gás natural naquele momento e acrescentou uma cláusula “take or pay”, onde o país deveria pagar levando ou não o gás que era detido pela sua antiga empregadora, a Shell e pela americana Enron. Alguns anos depois assinou outro contrato “nacionalista” na Petrobras, autorizando a Enron a utilizar o mesmo gasoduto a um custo de 50% do que a própria estatal brasileira.

Em 1997, como ex-ministro de Minas e Energia e influente diretor da Petrobras foi um dos impulsionadores da Lei do Petróleo de FHC que acabou com o monopólio estatal da Petrobras.

Um vasto currículo privatista que ele continuou trocando a ave pela estrela.

Anos Lula: um batalhador dos ataques aos trabalhadores e da impunidade

Delcídio do Amaral, já na qualidade de senador pelo Mato Grosso do Sul foi uma voz ativa na implementação de um dos mais importantes ataques do governo Lula aos trabalhadores, a reforma da previdência em 2003. Retirando direitos do funcionalismo esta alteração gerou uma grande movimentação política na época, que redundou na criação do PSOL no plano político e da CSP-Conlutas no plano sindical. O tucano-petista junto a Palocci e outros era linha de frente no ajuste neoliberal de então.
Anos mais tarde Delcídio foi um ativo batalhador na CPI dos Correios, de onde surgiu a denúncia do mensalão, ali buscava calar opositores e trabalhar como “tropa de choque da impunidade”. Serviço que procurou prestar ao governo Dilma, ao PT e seus sócios empresariais no esquema da Lava Jato.

2015: Ainda à serviço dos ajustes e da privatização do petróleo

Como líder do PT no Senado, Delcídio cumpriu um papel chave em articular as forças governistas nesta casa que atuaram junto a Renan Calheiros para conter impactos gerados por Eduardo Cunha e encaminhar retirada de direitos dos trabalhadores, como por exemplo o aumento do tempo de contribuição para obter o seguro desemprego e o PPE.

Foi um bombeiro contra os gastos públicos a serviço do funcionalismo, tudo em nome da “governabilidade” e dos ajustes. Nos próximos dias, não estivesse preso estaria encaminhando a peça orçamentária do governo a votação, e nela discutindo o que seria mais “benéfico” recriar a CPMF ou “adiar o aumento do salário mínimo”. Com este tipo de pauta político e com histórico de serviços prestados para abafar denúncias de corrupção que Delcídio galgou posições.

Ainda com sua agenda secreta privatizadora do petróleo, Delcídio era um defensor do PLS 122 de Serra, o mesmo projeto de lei que retira a obrigatoriedade da Petrobras ser a operadora do pré-sal. Este projeto denunciado pela Federação Única dos Petroleiros e pela CUT nunca foi um projeto só tucano, sempre teve graduados petistas como apoiadores, um líder de partido e de governo, “só isto”.

Tal como a denúncia do PL 5069 de Cunha, que também tem um petista de signatário, em muitos dos mais reacionários e neoliberais projetos no parlamento brasileiro não se encontra a direita e o governo em campos opostos, mas “juntos e misturados”, denuncia-los como somente da direita, dos tucanos, livra o PT do seu papel nos mesmos, na unidade (parcial) de interesses que unifica todos partidos da ordem, sejam eles comandados por Lula ou FHC.

Delcídio era parte fundamental desta mistura de partidos e interesses. Sem ele, os empresários seguramente encontrarão (se já não os tem) outros nomes. Sua prisão, no entanto, joga luz sobre o lusco-fusco do jogo eleitoral e parlamentar onde PT e PSDB parecem radicalmente opostos, e várias vezes estão, porém, como se vê na trajetória do líder do governo agora detrás das grades estes interesses convergem muitas vezes em três áreas fundamentais: sigilo na corrupção, atacar direitos da classe trabalhadora, entregar os recursos naturais do país ao imperialismo.




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