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Quem é Bloomberg, o bilionário que apoia Doria? O que Doria ofereceu em troca?

Em nova missão de entrega de tudo que for público a milionários e bilionários, o prefeito João Doria conquistou um apoio de peso para sua hoje declarada campanha presidencial. Bloomberg, oitavo homem mais rico do mundo deu sinais de apoia-lo. Em troca Doria prometeu levar as "ideias" do magnata a todo país.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

terça-feira 16 de maio de 2017 | Edição do dia

Doria foi a evento em Nova Iorque, capital mundial das finanças, lá reuniu-se com o oitavo homem mais rico do mundo, Michael Bloomberg, dono de rede de televisão e serviços financeiros. Elogiou o bilionário que já foi três vezes prefeito da cidade norte-americana e logo depois foi realizar entrevista na sede do império financeiro-midiático do magnata. Ali declarou-se candidato presidencial, se vitorioso em “primárias”. Quem é esse herói de Doria e o que o prefeito paulista ofereceu por esse apoio internacional?

O elogio a um bilionário que é seu modelo para o governo e para a economia

Doria publicou vídeo em sua página de facebook elogiando Bloomberg por ter sido um empresário que não era da política e por “ter revolucionado” Nova Iorque. Foi lá em missão de promessa de venda do país e em troca o empresário lhe ofereceu o império midiático para a entrevista exclusiva onde diz pretender concorrer à presidência se ganhar as primárias tucanas. No final do vídeo, para aumentar o sorriso de Doria Bloomberg acompanha Doria no tradicional “V” do entrega tudo para os milionários e bilionárias.

Essa reunião e apoio de Bloomberg, dono de uma fortuna estimada pela revista Forbes em $48,5 bilhões de dólares aconteceu depois de reunião do prefeito paulista com empresários onde ele ofereceu seu programa de acabar com tudo que for público em São Paulo e no Brasil.

Em seu twitter pessoal o bilionário fez um elogio mais contido do que adotar o símbolo de Doria mas remarcou como “esteve feliz de reunir-se com o prefeito de São Paulo que está promovendo a inovação”

No micro-blog o bilionário, que trocou repetidas vezes de partido político nos EUA conforme seus interesses comerciais e políticos, ainda cita ter apresentado e discutido programas que ele impulsiona. Os programas #Cities4Health e #MayorsChallenge são pequenas doações filantrópicas que o bilionário concede seguindo tradição protestante de seu país de buscar um lugar no “reino dos ceús” com filantropia (mínima) depois de uma vida de fortunas na exploração.

O programa de Bloomberg, é claro, concentra-se em outro lugar. Privatização, ataque a organização sindical dos trabalhadores, concentração de renda, destruição de escolas públicas. Todo um modelo para o populista Doria, aprendiz de Bloomberg e de Trump.

Nova Iorque sob o herói de Doria, um rápido resumo

Privatização, e ataque a organização sindical dos trabalhadores, coisa que Doria copia dele com gosto. No vídeo o prefeito paulista se compromete a levar as ideias de Bloomberg a cidades de todo país para “repetir experiências positivas”.

Vejamos algumas pela qual o prefeito “não político” mas “gestor” dos ianques ficou conhecido.

1. Produtividade capitalista a serviço de piorar os direitos sociais: Fechamento de escolas a partir do estabelecimento de metas em sistema de avaliação. As escolas só recebiam dinheiro se as notas dos alunos em provas melhorassem. Isso fez escolas que tinham boas notas mas estavam “estagnadas” deixarem de ser financiadas. Resultado: mesmo sob o paradigma neoliberal da avaliação escolar por notas, Nova Iorque avançou menos que os EUA nas notas dos alunos. (Para mais informações ver artigo de opinião no New York Times de especialista em educação:).

2. “Gentrificação” – transformação de bairros populares, de trabalhadores, de negros em bairros da classe média alta ou de milionários. Durante os três mandatos do bilionário americano ocorreu um aumento exponencial das pessoas sem moradia, ou com problemas para pagar os alugueis. Incentivando as empreiteiras e imobiliárias e um plano “de casas populares” que não podiam ser pagas pelos moradores dos bairros foi expulsando moradores de seus bairros, fazendo bairros negros como o Harlem tornarem-se crescentemente bairros elitizados (Algumas informações sobre a gentrificação podem ser encontradas nessa matéria do inglês The Guardian).

3. Apoio às leis de repressão e autorização para “Guerra ao Terrorismo”, os Patriot Acts de George W.Bush.

4. Demagogia e mentiras populistas: Bloomberg afirmava ir ao trabalho usando o metrô. Reportagem do New York Times desmascarou que usava carros da polícia e não o metrô. Tal como Doria, fazia demagogia e devolvia o salário de prefeito. Doria afirma que doa o seu.

5. Desrespeito ao direito de greve, insultos a grevistas e tentativas de mobilizar a população contra os grevistas. Bloomberg enfrentou uma greve de trabalhadores do transporte, foi às tevês e chamou os grevistas de bandidos, gerando denúncias de racismo que foram ecoadas até pela Fox News, ligada aos republicanos, partido a que ele pertencia. Depois tentou mobilizar moradores para irem ao trabalho de bicicleta e furar a greve dos trabalhadores. Alguma semelhança do pupilo com o mentor?

6. Repressão e racismo cotidianos. Bloomberg é até hoje defensor da política racista da polícia nova-iorquina conhecida como stop and frisk, ou “pare e dê uma geral” em tradução livre. Sem suspeitas a polícia é orientada a parar e revistar pessoas. Por regra, negros e latinos sofrem essa repressão e racismo diários, incentivados como política de Estado. Um resultado recente dessa política foi a morte do trabalhador negro Eric Garner – asfixiado ao questionar porque estava sendo revistado.

De onde vem a fortuna do herói de Doria e o que isso revela do programa econômico dele

Michael Blomberg é um operador das finanças. Um especulador e magnata da mídia. Começou sua carreira como sócio de um banco de investimento em 1973, ali desenvolveu (ou melhor seria ganhou a patente de softwares para análise de investimentos). Desenvolvendo seu sistema e vendendo ele a bancos, operadores da bolsa fez fortuna. Uma fortuna, que como bom capitalista aumentou exponencialmente em períodos de crise, aproveitando-se do conhecimento da situação financeira de cada empresa opera secreta e lucrativamente como poucos bilionários.

Antes da crise de 2007, Bloomberg ocupava a posição 142 do ranking de maiores bilionários do mundo segundo a revista Forbes. Em 2012 já era o 20º e agora é o oitavo. Como monopolista da informação financeira opera para se favorecer. Ele é a exemplificação da selvagem concentração de renda ocorrendo nos Estados Unidos e no mundo. Cada avanço dos 1% aumenta a pobreza dos 99%.

Mais mercado, mais mercado, gritam os neoliberais ecoando os desejos de bilionários como Bloomberg. Seu crescimento, monopolista significa cada vez menos mercado, mais riquezas para si e pobreza para todos. Bloomberg exemplifica a tese de Marx da pauperização no capitalismo, quanto mais esse avança, mais aumenta a concentração de capital de um lado e a pauperização de outro.

O programa de Doria, além de oferecer o país para magnatas como seu herói Michael Bloomberg é “menos Estado, mais privatização, mais mercado”. Uma cidade gentrificada é o modelo. Um país cada vez mais desigual. Um populismo mentiroso, repressivo, racista. Ver quem é apoiador imperial e herói de Doria também nos relembra como enfrenta-lo exige erguer um programa anti-capitalista para que sejam os capitalistas que paguem pela crise.




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