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GREVE USP | Quais os rumos da greve dos estudantes da USP?

Os estudantes da USP estão a mais de dois meses de greve, em meio a um cenário nacional de um governo golpista e com a instransisgência da reitoria que corta o salário de diversas famílias, não dialoga nossas pautas e aprova de forma absolutamente antidemocrática uma medida que visa tirar a nossa autonomia na hora de eleger nossos representantes. É preciso discutir quais serão os rumos da nossa mobilização.

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

segunda-feira 18 de julho de 2016 | Edição do dia

Nossa greve começou em meio a um cenário de extrema politização e polarização social. Quando entramos em greve os estudantes da Unicamp já estavam em greve ocupando a reitoria, os estudantes da UNESP estavam se mobilizando, os secundaristas ocupavam diversas ETECs e os trabalhadores da USP também entravam em greve. No primeiro dia da greve o golpista Temer assumia a presidência da república e um dia depois Alexandre de Moraes, ex-secretário de Segurança Pública do ladrão de merendas Geraldo Alckmin, assumia o Ministério da Justiça e como primeira medida reprimia brutalmente os secundaristas em luta na cidade de São Paulo. Hoje aos dois meses de greve existe uma certa estabilidade provisória no governo golpista e o ladrão de merendas continua intocável. Diversos elementos fazem com que nossa greve se encontre em meio a uma situação de transição, entre a alta instabilidade imediata gerada pelo golpe institucional e uma relativa estabilização, que traz consigo alguns elementos de direita, mas que não dão o tom de conjunto, que é bastante heterogêneo.

Todo esse cenário nacional fez com que a direita se visse mais fortalecida para colocar suas garras de fora, seja com duros ataques aos trabalhadores e a juventude por meio dos governos ou com a perseguição aos secundaristas do Rio Grande do Sul, ações organizadas do MBL em Campinas e do USP Livre em São Paulo, chegando ao extremo de professores agredirem alunos e lutadores serem ameaçados em suas próprias casas. Todo esse panorama mais nacional nos ajuda a entender porque a reitoria da USP pode manter-se por tanto tempo tão absolutamente intransigente, com o reitor tendo inclusive tirado férias em meio a nossa greve, ter cortado o salário de centenas de trabalhadores deixando milhares de famílias sem sustento e nunca ter sentado pra negociar nossas pautas, mesmo com a greve atingindo os três setores da universidade, com cursos que não tem muita tradição de mobilização aderindo, como os cursos da saúde e das exatas.

Mais uma vez sobre o papel do DCE

As entidades estudantis podem cumprir um papel muito importante de fomentar a organização dos estudantes de forma independente da reitoria e dos governos. O DCE Livre da USP tem um histórico de ser uma entidade que sempre se colocou como um ator das grandes mobilizações nacionais, como por exemplo na época da ditadura quando foi um dos primeiros a levantar a consigna "Abaixo a ditadura". Contudo as gestões que dirigem a entidade são responsáveis pelos rumos e a política da mesma e num cenário como esse, de um golpe institucional no país, uma greve como a nossa poderia ser um fator na conjuntura, afinal lutamos em defesa da saúde e da educação. Entretanto, por responsabilidade da direção atual do DCE, composta por militantes do Juntos, Rua, PCB e Vamos a luta, nossa greve não conseguiu se ligar com a população de fora da USP, mostrando que não lutávamos para manter a Torre de Marfim como nos atacou a Folha de São Paulo, mas para abrir a universidade a população por meio das cotas étnico-raciais e da defesa do Hospital Universitário.

Logo no início da greve realizamos um Encontro das Estaduais que reuniu mais de 100 estudantes e saímos com a proposta de um dia unificado de luta e a conformação um comando estadual de greve. O 3J foi um dos poucos dias nos quais conseguimos fazer ações unificadas que expressaram nossa greve para fora, rompendo com o cerco midiático. Contudo a proposta de um comando estadual, que teria sido fundamental pra decidir de forma unificada os rumos da nossa mobilização foi absolutamente boicotada pelas correntes que hoje compõem a atual gestão do DCE. Somado a isso tivemos a debilidade de não nos unificarmos entre os próprios cursos em greve na USP, ficando cada um tentando negociar com suas próprias diretorias, quando na verdade a ampla maioria de nossas pautas só poderiam ser atendidas se atingíssemos a reitoria e para isso era fundamental a unificação. Unificação não só entre os estudantes mas também com os trabalhadores, não só nos discursos como aconteceu muitas vezas, mas nas ações. A exemplo do que aconteceu entre os estudantes da Letras e os trabalhadores da FFLCH, quando mostramos para o diretor da faculdade e para todos os burocratas que ameaça ou chantagem alguma era mais forte que a aliança operária estudantil que havia se forjado durante o conflito e entregamos a ocupação do prédio para garantir que os trabalhadores não tivessem seus salários cortados.

Se a gestão atual do DCE tivesse encarado nossa greve não da forma rotineira como sempre fez, mas percebido em meio a um cenário de polarização social de um golpe institucional no país era fundamental que nossa mobilização respondesse não somente ao cenário da universidade, mas sim a tudo que acontecia no cenário nacional, poderíamos estar hoje em outra situação. Agora em meio ao período de férias estudantis está cada vez mais difícil organizar setores para que possamos dar uma resposta a altura dos ataques, como o que passou no Conselho Universitário na semana passada. Por esse motivo é fundamental que passamos a construir com muita força a campanha "Quem luta por educação não merece punição" iniciada pelos estudantes da Unicamp contra a repressão aos lutadores e também a arrecadação para o fundo de greve dos trabalhadores da USP, que permanecem com seus salários cortados pela reitoria, e que diante da saída dos trabalhadores da greve, o nosso próximo comando precisa convocar uma assembleia geral extraordinária que possa definir os rumos da nossa mobilização.




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