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Um cuspe como ato simbólico das milhares de vozes de LGBT que não tiveram a chance de decidir sobre esse golpe orquestrado por estes parasitas.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

terça-feira 19 de abril de 2016 | Edição do dia

A votação do Impeachment neste domingo demonstrou com todas as bizarrices da Câmara dos Deputados quem são os defensores do Impeachment passando por cima da decisão de milhões de pessoas e do sufrágio universal. Não faltou defesa da família, dos bons costumes, da opressão secular sob as mulheres, da LGBTfobia viva e impulsionada pelo próprio parlamento, do racismo e da policia genocida da juventude negra.

A cada pronunciamento, a angustia de milhares de brasileiros que assistiam de suas casas um punhado de parasitas passar por cima do seu voto e decidir de maneira hipócrita o futuro do governo aumentava. Para nós LGBT, o show de horrores mostrava como o reacionarismo dos parlamentares sobrevivem no mar de corrupção. "Contra a mudança de sexo das crianças" dizia um, "Contra o ensino de sexo pras crianças", "Pela inocência de nossas crianças nas escolas" e por aí, junto com a defesa de suas próprias famílias e seus privilégios, cuspiram em nossa existência, em nossos direitos e na nossa história.

A hipocrisia no entanto não esteve somente ao lado desta direita asquerosa e nojenta. Mas ao lado também do PT que nestes 14 anos de governo não deu um passo sequer para garantir o direito a identidade de gênero e condições mínimas de sobrevivência para nós travestis, homens e mulheres transexuais. Seguimos ainda em grande maioria na prostituição como única forma de sobrevivência, com um alto índice de abandono das escolas, e com um transfeminicidio crescente e pactuado entre os acordos do PT com a bancada evangélica e todos os reacionários que Dilma, Lula e o PT se aliou e deu a corda para que agora os enforcasse. A direita que o PT construiu agora se apresenta com todo seu cinismo e hipocrisia como a salvação do país, contra a corrupção.

Se atacar, nós vamos atacar!

Jean Wyllys, deputado federal do Rio de Janeiro pelo PSOL chamou mais atenção das mídias por ter cuspido no reacionário Jair Bolsonaro do que o pronunciamento do mesmo que homenageava o torturador de Dilma, as forças armadas e o golpe de 1964. Um cuspe como ato simbólico das milhares de vozes de LGBT que não tiveram a chance de decidir sobre esse golpe orquestrado por estes parasitas. Um simbolo do vomito e da náusea que ouvir tantos discursos de ódio e de violência, que não são pra nada de novos, mas que foram parte das eleições de 2014, onde Levy Fidelix incitava as pessoas heterossexuais a se enfrentarem com os LGBT. Jean como representante dos LGBT naquele ninho de cobras, muito longe de "Casa do Povo", expressou simbolicamente o ódio de milhares de pessoas que enxergam em Bolsonaro o que tem de mais podre, nojento e retrogrado da sociedade brasileira, do parlamento burguês e dos restos da ditadura militar que sobrevivem na democracia dos ricos.

Independente das críticas que temos aos limites de certas políticas levadas a frente por Jean Wyllis, ele foi porta-voz da sede de revolta e de vingança que sentimos todos os dias, quando estes discursos legais (!), realizados por políticos, legitimados pela sociedade, são reproduzidos nas escolas, nas universidades, nas filas dos onibus, nos locais de trabalho e dentro de casa. É a opressão cotidiana que expulsam as travestis de suas casas e que provocam os milhares de assassinatos, que neste ano em apenas um mês chegou a quase 2 homocidios por dia de pessoas trans.

Bolsonaro que já havialevado porpurinada no começo do ano, tomou mais essa. Mas é ainda pouco, para o que nos deve. Por todos os insultos que faz a população LGBT, por toda a defesa da familia burguesa de poucos, pela defesa das policiais que assassinam todos os dias a juventude negra nas periferias, que caçou as travestis com a Operação Tarantula, que estupra mulheres no Haiti. Nós não vamos nos calar.

A vida dos LGBT importam. E nós vamos seguir lutando contra a direita, o Impeachment e os ataques do governo do PT. Mais do que nunca é preciso um movimento LGBT anticapitalista e aliado a classe trabalhadora para lutar por nossos direitos.




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