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IMIGRAÇÃO EUROPA | Protesto em defesa de refugiados reúne 20 mil pessoas em Viena

Cerca de 20 mil pessoas saíram às ruas de Viena nesta segunda-feira para protestar a favor dos direitos dos milhares de refugiados que chegam todos os dias à União Europeia.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

terça-feira 1º de setembro de 2015 | 00:00

O lema do protesto, convocado por várias organizações humanitárias austríacas, era "Ser pessoa na Áustria".

A manifestação começou na estação do Oeste (Westbahnhof), que viveu momentos dramáticos com a chegada de centenas de refugiados da vizinha Hungria, que tentam chegar de trem à Alemanha, e seguiu rumo ao parlamento da Áustria, que fica três quilômetros de distância.

Vários trens foram retidos hoje durante horas na fronteira entre Áustria e Hungria, supostamente por estarem muito cheios e para determinar se os refugiados a bordo já tinham pedido asilo político em território húngaro. Nesse caso, seriam devolvidos à Hungria, país aonde muitos entraram “ilegalmente” pela fronteira com a Sérvia.

A pressão de organizações de direitos humanos e ativistas aumentou depois da tragédia de 70 refugiados orientais que morreram dentro de um caminhão frigorífico na Áustria. Frente aos protestos, a polícia austríaca não interveio nesta segunda-feira e permitiu que os refugiados, a maioria sírios, subissem em outros trens em Viena para seguir viagem rumo à Alemanha.

Para as próximas horas é esperada a chegada de outros quatro trens, que podem trazer cerca de mil refugiados a Viena, segundo Birgit Hebein, umas das coordenadoras da assistência humanitária para os imigrantes na Westbahnhof.

Diante de ataques xenófobos por parte de organizações reacionárias da extrema direita, como Pegida na Alemanha e Jobbik na Hungria, cresce o movimento de apoio por parte de setores da população européia aos imigrantes. Na Hungria, moradores sabotam os cartazes antiimigratórios do governo de direita de Viktor Orban, arrancando suas mensagens. Na Alemanha, a torcida da equipe de futebol Borussia Dortmund desfraldou uma bandeira em pleno jogo em que se lia “Refugiados, bem-vindos”.

No último sábado, milhares de pessoas participaram de uma manifestação em solidariedade aos refugiados na cidade alemã de Dresden, um dos centros das atividades xenófobas de grupos neonazistas, que na semana passada tentaram impedir que 600 imigrantes conseguissem asilo em Heidenau.

Inferno migratório

Nas últimas semanas a chamada “crise migratória” européia está comovendo o mundo inteiro. As imagens mostram grupos de pessoas que caminham milhares de quilômetros desde a Síria e o Afeganistão, passando pela Turquia, a Grécia e os Bálcãs, para chegar à Hungria e dali seguir caminho para o norte da Europa.

Em 2015, mais de 320.000 pessoas ingressaram de forma “ilegal” na Europa. As barreiras militares, muros farpados e leis repressivas não conseguem conter as ondas migratórias. Pelo contrário, apenas agravam a situação, obrigando os imigrantes a buscar vias mais perigosas para escapar das guerras, da fome e da miséria indizíveis provocadas pelos mesmos países que hoje lhes negam abrigo.

Este vídeo mostra os eventos na fronteira entre a Grécia e a Macedônia, quando centenas de imigrantes são reprimidos na tentativa de atravessar para o norte do continente. Não é possível ver o vídeo sem raiva e dor.

A hipocrisia do discurso europeu, encabeçado pela França e Alemanha, de “assegurar os direitos humanos através da estabilização das nações”, não tem limites. A realidade é que mais de um terço dos refugiados provém da Síria e do Afeganistão, em função das intervenções militares, guerras civis e a emergência de organizações reacionárias como o Estado Islâmico, produto da intervenção dos EUA e das potências européias.

Segundo a Agência da Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a situação síria é catastrófica, com cinco anos de guerras, uma economia completamente devastada, com uma inflação de 600%, desabastecimento e falta de medicamentos, o que faz com que um de cada cinco refugiados no mundo seja sírio.

No caso da África, o conflito no Sudão do Sul, com a presença militar do Reino Unido, provocou a saída de meio milhão de africanos do país. Os combates na República Democrática do Congo e na República Centroafricana (ambas sob ocupação militar da França) foram palco da saída de centenas de milhares de pessoas.

Os trabalhadores não tem pátria: a bandeira de defesa dos imigrantes contra o imperialismo

Ante a magnitude da crise social que vivemos na Europa, é fundamental enfrentar todas as políticas reacionárias que buscam reforçar os controles migratórios e as fronteiras nacionais. É necessário impulsionar em toda a Europa um massivo movimento político que defenda os direitos dos imigrantes e refugiados.

Medidas como a anulação das leis para estrangeiros, o fechamento imediato dos centros de internação (CIEs) e a abertura das fronteiras para todos os solicitantes de asilo devem ser defendidas por todos os sindicatos e organizações da esquerda.
Contra a “distinção” que faz Merkel entre “refugiados legais” e “imigrantes ilegais”, desconhecendo os pedidos de asilo da população dos Bálcãs bombardeada pela Alemanha na Guerra do Kosovo em 1999, é necessário um plano de emergência que inclua subsídios, moradia, plenos direitos sociais e políticos e trabalho genuíno para imigrantes e refugiados, ganhando o equivalente à renda familiar exigida na Europa.

Os capitalistas não podem resolver a crise migratória senão com medidas reacionárias. Esta odisséia de migrações tem sua origem nas violentas relações estatais capitalistas, e suas misérias não podem terminar nos marcos das divisões entre fronteiras nacionais.

A luta por eliminar as fronteiras nacionais é também a luta contra a Europa imperialista e dos monopólios.




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