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Precisamos de Princesa, último álbum da banda Carne Doce

terça-feira 21 de março de 2017 | Edição do dia

O mais recente álbum da banda goiana Carne Doce, Princesa (2016), classificado pela crítica como um dos melhores álbuns nacionais do ano configura um trabalho de quebra com o primeiro disco. Em um jogo de antíteses Princesa atua nas extremidades sem perder a crescente poesia de Salma Jô, o que deixa cada canção linear, porém díspares entre si.

A preciosidade do trabalho fica também evidenciada através da evolução sentimental, onde o texto conectado a interpretação intimista demonstra grande capacidade de surpreender.

Da vivência da vocalista do quinteto surge “Artemísia”, canção que carrega no nome homônimo ao de uma planta com propriedades abortivas. Uma letra que expressa o aborto. Entre versos que dizem: “não vai nascer / porque eu não quero / porque eu não quero e basta eu não querer” provoca a temática do ponto de vista feminino.

Já em “Falo” canção do apogeu do álbum usa de expressão gritante para tratar do machismo. O desabafo evolui para uma repulsa ao falocentrismo, o patriarcado – que fica mais claro em “O Pai” – a invisibilização das mulheres em suma diversos aspectos do machismo.

Salma Jô, em entrevista, declara:
Falo é sobre uma indignação legítima, um acúmulo de pequenas injustiças cotidianas, que vai sendo cozinhado até se tornar ira, ódio. O que antes era a minha ausência de poder como vítima se transforma num poder para a tirania. É a música mais direta sobre as minhas reflexões do feminismo nas minhas relações particulares, ainda que visando uma história que pudesse ser universal. Tem sido incentivado que as mulheres façam essa investigação e essa denúncia do machismo nas suas relações particulares, de trabalho, familiares, afetivas. Como muitas, eu andei me instigando sobre isso.

“Eu te odeio” surge como descanso, delicada e importante é um dos pontos íntimos onde declarações como: “Vai, me fotografa / Diz, você me acha bonita? / Eu tenho tanto medo de esquecer o seu cheiro“ compilam o roteiro do casal.

Ainda incisivo e necessário o feminismo das faixas atingem maestria ao conduzir uma reflexão crítica da opressão. Os versos deixam claras a evolução da consciência e as histórias contadas neles e que nos permite um exercício de alteridade. Um álbum com bastante personalidade e identidade.




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