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DRAMA DOS REFUGIADOS | Povoado rico na Suíça prefere pagar R$ 1 milhão a receber 10 refugiados

O drama dos refugiados não cessa. Não bastam os sofrimentos profundos a que as populações síria, iraquiana, afegã, dentre tantas outras que são obrigadas a imigrar e se tornarem refugiados, muitas vezes em decorrência das guerras que as nações imperialistas promovem em seus países. Não bastam as mortes, que somam quase milhares de uma só vez, como no caso do naufrágio de uma embarcação na costa da Líbia, dias atrás, que matou cerca de 700 pessoas. Que tiram a vida de crianças, inclusive de bebês cujas fotografias de seus corpos sem vida estampam as páginas dos jornais. Não basta o preconceito, a hipocrisia, e a falácia dos discursos das grandes potências. Tudo isso é inútil para sensibilizar minimamente aqueles que diferentemente dos refugiados vivem uma existência de abundância e acomodação.

Simone IshibashiRio de Janeiro

quarta-feira 1º de junho de 2016 | Edição do dia

Uma nota publicada no jornal britânico The Independent em 30 de maio traz uma demonstração chocante da desumanização à qual os refugiados estão sendo submetidos. Um vilarejo na Suíça de nome Oberwil-Lieli, cuja população é composta por 300 milionários dentre uma população de 2200 pessoas, isto é uma das mais ricas dentre um dos mais ricos países da Europa, se recusou a cumprir sua parte da cota para a recepção dos refugiados. Preferiram pagar a multa de 200 mil libras, o que equivale aproximadamente a R$ 1 milhão. Essa postura foi adotada por mais da metade dos moradores do vilarejo, que declararam que simplesmente “não querem eles aqui”, pois os refugiados “estragariam a vila adorável” em que vivem essas centenas de milionários. Toda a situação é ainda mais revoltante quando se considera que os moradores da vila em questão estão pagando R$1 milhão para não receber sequer 10 refugiados, já que o governo central da Suíça determinou “cotas” que cada municipalidade deveria receber.

O prefeito de Oberwil-Lieli afirmou ainda que uma justificativa para a decisão é que os moradores da vila não teriam sido informados se os refugiados seriam sírios mesmo, ou “de outros países que passam por crises econômicas”. Uma dupla hipocrisia. Em primeiro lugar porque os próprios moradores trataram de deixar bem claro que seu maior objetivo é impedir que seu mundinho idílico, construindo em base ao suor alheio, sofra qualquer perturbação, seja ela vinda de um sírio, um afegão ou um iraquiano. Em segundo lugar porque tão justo quanto querer escapar das guerras, é escapar da fome e da miséria, imposta aos povos dos mais diversos cantos do mundo por pessoas como os 300 milionários de Oberwil-Lieli e seus governantes.

A crise migratória já se constitui como uma das mais chocantes faces que a Europa do capital assumiu no momento recente. Num contexto de agravamento da guerra civil reacionária da Síria, dos ataques do Estado Islâmico no Iraque, e em diversos países da região, ou mesmo frente aos efeitos da desorganização econômica que tal realidade traz o fluxo migratório não cessa. No entanto, cada vez mais seus acessos à imigração são dificultados. Desde a Grécia governada pelo Syriza, que mantém verdadeiros campos de concentração para refugiados, passando pelo acordo da Alemanha e da União Europeia com a Turquia, e o fechamento das fronteiras na Hungria, o que se vê é o bloqueio das rotas de acesso e a criminalização sem par daqueles que buscam refúgio.

Mas nem mesmo isso é capaz de fazer os moradores de Obdervil-Lieli reconsiderarem sua reacionária e racista posição. O que demonstra que para sua ampla parcela de milionários, as vidas dos refugiados devem ser deixadas literalmente à deriva. Como as das 700 pessoas que naufragaram dias atrás.




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