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DCE DA USP | Por um DCE que organize os estudantes contra o impeachment e os cortes na educação

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

terça-feira 19 de abril de 2016 | Edição do dia

Semana passada foram realizadas as eleições para a nova gestão do DCE Livre da USP, nesse domingo foi aprovado em um verdadeiro show de horrores a continuidade do processo de impeachment. Basta de um DCE imobilizado e incapaz de organizar os estudantes para as lutas que estão acontecendo. Precisamos de uma entidade viva, combativa que sirva como uma ferramenta de luta contra o impeachment, em defesa da educação e contra os cortes da reitoria e dos governos.

O DCE Livre da USP é uma das entidades mais importantes do país, com um longo histórico de lutas e participação em momentos importantes da política nacional. Durante a ditadura militar organizou os estudantes para sair às ruas levantando a bandeira de “Abaixo a Ditadura” e juntamente com o DCE da Unicamp arrecadou ao que equivaleria a 30 mil reais hoje, para o fundo de greve de trabalhadores da região. Uma entidade que sempre se colocou nas lutas por educação e foi um fator na política nacional. Contudo a alguns anos o que reina é o imobilismo, não vimos o DCE ser um instrumento de organização dos estudantes em Junho de 2013, nas lutas contra o aumento das passagens e por educação, como a luta dos secundaristas de São Paulo ano passado.

Agora, diante de uma crise política nacional e justamente na semana que culminou com a aprovação do impeachment, aconteceu as eleições para o DCE. Com 10 chapas concorrendo a gestão, as eleições expressaram o alto nível de politização dos estudantes e foi permeada por grandes debates de diferentes projetos de universidade e de país,apesar de algumas chapas esconderam o posicionamento nacional de suas correntes. Contudo a baixa no quórum revela também o quanto nossa entidade está desgastada perante a base dos estudantes.

A expressão da politização nacional entre os estudantes e nos discursos das chapas concorrentes

Se ontem ouvimos perplexos os mais bizarros discursos de ódio, racismo, LGBtfobia, machismo, louvor a igreja, aos torturadores e a polícia, para bradar um “sim” ao golpe institucional e ao avanço contra os direitos democráticos. Aqui na USP essa posição esteve expressa nas eleições por meio da chapa USPInova, composta por setores abertamente de direita que tentaram aparecer com uma nova cara liberal, bem ao estilo MBL. Ao mesmo tempo que mantém-se aliada aos interesses da reitoria, pela manutenção dessa estrutura de poder herdeira dos ditadores militares tão reivindicados por Bolsonaro, Daciolo e companhia, essa chapa se posiciona contra as cotas e a favorda iniciativa privada na universidade. Mas os estudantes mostraram que não se enganam com esse discurso liberal que tenta mascarar o racismo, o machismo e a LGBTfobia tão úteis para a manutenção da exploração e da opressão dentro e fora da universidade. A queda dos votos da USPInova de 24,79% em 2015, para 20,65% esse ano é uma prova que a juventude não está ao lado dessa direita reacionária e conservadora, nem da sua versão universitária com cara jovem e liberal.

Em todos esses anos foi o PT com sua politica de imobilismo e contenção das lutas, que abriu espaço para que essa direita se fortalecesse e chegasse ao que vimos no domingo. Entidades como UNE e UBES, com sua política de defesa de um governo que aplicava ajustes e ataques contra os trabalhadores e a juventude, estiveram por fora de todos os processos de lutas pela educação, como os secundaristas ano passado e a luta em curso no Rio de Janeiro. E aqui na universidade estavam representadas pelas chapas Todas as Mãos (composta por setores do PT) que ficou em terceiro lugar e pela chapa "crítica ao governo" Levante e Lute (composta por setores do Levante Popular da Juventude) que ficou em quinto lugar. Mostrando que também não são uma alternativa para a juventude que tá cansada de ver a precarização da educação e o imobilismo daqueles que deveriam ser parte de organizar a luta se rompessem sua subordinação ao governo.

A chapa vencedora com mais de 44,21% dos votos foi Pra fazer a Primavera, composta por setores do PSOL como o Juntos! (juventude de Luciana Genro), o Rua e o Vamos à Luta, e pelo PCB. Chapa que veio com o discurso de mudança, enquanto suas correntes majoritárias foram parte da gestão da entidade por anos junto com o PSTU, que por sua vez tentou romper à esquerda mas nunca travou uma luta política séria pra acabar com imobilismo e adaptação a passividade governista que imperou todos esses anos no DCE. Ao mesmo tempo que a Primavera teve que se posicionar claramente nessas eleições contra o impeachment e os ajustes do PT, fazendo uma campanha mentirosa de voto útil contra a direita. Mentirosa porque a nível nacional, o MES de Luciana Genro teve como orientação central dizer que "não vai ter golpe, vai ter impeachment" e lutando por eleições gerais, amplamente reivindicada por setores que votaram a favor do impeachment na Câmara dos Deputados. E o Juntos só se posicionou nacionalmente contra o impeachment aos 45 do segundo tempo, por meio de um post no facebook de Luciana Genro e continuou a absurda reivindicação da Lava Jato, conduzida pela Polícia Federal, pelo Poder Judiciário e por um juiz nada desinteressado como Sérgio Moro.

O PSTU defendeu em sua chapa Reviralvolta, que ficou em quarto lugar na disputa sua política funcional a direita de Fora Todos, que na prática só se concretiza com o Fora Dilma e que foi parte de discursos asquerosos e reacionários como o do Cabo Daciolo, que votou sim ao impeachment contra o sucateamento do exército que mata todo dia nos morros e periferias e por eleições gerais já. Ao mesmo tempo que não propõe se enfrentar com a estrutura de poder da universidade e em seis anos como parte da gestão do DCE foi incapaz de organizar uma grande luta dos estudantes contra a reitoria e os ataques a educação.

Meu Canto de Guerra contra o impeachment, os ataques da reitoria e dos governos, e em defesa da educação

Nós da Faísca – Juventude Anticapitalista e Revolucionária construímos juntamente com dezenas de estudantes independentes a chapa Meu Canto de Guerra e queríamos em primeiro lugar agradecer aos 373 estudantes que votaram em nosso programa de luta pra universidade e pro país. Ressaltando a expressiva vitória nos cursos de Pedagogia e na Letras, onde dirigimos os centros acadêmicos junto a estudantes independentes e nos propusemos a construir entidades que rompam com o imobilismo e a passividade, organizando os estudantes para as lutas e o segundo lugar em toda a FFLCH com 20% dos votos. Levantamos desde o início da campanha que eramos contra o impeachment reacionário da direita e os ajustes do PT, que nossa entidade e nossa luta deveriam ser independente desses dois campos. Se inspirando nos secundaristas de São Paulo e do Rio de Janeiro e nos estudantes franceses que se aliaram aos trabalhadores contra a austeridade em seu país.

Para nós o DCE deveria e deve ser um instrumento de auto-organização dos estudantes, recuperando seu passado histórico para voltar a ser um fator na política nacional. Uma entidade que organize os estudantes com um plano de lutas sério contra o golpe institucional representado pelo impeachment, contra as ajustes da reitoria e de todos os governos. Travando uma forte luta em defesa da educação e contra essa estrutura de poder antidemocrática da USP, pela dissolução do Conselho Universitário e fim do reitorado, para que a universidade seja gerida pelos três setores que compõem a comunidade universitária com maioria estudantil. E para que o DCE cumpra seu papel de organizar cada estudante para que junto as trabalhadores possamos travar uma forte batalha contra essa estrutura de poder racista, machista e LGBTfóbica, arrancando assim cotas racias já, rumo ao fim do vestibular, contra o machismo institucional que pune os que lutam, enquanto fecha as creches e defende os estupradores e agressores.

No ano em que o DCE Livre da USP completa 40 anos de sua refundação vivemos um momento histórico na política nacional e somente com uma organização independente das reitorias e dos governos é que nós estudantes podemos, aliando-nos com os trabalhadores de dentro e fora da universidade e com a juventude em luta secundarista, das universidades privadas e desempregada, dar uma resposta a altura dos acontecimentos. Por isso exigimos que a Assembléia Geral do dia 28/04 possa votar um plano de luta contra o impeachment e os ataques à USP. Porque se o cénario é de luta nossa entidade e nosso canto devem ser de guerra.


Temas

USP    Juventude



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