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PROFESSORES | Por que os sindicatos da educação não lutam contra a BNCC e a Reforma do Ensino Médio?

Tanto a BNCC, como a Reforma do Ensino Médio são a expressão na educação do legado do golpe, o problema é que a CNTE, a CUT e o PT, hoje a frente de sindicatos importantíssimos como a Apeoesp e o SINPEEM, fingem não ver. Contra o silêncio criminoso dos sindicatos da educação submetidos a seu próprio interesse eleitoral e a lógica do “mal-menor”, é urgente que os professores tomem essa bandeira de luta em suas mãos.

Grazieli RodriguesProfessora da rede municipal de São Paulo

sexta-feira 15 de junho de 2018 | Edição do dia

Bebel, presidente da Apeoesp, ao lado da golpista Cármen Lúcia, ministra do Supremo e de Márcio França, candidato ao Governo do Estado pelo PSB e sucessor de Alckmin para seguir atacando os professores da rede estadual. /Imagem: Boletim da APEOESP nº 29

Na semana passada aconteceria em São Paulo a segunda audiência sobre a BNCC - Base Nacional Comum Curricular que está sendo reformulada em tempo recorde no governo do golpista Michel Temer (PMDB), no entanto esse evento foi impedido pela ação de dezenas de estudantes secundaristas e alguns professores que ao ocuparem o espaço conseguiram que ele fosse cancelado. Essa audiências não passam de uma farsa para pintar de democrático um processo que não só precariza ainda mais a educação pública no país, como pretende reformulá-la completamente, literalmente nivelando por baixo para garantir que de norte a sul do Brasil os filhos da classe trabalhadora tenham uma educação pensada à luz da Reforma do Ensino Médio e da Reforma Trabalhista, ou seja, a BNCC nada mais é que um projeto de governo para formar mão de obra barata para o novo mercado de trabalho e abrir um grande espaço para o avanço privatista na educação. Porque oferecer para o trabalhador “flexível”, algo diferente que uma educação “flexível” (como querem chamar)? Para não dizer sucateada, privatizada, terceirizada...

No entanto, apesar de importantes, não bastam somente as manifestações que impedem e denunciam a falácia dessas audiências, que em última instância não representam as opiniões dos estudantes, educadores e nem da população, para fazer realmente frente à Reforma do Ensino Médio e ao desmonte da educação pública de conjunto - do qual ela, a Reforma do E.M., é somente o primeiro e provavelmente o mais importante passo, é preciso muito mais!

A Reforma do Ensino Médio foi aprovada em fevereiro de 2017 e com bastante empenho dos golpistas, exatamente pelo que ela significa para seus interesses. Desde então a CUT e o PT, assim como as dezenas de sindicatos da educação que dirigem cumpriram um papel muito importante: deram todo o tempo necessário para os golpistas prepararem a aplicação desse ataque. Cantam vitória pelo cancelamento da audiência pública, mas foi isso o máximo que fizeram, já estão há um ano e meio sem organizar qualquer luta séria contra isso.

É urgente que a CNTE, dirigida pela CUT, rompa com sua lógica demagoga e puramente eleitoral (para o PT) enquanto silencia aos grandes ataques, já que ao abrirmos seu site, no lugar de qualquer política consequente contra a BNCC e a Reforma do Ensino Médio, o que aparece é uma propaganda que reivindica a contraditória atuação de Lula pela educação. Sobre isso veja mais aqui: “Por que o PT nunca investiu 7% do PIB na educação?”

Exigimos que Bebel e Claudio Fonseca à frente dos sindicatos mais importantes do Estado e da cidade de São Paulo, respectivamente, que rompam com a trégua aos golpistas e organizarem os professores contra todos os ataques à educação pública!

Bebel, que anunciou hoje no C.ER. - Conselho Estadual de Representantes seu afastamento da direção na Apeoesp para concorrer às eleições como Deputada Federal pelo PT e quer agora se mostrar como uma “responsável” alternativa eleitoral aos milhares de professores da rede estadual que vem traindo, assim como suas lutas e greves, ano após ano, dia após dia.

O PT de Lula, Dilma e Bebel, não só abriu espaço para direita dar o Golpe Institucional que sofreu a classe trabalhadora em 2015, como traiu cada greve geral organizada contra os ataques que decorreram do golpe, além de se quer lutar consequentemente contra a prisão arbitrária de Lula esse ano, não porque Lula não reproduziu os métodos de corrupção que os partidos da burguesia com que se aliou tem como prática, mas sim porque sua prisão significa a continuidade do golpe contra os direitos do povo trabalhador. Em Relação a Reforma do Ensino Médio, não é possível cantar vitória apenas com a implosão da audiência. Participamos desse movimento, mas sabemos que ele sozinho não irá reverter esse imenso ataque. Já Bebel, canta vitória com essa ação porque na prática não quer convocar a categoria para um verdadeiro plano de luta para barrar a Reforma do EM.

E além de tudo isso, Bebel semana passada escandalosamente divulgou aos quatro ventos uma reunião com a golpista Cármen Lúcia, ministra do judiciário reacionário e Márcio França, o candidato a governo do Estado de São Paulo, do PPS, como se fossem esses aliados de nós professores na educação. O problema não é utilizar de todas as medidas, inclusive jurídicas, para nossos interesses. Mas divulgar a reunião com esse setores declaradamente inimigos dos professores se fossem nossos aliados. O STF não só não luta do nosso lado, como luta contra nós, recentemente vetou o já desvalorizado aumento dos professores da rede estadual de SP, livrando Alckmin de pagar esse reajuste que os professores não vêem a mais de três anos. Impôs também a obrigatoriedade do ensino religioso e agora, garantiu aos governos que cortem o ponto dos trabalhadores em greve e também que contratem substitutos para nós enquanto estivermos lutando por nossos direitos!

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Já Claudio Fonseca, presidente do SINPEEM, é vereador pelo PPS e seu partido foi base aliada de ninguém mais, ninguém menos que o ex-prefeito e atual candidato ao governo do estado pelo PSDB, João Doria, na Câmara dos vereadores de São Paulo! Como seria possível que o representante do maior sindicato dos trabalhadores da educação do município de São Paulo defendesse os interesses dos professores nas ruas e contra o Prefeito e na Câmara fizesse aliança com ele mesmo, o responsável pelos ataques ao funcionalismo? Muito simples, não é possível, já diz o dito popular, não é possível servir a deus e ao diabo ao mesmo tempo… Sabemos bem quais interesses Claudio representa no Sindicato, seu silêncio sobre a BNCC por exemplo, e as inúmeras passadas de pano para gestão municipal, indicam que não é o dos professores e trabalhadores da educação.

Imagem: Reprodução

Além de historicamente negligenciaram as lutas contra os ataques a educação e aos direitos dos trabalhadores, que dizem respeito diretamente a vida dos professores, em detrimento de seus próprios interesses eleitorais, de seus respectivos partidos e suas alianças, sabe o que mais tem essas burocracias em comum? Ambos apoiaram o PSB de Márcio França em sua candidatura ao governo do Estado de São Paulo.

Márcio França, do PSB, nada mais é que um ótimo substituto de Alckmin para representar os interesses da burguesia e dar continuidade de forma bastante parecida ao projeto de governo que desde 2015 não deu R$1 de aumento a categoria dos professores estaduais, inclusive depois de uma dura greve de 92 dias nesse mesmo ano. E é em nome dessa demagogia eleitoral que Bebel semana passada saiu sorrindo após uma negociação com STF ao lado de Cármen Lúcia e de França. Leia mais em: 4 vezes que Márcio França, ao lado de Alckmin, atacou a educação e as estaduais paulistas.

Imagem: Boletim da APEOESP nº 29

Nem Doria, nem França! Não temos nenhuma ilusão nesse caminho que quer mostrar Bebel e o PT, e mesmo Claudio Fonseca que se cala sobre os as alianças de seu partido, ambos querem nos conduzir a uma lógica de “mal menor” e nos fazer acreditar que os lacaios da burguesia e inimigos da educação podem ser nossos aliados, quando na verdade nossos interesses são inconciliáveis!

Um plano de lutas contra a BNCC, a Reforma do Ensino Médio e todos os ataques

Para que seja realmente consequente a luta é fundamental construir pela base a mobilização que envolva os professores e trabalhadores da educação de todo país, por isso é fundamental que a CNTE, dirigida pela CUT, a central que está à frente dos maiores sindicatos do país pare agora com sua política trégua com os golpistas e construa um plano de lutas. Cada minuto que os professores perdem sem se organizar é um minuto a mais para os golpistas pensarem como melhor nos atacar e desmontar a educação enquanto demitem milhares de professores, privatizam e acabam com o que resta da educação pública.

A Apeoesp, o SINPEEM e todos os sindicatos da educação precisam começar por romper com seus conchavos e chamar urgentemente discussões, assembleias verdadeiramente democráticas e construídas na base, que permitam que os professores entendam a magnitude desse ataque e a partir disso preparem um plano de guerra, com um plano de luta concreto, contra essa Base e também contra a Reforma do Ensino Médio, a Reforma Trabalhista e a PEC 55.




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