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LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS | Por que o ministério da Cidadania censurou pesquisa sobre drogas?

Há mais de 2, anos ainda sob o governo golpista de Temer, uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz, que custou mais de 7 milhões de reais aos cofres públicos, foi censurada e escondida nas gavetas do governo. Recentemente, agora com o ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB), o relatório voltou à tona e recentemente foi publicado pela Intercept Brasil. Porque o ministro ficou tão alarmado com a pesquisa?

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

sábado 1º de junho de 2019 | Edição do dia

Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil

Há mais de 2, anos ainda sob o governo golpista de Temer, uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz, que custou mais de 7 milhões de reais aos cofres públicos, foi censurada e escondida nas gavetas do governo. Recentemente, agora com o ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB), o relatório voltou à tona e ontem (31) foi publicado pela Intercept Brasil.

Seguindo a mesma tendência obscurantista, recentemente o ministro que mantém fortes laços com as Igrejas Evangélicas, declarou que os estudos “não têm validade científica”, pois “tem um viés ideológico de liberação das drogas”. Esta foi a resposta do governo frente a maior e mais completa pesquisa relacionada ao consumo de drogas já feita no Brasil.

O até então secundário ministro da Cidadania é dono de um currículo recheado de medidas punitivistas e reacionárias, tudo em defesa da “família” e da “moral e dos bons costumes” contra a gigantesca ameaça das drogas. Ainda quando era deputado, foi autor de um projeto de lei visando o endurecimento do punitivismo em relação ao consumo de drogas e ao tratamento medieval de dependentes através de internação compulsória. A proposta já foi aprovada na Câmara e no Senado, esperando somente sanção de Bolsonaro.

Recentemente, Terra ampliou os leitos em comunidades terapêuticas que são em grande parte ligadas a Igrejas Evangélicas e receberam dinheiro do governo através de convênios. Na verdade a invalidez científica não está com os dados e evidências claras do relatório de mais de 500 páginas da Fiocruz, e sim com o ministro e toda sua base de pastores e magnatas das Igrejas Evangélicas, já que as “comunidades terapêuticas” nada mais são do que versões modernas de manicômios, categoricamente ineficientes e reconhecidos por protagonizarem um leque de barbaridades. O saudosismo em relação à ditadura militar encontra também sua cara na política com dependentes químicos ou psicológicos: do método de abstenção, prisão, violência física e tratamentos desumanos, sob a égide da legitimidade da cruz.

Há um motivo da implicância do ministro com a pesquisa: ela prova, fruto do método científico, que não há nenhuma epidemia de drogas no Brasil. Um dos focos de Bolsonaro na campanha foi sua agenda dos costumes, focada na defesa da “família”, cujo um dos grandes vilões são as drogas. Porém, se não há epidemia, toda a política alarmista baseada no sensacionalismo puro de “guerra às drogas” e da ameaça constante contra a “família” cai por água abaixo. Neste combate ao mal das drogas é que se edifica todo tráfico, genocídio e matança que só servem para enxugar o gelo. Se alguma família é protegida com essa insanidade não é a família do músico Evaldo assassinado pelo exército com mais de 80 tiros, mais uma entre incontáveis outras que perdem parentes queridos, enquanto que as famílias de elite têm a oportunidade armar-se com fuzis em defesa de sua grande propriedade.

Com mais de 13 milhões de desempregados, a crise econômica leva ao aumento de violência no país. Há mais pessoas morando nas ruas nos grandes centros urbanos, mais miséria e brutalização, é nesse caldo que o tráfico se constrói e que pessoas sucumbem a dependência química: a falta de perspectivas com a vida e um futuro de miséria.

É uma moda atual, que atinge desde a família Bolsonaro, liberais ou até Tabata Amaral, de acusar de viés ideológico tudo aquilo que não concorda. Contudo, não há nada na sociedade capitalista que não seja ideológico, não existe posição em cima do muro num sistema que é dividido entre opressores e oprimidos, que gera crises e guerras.

Nem mesmo a ciência escapa. Ela está longe de ser perfeita e também reflete o mundo no qual se reproduz. Porém nesse caminho da ascensão das Igrejas Evangélicas e do conservadorismo, a ciência é um entrave a ser combatido, o horror do ministro Terra diante do relatório da Fiocruz é a prova viva de que o governo quer destruir a pesquisa e ciência brasileira, ambição deixada clara com o corte de 30% nas universidades federais. Para tratar de dependentes de drogas usando a bíblia e a palavra de Deus trancados em manicômios, tudo aquilo que nega os milagres da cura e busca uma percepção crítica, se torna um inimigo.

Leia mais: Toffoli e Bolsonaro juntos em nome do proibicionismo e punitivismo racista




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