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A SEGUNDA-FEIRA QUE DERRUBOU AS BOLSAS | Por quê caem as bolsas do mundo?

As bolsas do mundo registraram ontem uma das quedas simultâneas mais fortes desde 2008. As contradições da economia chinesa e os paradoxos da economia norte-americana. Debilidade econômica e instabilidade financeira.

Paula BachBuenos Aires

sexta-feira 28 de agosto de 2015 | 00:29

Depois de quedas muito pronunciadas dos principais índices nas bolsas norte-americanas durante o dia, Wall Street fechou ontem (24) com uma queda de 3,9% que representa sua pior desvalorização diária em quatro anos.

Na Europa, as quedas também foram agudas. A bolsa de Atenas – no contexto da crise grega –, fechava 10% abaixo enquanto a de Paris caía 5,35%, a de Frankfurt 4,7%, a de Londres 4,67% e o principal índice nas bolsas da Espanha sofria sua pior queda nos últimos três anos. Por sua vez a Bolsa de Tóquio caía 4,5%, o que representa sua pior queda no ano.

As bolsas da América Latina também sofreram fortes perdas. A de São Paulo chegou ao mínimo desde abril de 2009 e o real voltou a desvalorizar-se, a bolsa de Santiago do Chile sofreu sua pior queda em dois anos e o peso chileno caiu ao mínimo desde agosto de 2003, a bolsa de Buenos Aires fechou 3,19% abaixo e a do México fechou com uma queda próxima a 2%. Também se desvalorizava o dólar frente ao euro e o yen e se recuperava a cotização dos bônus do Tesouro norte-americano, diminuindo seu rendimento – que opera em sentido contrário a seu preço – abaixo de 2%. Enquanto isso, o preço de referência do petróleo tanto dos Estados Unidos como da Europa, caiu a seu nível mais baixo em seis anos.

China

Um dos fatores explicativos mais categóricos do tremor se encontra na queda das bolsas chinesas cujos índices combinados sofreram uma queda de 8% durante o dia de ontem, a mais aguda desde o ano de 2007. A queda eliminou as altas da bolsa no ano e seu fundamento imediato se encontra na negativa do governo chinês a anunciar uma série de medidas de estímulo monetário que eram esperadas depois das quedas nas bolsas da semana passada que acumularam 11%.

As múltiplas quedas da bolsa chinesa que vêm acontecendo desde julho, combinadas com a série de desvalorizações impulsionadas pelo governo durante o mês de agosto, são na realidade sintomas de contradições profundas da economia. Para dizer em poucas palavras, expressam o choque entre um “modelo exportador” que já não pode sustentar-se e um “modelo de mercado interno” que está longe de consolidar-se. À mesma contradição responde a diminuição do crescimento da economia chinesa e as tentativas de liberalizar o yuan buscando que sua moeda ocupe um lugar de paridade com as principais moedas dos países imperialistas como o dólar, o euro, o yen e a libra esterlina. Mas acontece que a complexa transformação que a burocracia chinesa busca obriga que o gigante asiático deixe de ser por um lado, o lugar de atração por excelência de capitais que foi durante os últimos 15 anos aproximadamente, e pelo outro, a fonte de demanda que contrapesou a debilidade da economia mundial desde a crise de 2008.

O mundo

De modo tal que, obviamente, o pânico dos “mercados” internacionais frente a um menor crescimento da economia chinesa oculta o pobre aumento do PIB da economia mundial e em especial o estancamento ou o crescimento fraco reinante nos países centrais. Recentemente, o FMI voltou a diminuir seu prognóstico de crescimento da economia mundial para o ano em curso.

Pra além das enormes ações monetárias do Banco Central Europeu e a fraqueza do euro que estimula as exportações, os débeis sintomas de recuperação da Europa se desaceleraram no segundo trimestre do ano. A crítica situação grega, por sua vez, não deixa de pender – com a ajuda da traição de Tsipras e do Syriza – como uma espada de Dâmocles sobre a instável Zona do Euro. O Japão – apesar da continuidade das medidas monetárias expansivas – não consegue sair do estancamento.

Só os Estados Unidos mostra um crescimento de sua economia relativamente sólido em comparação com seus pares. No entanto, a diminuição dos investimentos a longo prazo como porcentagem do PIB e o estancamento associado da produtividade, se apresentam como limites estruturais a um crescimento verdadeiramente vigoroso. As taxas de juros em níveis historicamente baixos mostram-se como condição para o crescimento ainda que por sua vez geram instabilidades crescentes – que claramente se colocaram ontem – ao mesmo tempo que esgotam os instrumentos para conter eventuais estouros.

Este paradoxo é o que empurra o desejo da Reserva Federal norte-americana de aumentar o quanto antes as taxas de juros. No entanto, a mera tentativa induziu a revalorização do dólar no último período, que gerou uma multiplicidade de consequências encadeadas, que entrelaçadas com a maior debilidade da economia chinesa, fortalecem fatores explicativos da atual queda das bolsas. Entre elas, a revalorização do dólar piorou a situação relativa da economia norte-americana encarecendo suas exportações. O FMI reduziu recentemente o prognóstico de crescimento dos Estados Unidos para este ano de 3,1% para 2,5% e muitos dizem que provavelmente não superará um magro 2%. Mas a revalorização do dólar também golpeou sobre a China que com sua moeda atada ao dólar viu piorar a competitividade de suas exportações, deixando ainda mais complexo resistirem as difíceis tentativas de transição de sua economia. Por último, a revalorização do dólar constitui um fator central da queda do preço das matérias primas cujo aumento foi um elemento chave da recuperação da economia mundial desde 2009.

Efeitos múltiplos

Assim se delineiam efeitos múltiplos. Por um lado, a simples tentativa de elevar as taxas de juros norte-americanas tem efeitos de contração sobre os Estados Unidos e sobre a China, além de que diminui o preço das matérias primas e inverte o fluxo de capitais desde os mal chamados “mercados emergentes” para a América do Norte. Estes dois últimos aspectos pioram qualitativamente – por distintos motivos e através de múltiplas combinações – a situação relativa de economias como Brasil, Venezuela, Rússia, Chile e Argentina, entre outras.

Além disso, a China, por suas próprias contradições –como se mostrou mais acima – não pode seguir sendo o demandante mundial que foi de 2009 em diante e seu menor crescimento resulta portanto em um fator recessivo para a economia mundial. Claro que o declínio do crescimento chinês diminui a demanda das matérias primas, especialmente daquelas ligadas à produção, como o mineral de ferro, o cobre ou o petróleo, contribuindo a uma maior queda de seu preço.

Concomitantemente, as contradições chinesas põem em vermelho vivo as instabilidades mundiais e ameaçam confluir com as contradições norte-americanas. A princípio é difícil que a continuar este panorama, a Reserva Federal resolva aumentar as taxas de juros no curso do ano. Desde o Financial Times, Larry Summers se somou às súplicas do FMI para que não o façam. De todos modos, instabilidade “financeira” e debilidade “econômica” são evidentemente os dois temperos que não podem faltar na dinâmica da economia mundial desde a queda do Lehman e cada vez parecem retroalimentar-se com mais força.




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