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LANÇAMENTO NOVA JUVENTUDE | Por que as minas devem ir ao lançamento de uma nova juventude?

A gente nasce e tudo já vai te direcionando, educando. A primeira roupinha que sempre é rosa. A primeira boneca. O primeiro comentário “agora o pai vai ter que comprar uma arma”, “essa daí vai dar trabalho”. O primeiro assédio ainda no berço. Não precisa mil exemplos. A realidade é que desde que aquele ultrassom diz “é menina!”, a opressão vem quente. Mas desde que o mundo é mundo, as mulheres já nascem fervendo!

quinta-feira 31 de março de 2016 | Edição do dia

Foto: Patrícia Galvão

Existe algo em comum na história das revoluções. Em todas, as mulheres se levantaram primeiro e estiveram na linha de frente. Porque para toda exploração que existe para a população em geral, existe uma opressão a mais para as mulheres. O trabalho precário, o salário desigual, o serviço doméstico, a dupla, tripla jornada de trabalho, a violência, o assédio. O assédio. Não há uma única mulher no mundo que nunca tenha sofrido nenhum tipo de assédio, ao menos uma vez na vida.

O machismo, que nos mata diariamente, é totalmente funcional ao sistema. Na verdade, mais que isso, o sistema precisa do machismo, assim como de todas as formas de opressão. Assim, ele lucra mais. Os baixos salários das mulheres não apenas aumentam o lucro dos patrões, como pressionam os patrões a abaixarem também o salário dos homens. Os serviços domésticos feitos pela mulher são feitos de maneira gratuita e garantem a manutenção da vida da mulher, do marido, dos filhos. A violência invisível, que todos conhecem mas “ninguém sabe, ninguém vê”, é o que garante o silêncio da mulher, a convence de que esta é sua posição no mundo, posição servil, no trabalho, em casa, na cama.

Mas, como já disse sobre as revoluções, há algo em comum. É que apesar de tanto tentarem, não nos calaram. Não nos calam. E nos últimos anos, isso vem se mostrando, mulheres vem se levantando cada vez mais contra as opressões, contra o machismo, o assédio, o padrão de beleza socialmente imposto e que leva também mulheres à morte; em defesa de todos nossos direitos, como o direito ao nosso corpo, direito ao aborto legal, seguro e gratuito; elo direito de usarmos shortinho sem sermos ter que aturar olhares e comentários degradantes, além do risco de ser estuprada; mulheres que também vieram se colocando politicamente contra os ataques de Eduardo Cunha, as traições do governo PT e os golpes da direita;.

E essas mulheres não são quaisquer mulheres. São em sua maioria jovens, estudantes, muitas que ainda nem terminaram o ensino médio. Como foram as estudantes secundaristas de São Paulo no final do ano passado. Bastava olhar as fotos e vídeos – para aqueles que, assim como eu, infelizmente não puderam ver de perto essa linda luta – das centenas de escolas ocupadas pelo estado de SP, das dezenas de atos. Eram mulheres à frente de tudo! Meninas, jovens, adolescentes, ocupando, refletindo, debatendo, expulsando a burocracia estudantil da UNE e UNES, resistindo, apanhando da PM, colocando o dedo em riste para a polícia, brigando pelo direito de fechar um cruzamento para escancarar a precariedade da educação pública. Dando exemplo, fazendo como que se reivindicasse a expressão “lute como uma garota”.

E na atual situação nacional, onde estão as mulheres?

E nesse momento vivemos uma enorme crise política no país. A cada manhã, uma nova bomba. Algumas horas sem olhar o celular, checar as notícias, e tudo pode ter mudado. Mas para a maioria das mulheres, trabalhadoras que são, o que significa? De um lado temos um governo – de uma mulher, veja bem – que no último ano provou ser extremamente eficaz no quesito “ataque aos direitos dos trabalhadores” e “corte de verbas em setores fundamentais da sociedade”, além de terem tido uma política de privatização nos últimos 13 anos de deixar qualquer tucano com inveja. De outro lado, temos uma direita raivosa pelo reacionário impeachment, que deseja derrubar um governo que tomou para si o modo capitalista e corrupto de governar, para em seu lugar fazer outro, mais corrupto ainda que fará mais ajustes e privatizará mais rápido. E tudo isso permeado pelo nada neutro “árbitro” Sérgio Moro que, aliás, como ele foi parar ali mesmo? Quem o elegeu? Pois é, ninguém o elegeu e ele junto ao judiciário – com seus salários milionários – se colocam como os supremos representantes da justiça, que de justa nada tem e vaza a informação que for conveniente no momento que lhe convir.

E as mulheres, onde ficam? Nenhuma dessas posições pode responder ao fato de que, qualquer das opções anteriores, os salários seguirão desiguais, as mulheres seguirão morrendo pelas violências, por aborto clandestino, continuaremos sendo assediadas, estaremos nos empregos precários, seguiremos sexualmente reprimidas e carregando horas e horas de trabalho doméstico diário. Essas saídas propostas pelos grandes que estão disputando os podres poderes não apontam caminho nenhum para nós, mulheres jovens, que temos um futuro inteiro pela frente, e uma cabeça cheia de sonhos.

As minas querem mais: querem uma vida plena de sentido!

Se não for pelas nossas próprias mãos, não será por mais ninguém. Somos nós que carregamos todas essas dores, todas essas angústias, desde o resultado do ultrassom. Somos nós, junto à todas trabalhadoras e trabalhadores, que somos exploradas diariamente, enquanto vemos a cada mês o dinheiro acabar mais rápido. Somos nós as assediadas, agredidas, estupradas, caladas. E somos nós, e não os representantes dos empresários, que vamos colocar um fim nisso! Porque precisamos transformar a vida. Precisamos mudar o mundo. Precisamos fazer como os secundaristas de SP, de Goiás e agora do Rio de Janeiro: precisamos ousar. Ousar lutar ousar querer a transformação, ousar ser a mudança.

É por isso que todas essas minas fortes, que querem lutar, que estão fervendo, devem ir ao lançamento de uma nova juventude anticapitalista, revolucionária e rosa-shock – que não é cor de “menininha”, mas cor de mulher forte que levanta e grita contra toda opressão que há anos vem fazendo o sangue ferver – no próximo sábado, 2 de abril, em São Paulo, veja aqui o evento. Porque nossos corpos não lhes pertencem. Nossos sonhos não cabem nos seus padrões. Nossa luta não encaixa com estrela vermelha nem com bico de tucano. Queremos ser a faísca que incendiará para construir um novo mundo sem essas opressões, sem exploração. E para isso existe uma lição que a história não cansa de nos ensinar: é preciso lutar como uma garota.

Convido à todas jovens mulheres para construírem uma nova juventude anticapitalista, revolucionária, lacradora, purpurinada, rosa-shock, que luta como uma garota!




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