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ELEIÇÕES CAMPINAS | Por que a direita se incomoda com uma proposta contra as demissões?

Danilo ParisEditor de política nacional e professor de Sociologia

segunda-feira 15 de agosto de 2016 | Edição do dia

Uma prática tem se tornado bastante recorrente na internet: grupos de direita se organizam e se direcionam a uma página, especialmente as que expressam conteúdo de esquerda, para ‘bombardear’ de comentários e imagens contendo mensagens de desaprovação com ofensas e ameaças diretas.

A prática, conhecida na internet como Floodar, é organizada em grupos na própria rede social e/ou em páginas específicas, uma página de HTML funcionando como um chat aberto exclusivamente para este fim, onde comumente ocorrem exposições de pessoas, demonstrações de ódio e preconceito.

Nos últimos dias um caso tem se tornado ilustrativo, minha página de pré-candidato a vereador de Campinas recebeu um montante de mais de 800 comentários organizados pela direita em sua página de Facebook. O que despertou a fúria da direita? Uma proposta para impedir que as demissões sigam ocorrendo, e dar um basta na situação que tem deixado milhares de trabalhadores e seus familiares sem ter como se sustentar. Observando toda essa situação uma pergunta se torna inevitável: Por que a direita se incomoda tanto com uma proposta contra as demissões?

Por que exigir que se proíbam as demissões?

Demitir, recontratar, demitir de novo, rebaixar salários, e um longo etc., são alguns dos métodos dos empresários para manterem suas taxas de lucros sempre altas. Flexibilizam os empregados contratados para adequarem a produção que pretendem no período. O desemprego cumpre uma função estrutural para o capitalismo. Não só as demissões salvam o lucro dos empresários quando é necessário, como gera medo e insegurança nos trabalhadores que continuam no emprego. Essa insegurança permite ameaças e assédios que visam o aumento da produtividade e retirada de direitos básicos. Que trabalhador nunca escutou de seu patrão, supervisor ou gerente: "Você é um privilegiado. Já pensou quantos lá fora não gostariam de estar no seu lugar?". É este um dos mecanismos fundamentais do capitalismo para regular e rebaixar o salário. Para os empresários os trabalhadores são meros apêndices das máquinas, só servem na medida em que produzem valor. Para os empresários, a vida não importa.

Há também momentos, quando os patrões já lucraram muito, que decidem transferir sua fábrica para outra região do país ou do mundo, onde os trabalhadores ganhem menos e as leis trabalhistas sejam mais frágeis. Demagogicamente para justificar essa mudança, inventam planilhas e índices com dados de uma "situação difícil" e que não há outra alternativa, a não ser novas demissões, rebaixamento de salários, aumento das horas de trabalho. São processos fraudulentos, e quem paga a conta, novamente, são os trabalhadores demitidos. O exemplo da MABE, em Campinas, é a prova perfeita disso. Se os empresários passam por tantas dificuldades, por que não não divulgam todos seus livros de contabilidade e balanço financeiro, para que a população saiba realmente para onde está indo todo o dinheiro que lucraram por anos explorando os trabalhadores?

Na lógica da economia burguesa e de seus ideólogos a proposta é um disparate. Exclamam indignados: "mas se for assim os empresários irão falir!", "e o direito à propriedade privada?", "e a liberdade de fazer o que quiser com a sua empresa?". É justamente contra esses preconceitos, que parecem inquestionáveis nas ideias das classes dominantes, que queremos combater. São os trabalhadores que produzem tudo, ao empresário resta somente administrar e lucrar com o trabalho socialmente produzido. A economia de uma sociedade deve ser guiada de acordo com os interesses de toda a sociedade, e não de um grupo seleto que detém os meios de produção para se apropriar individualmente da riqueza produzida por todos. Não precisa de matemática ou estatística para saber que os trabalhadores são a imensa maioria da população e os empresários uma ínfima minoria.

A direita nas redes sociais quer contribuir com os ataques do governo golpista de Michel Temer

Sabe-se que desde antes da abertura do processo de impeachment, culminando no golpe de Michel Temer, a politização tem se tornado algo bastante presente na vida dos brasileiros, o turbulento cenário nacional tem levado a uma polarização das opiniões políticas e também há uma inclinação para se conhecer novas ideias. A direita tem visto a força das ideias de esquerda e o quanto tem potencialidade para responder às questões latentes da vida dos trabalhadores.

Temer tem se reunido com os principais empresários do país e sua meta é flexibilizar os direitos trabalhistas, atacar a previdência, e impor um teto de gastos estaduais para impedir reajuste salarial do funcionalismo. A direita destila seu ódio, porque um projeto de lei que impeça as demissões se choca frontalmente contra os planos de atacar e precarizar a vida dos trabalhadores. Aos que nos acusam de petistas, parecem esquecer que o governo do PT nunca passou perto de uma proposta desse tipo, ao contrário, durante seus 13 anos de governo os empresários acumularam lucros milionários e a demissões seguiram acontecendo como sempre ocorreu no capitalismo. Tampouco a CUT, dirigida pelo PT, chegou perto de construir qualquer plano real de lutas, greves e mobilizações para exigir o fim da demissões. Ao contrário, contribuíram com os empresários e poderosos aprovando nas assembleias de trabalhadores propostas que só ajudam os capitalistas, como a redução da jornada e dos salários dos trabalhadores, plano cinicamente nomeado Plano de Proteção ao Emprego.

O grande objetivo da direita no momento é estabilizar o governo Temer limpando o terreno, tanto nas esferas nacionais, estaduais como nas municipais, para impor que quem pague pela crise sejam os trabalhadores com a perda de seus empregos. Para argumentar a favor disto, o trabalhador se converte em um número nas mãos da direita, a ideia de que um índice tem que aumentar para estabilizar os demais se constrói, e sempre o número visado para o crescimento é o lucro dos empresários. Para cada 1% de aumento do índice de desemprego milhares de família passam fome, a direita sabe disso e encara como ‘necessário’. Afinal, é um sistema desgual e injusto.

Outro elemento é o fato de haver um candidato defendendo que se crie, em uma esfera municipal, uma lei que impeça as demissões em um momento de crise. A difusão destas ideias, em conjunto com o conhecimento de sua viabilidade, inquieta os empresários locais que temem que algo do tipo se generalize no país.

Por fim, o descabelar da direita só mostra que estamos no caminho certo. Babam de ódio por que percebem que é uma ideia perigosa para seus projetos. Que mais vozes floresçam e em uníssono busquem construir uma sociedade mais justa e humana, livre da exploração e a miséria que os capitalistas querem impor aos trabalhadores e a juventude.




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