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ENEM | Piadas com trabalhadores que se atrasam no ENEM, um comentário

Isa SantosAssistente social e residente no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ

segunda-feira 26 de outubro de 2015 | 14:18

Foto: O confeiteiro Araújo da Silva que não pode fazer a prova devido a seu patrão. Lucas Alves/IG

Neste final de semana toda grande mídia ficou a postos para cobrir os atrasos para chegar no ENEM. As TVs ao vivo mostravam o drama de jovens, senhores e senhoras que perdiam o horário e tinham seus sonhos afetados. Nas redes sociais suas histórias geravam piadas e memes preconceituosos. Reproduzimos abaixo uma história de um trabalhador que não pode fazer a prova porque seu patrão não o liberou, depois do breve relato publicamos um post em rede social de Isabela Santos, coordenadora do Centro Acadêmico de Serviço Social da UERJ sobre as piadas contra os trabalhadores no ENEM.

Araújo da Silva. Tem 39 anos e trabalha como confeiteiro. Chegou quatro minutos atrasado no Enem porque estava na padaria desde às 5h e não teve autorização para sair mais cedo. Chegou com a camiseta ainda cheia de farinha, suado pela corrida que não adiantou em nada. Faria o segundo dia do exame para obter o certificado de conclusão do ensino médio, uma das funções do Enem. Quer mudar de vida. "Não aguento mais essa vida de trabalhar de domingo a domingo", diz ele, que está há 20 anos na profissão. O trabalho faz parte de sua vida desde a adolescência. Largou o ensino médio justamente porque tinha dois empregos para sustentar a casa. Incentivado pela mulher, agora quer cursar Psicologia.

Comentário de Isabela Santos:

"Enquanto vocês fazem piada e acham engraçado eu estou chorando de ódio desse sistema que é uma merda, por todos os Araujos, por ser a única da minha família em universidade pública, porque o ensino superior é incerto para minha irmã que até antes da prova nunca tinha ouvido falar (na ESCOLA PÚBLICA em que estuda) em panafricanismo, pelos meus conhecidos e desconhecidos que não passaram no vestibular, porque se manter na faculdade é quase impossível.

O ENEM ainda é um vestibular, se você não sabe o que isso significa eu vou te dizer: fui a única da minha sala a passar para uma universidade pública e não foi porque eu me esforcei, foi porque paguei um cursinho extremamente caro, porque morava com meus avós que me sustentavam com um salário mínimo! Isso não me dá orgulho, me dá nojo, nojo desse filtro social maldito que esmaga os sonhos da juventude, nojo desse lugar elitista, racista e machista que é universidade e todo o processo pra se conseguir uma vaga.

E falando em machismo: não vai ser um tema de redação que vai mudar o quão machista é a universidade ou a quantidade de machistas, homofóbicos e racistas que estarão nas salas, nos corredores e nas festas! Não se iluda a opressão está ao monte e de forma escancarada no cotidiano da universidade entre o corpo discente e docente! O que precisamos é muito mais que a visibilidade de uma questão de prova, ou de um ou outro trabalhador que entre na universidade, mas que sejamos milhares lutando pelo fim do vestibular e pelos direitos das mulheres"




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