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Perversidade no Equador: município de Guaiaquil entrega caixas de papelão para enterrar os pobres

O município de Guaiaquil, em conjunto com uma empresa privada de fabricação de papelão apresentou, como “doação solidária”, a fabricação de mil caixões de papelão para quem perdeu seus entes queridos.

terça-feira 7 de abril de 2020 | Edição do dia

Quando falamos do desprezo profundo que sentem os empresários, amparados pelo Estado, pela vida dos trabalhadores e dos mais pobres, esta é uma das imagens inevitáveis. A dor já é suficiente entre os familiares, que devem permanecer com os mortos em suas casas, ou deixá-los sobre as calçadas à espera de que alguém os ajude, para que a prefeitura e uma empresa privada de papelão apresentem esta iniciativa perversa como um “gesto de solidariedade”.

As palavras que o vice-presidente Otto Sonnennholzner pronunciou como ameaça para quem não cumprir a quarentena; “se não cooperarem teremos que decidir quem salvar e quem não” responsabilizando-os pelo que na realidade é um descaso sem precedentes, tanto da prefeitura da cidade como do governo nacional, já se converteram em um fato. O Estado já não apenas define quem vive e quem morre, mas como e até qual é o enterro que “se merece”.

Certamente, as famílias ricas que têm mortos pelo COVID-19 não pensariam em oferecer uma caixa de papelão como um local de sepultamento e, na realidade, nunca teriam que depositar seus parentes nas ruas. O presidente Lenin Moreno ou a própria prefeita de Guaiaquil, estariam dispostos a aceitar esse acordo para seus parentes? Aceitariam essa contribuição solidária do Estado e das empresas para se despedir dos seus? Seguramente, nem sequer imaginam.

“Este vírus não discrimina grupos sociais e nem de gênero” declara um dos discursos oficiais, praticamente a nível internacional, porém quando para uns existe a possibilidade de acessar respiradores, atenção médica, enquanto outros morrem nas ruas e oferece-se uma caixa de papelão para enterrá-los como material descartável, fica claro que esta é uma pandemia de classe.

No lugar de investir em saúde, nos insumos necessários para atender o estado calamitoso que atravessa a província de Guayas e o país, em cuidados necessários para o pessoal da saúde, a única saída que propõem é esta “iniciativa empresarial”, que já tem gerado um amplo repúdio na população. Que se expressa pelas redes sociais, porque os meios de comunicação oficiais como o diário “El Universo” não fazem mais que ecoar, ressaltando “o caráter solidário” da iniciativa.

Esta pandemia põe em evidência não apenas as implicações do corte de verbas de décadas na saúde pública, agravada com o neoliberalismo, mas também a degradação de conjunto das condições de vida que a burguesia impõe às amplas massas da população, não podemos naturalizar a crueldade. Os trabalhadores, que estão colocando o corpo nessa pandemia, em aliança com os setores populares, devemos lutar por uma solução própria, com um programa próprio, que comece com um plano de saúde emergencial, centralização dos sistemas público e privado, basta de alocar recursos para pagar a dívida, para que seus lucros não fiquem mais acima de nossas vidas e na perspectiva de questionar profundamente esse sistema bárbaro para modificá-lo em suas raízes.

Artigo traduzido de La Izquierda Diario




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