Paulo Ciriaco, natural e morador de Taubaté, região do Vale do Paraíba (SP), excursiona pela poesia sem muitas pretensões.
Fábio NunesVale do Paraíba
domingo 10 de janeiro de 2016 | 00:00
Fez teatro (entre tantas, montagens de peças de Plínio Marcos e Brecht), avacalha e esculhamba os espectros e ruínas da Cidade Morta. Leitor voraz de Machado de Assis, Lima Barreto e dos mestres do haicai Bashô, Issa e Buson. Abaixo uma pequena entrevista com o autor e em seguida os primeiros fragmentos de seu livro Paisagem Acrílica, lançado pela editora Banal, que serão apresentados nas páginas deste site.
Esquerda Diário - Poesia? Vale a pena no Vale?
Paulo Ciriaco - Se vale, vale forever. Pior que é foda, sobra para o seu lado (risos). Deixa eu ver agora. Valeu?
ED - E na Metrópole?
Paulo Ciriaco - Agora é isso? Quem vai, quem vem e quem procura acha. Olha de esguelha, finge que vai, faz que não vai e acaba não indo. É entrevista?
ED - Poesia dá dinheiro?
Paulo Ciriaco - Tinha um chapéu mas faz tempo que o vento levou. Para alguns a poesia é um truque. Poesia é sacrifício e não um benefício.
Paisagem Acrílica
Pássaros de papel levando
no bico cata-ventos de estrelas que
vão girando até a calefação e
no aquecido conforto das abelhas
o tédio causava bolor. Deixando
colmeias, encontram na cidade:
cães metamorfoseando humildade
em arrogância, crianças brincando com
lúdicas malícias e homens, mulheres,
abstratos e metafísicos, fragmentando
a lucidez dos moinhos.
Desacostumados do oxigênio e sentindo-se
melhores com monóxido de
carbono, envenenavam mosaicos que
perdendo as cores, serviam apenas
como tabuleiros de xadrez e na
rua sem saída, a velha floricultura
persistia acondicionar
camélias em compoteiras acrílicas.
Carregando um desses souvenirs
o Cavaleiro Andante deixa-o cair
e ao quebrar, o zumbido que
ecoa emurchece a gota d´água.
Sobre a mesa, no esquecido copo,
a cerveja estava quente e o
aparelho de som, ligado no último
volume, chiando furioso,
não mais tocava Beethoven.
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