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MOVIMENTO ESTUDANTIL | Paralisação por cotas e contra o racismo institucional na UNICAMP

Em assembleia cheia, com cerca de cem pessoas, os estudantes do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP decidiram comprar a briga contra o racismo institucional do Departamento de Filosofia do Instituto e que paralisarão na próxima quarta-feira em apoio ao estudante Teófilo Reis e pela implementação das cotas raciais na pós-graduação.

Rebeca MoraesCoordenadora do CACH - Unicamp

sábado 3 de outubro de 2015 | 00:00

Há alguns dias, publicamos no Esquerda Diário a carta do Teófilo Reis, estudante da pós-graduação em Filosofia, encaminhada ao Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, IFCH, da UNICAMP. A carta questiona a determinação de seu desligamento do Programa de Doutorado, que decorre, dentre outros motivos, do fato de sua mudança no projeto de pesquisa, que passou a ser sobre Filosofia Africana. O Departamento afirmou, ainda, que não havia orientadores capazes de trabalhar com o tema, e por isso, Teófilo seria desvinculado ao Programa, mesmo com a proposta feita por ele de uma co-orientação, algo bastante comum. O argumento de que não há professores que possam orientar uma pesquisa que aborde a Filosofia Africana e o desligamento de alguém que queira iniciar este estudo é sintomático e evidencia que não há uma preocupação do Departamento de reverter esta realidade, e usa-se a burocracia como uma desculpa, quando na verdade não existe qualquer vontade política de mudar essa realidade. Entendemos que este caso escancara o racismo institucional do Departamento de Filosofia, que não reconhece sua limitação em relação à abordagem de temas essenciais e, com isso, não busca superar tais limites, mantendo um limite na própria produção do conhecimento.

Também a implementação das cotas raciais estão em disputa pelos estudantes contra a negativa do Departamento de Filosofia, não a toa, do Departamento de Demografia e do Departamento de Sociedade e Meio Ambiente. As cotas foram uma conquista arrancada com a mobilização dos estudantes que agora está em pauta novamente diante da negativa dos departamentos de cumpri-las no atual processo seletivo. As alegações passaram por um levantamento arbitrário entre os atuais estudantes já pertencentes ao programa e a partir de uma recusa contundente da realidade escandalosa de elitismo e falta de acesso que está imersa a UNICAMP. Esses casos combinados são ilustrativos e que expressam o projeto de universidade racista excludente e reservado às elites que é estabelecido pela UNICAMP. Às vésperas de concluir 50 anos de existência a UNICAMP ainda restringe o seu acesso à maioria da juventude com seu filtro do vestibular e sequer possui uma política de cotas raciais, pois é voltada aos interesses do empresariado que financia pesquisas em muitos institutos, pesquisas que não servem às necessidades mais elementares da população, mas para os lucros de tais empresas. Ficou nítido para os estudantes qual o papel da burocracia acadêmica: assegurar a ordem desse projeto de universidade e a manutenção de um regime universitário antidemocrático e restrito, onde a própria produção de conhecimento é completamente limitada. Na UNICAMP também está acontecendo outro processo de enfrentamento ao regime universitário, a mobilização contra os cortes de bolsas dos estudantes do PROFIS. Esses dois movimentos indicam o caminho aos estudantes da universidade, que só é possível assegurar direitos com organização e mobilização.

Em defesa de Teófilo e pela implementação das cotas raciais na pós-graduação da Filosofia, Demografia e Sociedade e Meio Ambiente os estudantes do IFCH paralisaremos na próxima quarta-feira dia 07 e se mobilizarão para estar na reunião da Congregação do instituto que para mostrar que não aceitaremos o racismo institucional e que Teófilo não está sozinho. Não aceitaremos justificativas legalistas ou burocráticas que buscam se sobrepuser à política para manter a resignação e passividade, ao contrário, já nos dispomos a travar a batalha que for preciso para reverter a posição do Departamento de Filosofia.




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