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CORONAVÍRUS RJ | Para agradar os lucros do comércio, Witzel abranda quarentena no interior do Rio

Nessa terça-feira (7), o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, cedeu à pressão de empresários e, sem se preocupar com a vida das populações, afrouxou as medidas de fechamento do comércio em 30 cidades do interior do estado fluminense.

quarta-feira 8 de abril de 2020 | Edição do dia

Segundo o decreto do governador, cidades da região Norte, Noroeste, Sul e Serrana do estado do Rio que não tiveram, por verdadeiro achismo, a ocorrência de pessoas infectadas pelo coronavírus estão sendo liberadas para abrir parte do comércio, nos marcos de que há extrema subnotificação pela falta de testes massivos.

Antes da aplicação dessas medidas de abrandamento da quarentena, apenas a liberação do comércio foi novidade, mantendo-se, por sua vez, a proibição do fluxo de pessoas entre os municípios e a suspensão das aulas nas escolas. Ainda segundo o governo, as pessoas podem circular internamente para poder comprar no comércio, porém não se deve fazer aglomerações, sem, portanto, informar como essas orientações se efetivarão de fato.

Prefeitos das cidades de Paty de Alferes e de Vassouras, perguntados pela grande mídia se conseguiriam realizar o controle de aglomerações pretendido pelo novo decreto, afirmam que não existem meios para isso, o que revela o desleixo do governador com a vida das populações, criando decreto criminoso que vai na contramão das recomendações de cientistas e especialistas da saúde para agradar a burguesia comercial da região, classe que luta desde o início da crise pela conservação de seus lucros minimizando os efeitos prejudiciais do novo coronavírus, agindo em linha com as declarações igualmente genocidas do presidente Bolsonaro no trato dessa crise.

Contudo, esse decreto vem reforçar duas políticas que nós do Esquerda Diário viemos chamando a atenção desde o início da crise da pandemia do Covid-19. Em primeiro lugar, a localização dos governadores. Desde o começo da crise, a maioria dos governadores, notadamente o de SP, João Dória (PSDB), e o do RJ, Wilson Witzel (PSC), se colocaram como contraponto do regime às tentativas genocidas de Bolsonaro em desprezar abertamente a vida dos trabalhadores e dos setores mais empobrecidos da população.

Ao defender o confinamento seletivo para os grupos de risco visando liberar sem amarras as atividades das empresas, Bolsonaro se viu enfrentado pelas medidas dos governadores em manter a quarentena, orientar a população a não circular nas ruas e em impor o fechamento de setores considerados não essenciais, como grande parte do comércio.

Aos olhos da grande mídia e de setores honestos da população, os governadores, frente às bravatas irresponsáveis de Bolsonaro, são vistos como a ala “racional” do Estado, o que se expressa em recente pesquisa Datafolha dando aos governadores de SP e do RJ indicativos de que no momento são mais populares do que o próprio presidente.

No entanto, o que estamos vendo com esse decreto é que pelo menos o governador do RJ, Wilson Witzel, é um demagogo. Se coloca como oposição eficaz ao presidente no combate ao Covid-19, sendo elogiado pela cobertura do Globo todos os dias, mas na prática cede também às fortes pressões do comércio fluminense, e numa canetada libera para esse setor burguês o retorno de suas atividades sem ter a noção de que, segundo especialistas de respeitáveis instituições públicas de saúde, a curva de transmissão do vírus tem toda a probabilidade de aumentar exponencialmente nesse mês e no início do próximo. Sem contar que, a cada dia, mais pessoas são notificadas com suspeitas do coronavírus no estado.

Em segundo lugar, esse decreto irresponsável não leva em conta as evidências científicas. É absurdo que em base a puro achismo o governador libere as restrições de quarentena sem ter utilizado, no mínimo, os testes diagnósticos massivos para saber se realmente as 30 cidades do estado estão realmente livres da transmissão do Covid-19. O que escancara também a sua total falta de competência é o fato de lidar com a crise na capital e nas cidades onde já existem infectados sem se utilizar dos testes massivos. Inclusive, sem testes massivos o governo nem mesmo sabe se há casos de subnotificações nessas cidades liberadas, o que agrava a sua total irresponsabilidade e desprezo com a vida da população. Até mesmo na grande mídia é recorrente as informações sobre um alto número de subnotificações. Então, como o governo garante que nessas cidades, ou pelo menos em uma apenas (que seria o bastante para fazer um baita estrago), não há casos da doença?

A saída é o povo decidir

Gostaríamos de lembrar que Witzel não está sozinho nessa empreitada criminosa. O prefeito da capital carioca, o bispo Marcelo Crivella, também está nem aí para a vida da população, e ensaia seguir os passos de Bolsonaro começando pela abertura gradual do comércio, defendendo abertamente que os jovens têm que trabalhar e os idosos se resguardarem em suas casas, o que resolve nada, pois os mais velhos mantêm contatos com os mais jovens e com os possíveis assintomáticos (pessoas com o coronavírus que não apresentam sintomas da doença).

E em outros estados, como no Mato Grosso do Sul, em Rondônia e no Roraima, com governadores de extrema-direita e aliados do bolsonarismo, também preferem a via das mortes para salvar os lucros de um reduzido grupo. Devido a esse cenário, insistimos que a superação da crise não virá das alas do regime, seja do presidente ou de qualquer governador, e que apenas poderá vir da própria classe trabalhadora.

Enquanto essas alas preferem ceder aos lucros da burguesia comercial, profissionais da saúde e pesquisadores de universidades públicas atuam para produzir os insumos necessários para o combate ao vírus e para atender na linha de frente os adoentados. Também se faz necessário a aplicação de medidas complementares a esses verdadeiros exemplos de combatividade ao vírus, organizando para já a produção da indústria estabelecida no país de insumos e equipamentos necessários aos profissionais da saúde realizarem um efetivo combate aos infectados, em realizar imediatamente testes massivos na população para um combate racional contra a epidemia, em confiscar os equipamentos das redes privadas de saúde e centralizar suas operações sob a égide do SUS, e por fim, em taxar progressivamente as grandes fortunas para que saia daí o dinheiro necessário para as importações dos produtos médico-hospitalares e para as ajudas financeiras aos setores mais empobrecidos da população, sem que tenha de ser feita mais dívida pública para isso.




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