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Guerra Ucrânia | Para Xi Jinping, ganhos geopolíticos com Putin compensam perdas econômicas

A divisão da atenção dos EUA em frentes distintas, com potências da magnitude da China e da Rússia, parece ser um trunfo precioso demais para ser abandonado por Xi.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

sexta-feira 11 de março de 2022 | Edição do dia

A obsessão da burocracia do Partido Comunista Chinês por estabilidade social, em seu território e em toda a sua mais próxima zona de projeção de influência no Leste asiático, teve de lidar com o inesperado movimento de Putin de invadir a Ucrânia. A reacionária invasão da Rússia é movida por interesses de segurança geopolíticos, ameaçados pelo imperialismo dos Estados Unidos e da OTAN, com seu expansionismo agressivo desde a década de 1990.

A imprensa ocidental, ligada aos objetivos da OTAN, utiliza suas páginas para atemorizar a ditadura de Xi Jinping sobre o aventureirismo de Putin e seu poder de desestabilização, a fim de inserir uma cunha na reconhecida aproximação estratégica entre Pequim e Moscou. O anunciado interesse da China em oficiar de intermediário para um cessar-fogo na Ucrânia, como noticia o The Guardian, e o conselho de Xi a que Putin resolva a questão com “negociações equilibradas”, atestam que a preocupação com a estabilidade não mudou em Pequim, em um ano decisivo para o governo central. No final de 2022, Xi buscará um inédito terceiro mandato no 20º Congresso do Partido Comunista, o que implica meses de preparação e disciplinamento das fileiras da burocracia bonapartista a nível municipal e provincial.

As sanções econômica que Joe Biden e as potências da União Europeia vem aplicando contra a Rússia, afetando em primeiro lugar a classe trabalhadora que assiste a uma onda de fechamentos e demissões, tem também um objetivo geopolítico. A jogada é arriscada, pois prejudicar a economia russa inclui acrescentar solavancos em toda a economia mundial, em especial pela alta dos preços de matérias-primas essenciais (como petróleo, gás, trigo e milho). Os Estados Unidos, por exemplo, já sentem a maior taxa de crescimento inflacionária anual desde 1982. A inflação galopante é sentida, também, pela China, que já está enfrentando fortes ventos adversos, no marco de uma desaceleração econômica devido a problemas de abastecimento energético e a crise do setor imobiliário, e lutará este ano para atingir sua meta mais baixa de crescimento econômico anual em mais de três décadas.

Em sua ligação com o presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, Xi Jinping acusou preocupação, atribuindo os percalços econômicos às sanções norte-americanas e europeias. “As sanções afetarão as finanças globais, a energia, o transporte e a estabilidade das cadeias de abastecimento, e prejudicarão a economia global que já está assolada pela pandemia”, disse Xi. “Isto não é do interesse de ninguém”.

Mas seria esse um motivo suficiente para que a China comece a questionar sua aproximação com Moscou, intensificada desde 2013 com a relação pessoalmente estreita entre Xi e Putin? A realidade geopolítica lança coordenadas mais complexas, que dificultam, mais que facilitam, as manobras de desacoplamento ensaiadas com algum desespero por parte do imperialismo norte-americano. Pelo contrário, é possível que a jogada de Washington e o envolvimento de Biden no tabuleiro europeu tendam a fortalecer a unificação sino-russa.

Percalços econômicos atribulam Pequim

Há, sem dúvida, prejuízos econômicos para a China oriundos da invasão de Putin à Ucrânia. Entre as grandes economias, a China é uma das mais expostas às conseqüências da guerra. Como o maior importador mundial de petróleo, assistiu ao aumento dos preços do petróleo bruto – que já eram altos – em 27% desde o início da guerra, enquanto os contratos de minério de ferro chinês subiram 25% durante os primeiros 10 dias do conflito. O preço do barril de petróleo alcançou essa semana quase US$ 140, atingindo seu nível mais alto desde a crise financeira de 2008.

A escala da demanda de energia e recursos da China é grande: em 2021, suas importações de petróleo bruto e gás natural chegaram a Rmb2 trilhões (US$316 bilhões), e gastando outros Rmb1,2 trilhões em importações de minério de ferro. A segunda maior economia do mundo importa cerca de 70% de seu petróleo e 40% de seu gás.

Dentro dessa dependência estrangeira, o comércio energético com a Rússia vem aumentando. Semanas antes da invasão russa à Ucrânia, Putin e Xi assinaram um contrato de 30 anos para fornecimento de gás à China através de um novo gasoduto, reforçando uma aliança energética com Pequim. Tratava-se de evitar novos períodos de queda da produção industrial em função da escassez de carvão, principal combustível utilizado pela China. A título de medição, entre janeiro e dezembro de 2021, as importações totais de gás natural da China aumentaram 19,9% ao ano, com as importações via gasodutos aumentando mais de 22% e as importações de gás liquefeito crescendo mais de 18%, de acordo com os dados da Administração Geral de Alfândega. As importações de gás natural da China oriundas da Rússia aumentaram 50,5% ao ano em 2021, com o volume de gás via gasoduto subindo 154,2%, para 7,54 milhões de toneladas. Em dezembro de 2021, a Gazprom disse que a quantidade diária de exportações de gás para a China havia sido significativamente aumentada sob acordos com a China National Petroleum Corporation, sob a supervisão de Xi, excedendo os volumes previamente aprovados para 2021.

Os gigantes capitalistas especuladores em matérias-primas na China também sofrem o baque. O principal produtor de aço inoxidável da China está no olho do furacão pelo aumento dos preços do níquel: apostando que o preço cairia, viu um aumento exponencial dos preços do metal provocado pela guerra na Ucrânia. O Grupo Tsingshan Holding, do bilionário chinês Xiang Guangda, foi forçado a comprar contratos ligados ao metal em grandes volumes. Pequim está explorando um plano para resgatar Xiang de bilhões de dólares de perdas potenciais. Como outras commodities, o níquel sofreu um terremoto pela guerra na Ucrânia. A Rússia é um grande fornecedor do metal, produzindo 16% do níquel de alta qualidade do mundo, de acordo com o Goldman Sachs.

O impacto econômico contra a China poderia ser ainda mais pronunciado quanto aos alimentos. A Rússia e a Ucrânia fornecem 30% das exportações mundiais de trigo. Todos os portos de carga ucranianos estão fechados, e com muitos agricultores recrutados pelo exército de Zelensky, além da escassez de fertilizantes e pesticidas, as colheitas estão em sério risco (fator que explica o aumento dos preços do trigo em 40%). Como escreve o economista marxista Michael Roberts, atribuindo as turbulências econômicas que afetam empresas imperialistas ao conflito na Ucrânia: “Os preços globais das commodities atingiram o nível mais alto desde 2008 esta semana, quando a crise na Ucrânia intensificou as preocupações com o fornecimento global de matérias-primas. West Texas Intermediate, a referência de petróleo dos EUA, subiu até $115 por barril, um nível que atingiu pela última vez há 14 anos. Trigo, milho e girassol estão todos em risco na Rússia e na Ucrânia. Além disso, porém, o aumento dos preços do gás natural está tornando a produção de amoníaco proibitiva em termos de custo, enquanto as exportações de potássio da Rússia e da Bielorrússia (que juntas compreendem um terço do produto comercializado globalmente) estão em risco. Ambos são ingredientes essenciais para os fertilizantes. Isto poderia perturbar a agricultura em geral durante este ano e no próximo.

Em função disso, os preços do trigo chinês e os do milho estão em patamares recordes. O ministro da agricultura de Xi, Tang Renjian, disse esta semana que, devido às fortes chuvas, as condições para a colheita de trigo no inverno deste ano “podem ser as piores da história. A produção de grãos deste ano enfrenta enormes dificuldades”. Em parte como resultado, as importações de trigo da China para a temporada 2021-22 deverão aumentar pelo menos 50% acima de sua média dos três anos anteriores, para 9,5 milhões de toneladas, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA.

Esse panorama sombrio talvez tenha sido o motivo da palestra de Xi ao governo central sobre a importância da segurança alimentar para um grupo de delegados presentes na sessão anual do parlamento chinês. “Não devemos afrouxar nossos esforços em relação à segurança alimentar. Também não devemos contar com o mercado internacional para resolver o problema. Precisamos estar preparados para manter a segurança alimentar como nossa prioridade”. “As tigelas chinesas”, acrescentou ele, “devem ser enchidas principalmente com comida chinesa”.

Acrescente-se a isso a proporção ainda menor do comércio sino-russo frente aos acordos econômicos chineses com as potências ocidentais. O comércio da China com a Rússia atingiu US$ 147 bilhões no ano passado, de acordo com números chineses, em comparação com US$ 828 bilhões e US$ 756 bilhões, respectivamente, com a UE e os EUA. Xu Poling, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, diz que o conflito na Ucrânia não é do interesse de Pequim. “A China não se beneficiará da guerra Rússia-Ucrânia. O conflito tem perturbado as cadeias de abastecimento globais das quais depende a economia chinesa. O comércio da China com a Rússia é muito menor do que economias desenvolvidas como os EUA e a UE”.

Se a guerra russo-ucraniana se estender, os custos da parceria da China com Putin se incrementarão.

Compensações geopolíticas

Mas o aumento dos custos econômicos de uma aliança estratégica nem sempre significam sua inviabilização. Geopoliticamente, há muitas coisas em jogo, e a ditadura capitalista na China parece decidida a encontrar na Rússia de Putin um ponto de apoio fundamental no questionamento da ordem mundial neoliberal encabeçada pelo imperialismo norte-americano.

Wang Yi, chanceler chinês, defendeu nesta segunda-feira em meio aos bombardeios russos que a amizade entre Rússia e China é “eterna”, acusando os EUA por tentar estabelecer uma “versão Indo-Pacífico da OTAN”, referindo-se ao Quad (que envolve Austrália, Japão e Índia). Em termos lapidares, que não são nada menos que um tapa no rosto do imperialismo ocidental, Wang afiirmou que o governo chinês quer dar ao mundo uma “mensagem inequívoca de que a China e a Rússia se opõem conjuntamente às tentativas de reavivar a mentalidade da guerra fria”, acrescentando que “por mais precária e desafiadora que seja a situação internacional, a China e a Rússia manterão o foco estratégico e avançarão firmemente em nossa coordenação de parceria estratégica abrangente para uma nova era”.

Mesmo em meio à pressão crescente e aos sinais de atuar como mediador, há ainda poucos sinais de que a China esteja se distanciando da Rússia. Os funcionários de Xi Jinping asseguram sistematicamente que a Rússia é o “parceiro estratégico mais importante da China”. Alexander Gabuev, um membro do Carnegie Endowment em Moscou, diz que existem fortes razões para a química pessoal entre Xi e Putin. “Pela primeira vez temos dois líderes que são semelhantes. O que também é importante é que tanto a Rússia sob Putin quanto a China sob Xi se tornaram muito mais centrados no líder ... o tsar e o imperador”.

De fato, tudo indica que Xi soubesse já dos planos militares de Putin durante a visita do presidente russo a Pequim, no início de fevereiro, por ocasião dos Jogos Olímpicos de Inverno. Isso não alterou o rumo da entente asiática, que para a China é estratégica na contenção da interferência norte-americana na região do Indo-Pacífico, em especial visando seus planos de reincorporação de Taiwan e domínio das rotas comerciais no Mar do Sul da China.

Durante os Jogos Olímpicos, Putin e Xi Jinping emitiram um longo comunicado conjunto endossando os esforços para manter a influência imperialistas dos EUA fora de suas proximidades no exterior, atacando as alianças dos Estados Unidos como relíquias da Guerra Fria, e defendendo seus próprios modelos autocráticos de governo. Foi a primeira vez que a China se opôs oficialmente à expansão da OTAN. Até agora, apesar dos problemas econômicos, a China não reconheceu a agressão russa como uma invasão e muito menos a condenou, abstendo-se de votar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando a invasão russa. Zhang Jun, o enviado da China à ONU, aproveitou a ocasião para atacar os EUA: “Contra o pano de fundo de cinco rodadas sucessivas de expansão da OTAN para o leste, as legítimas aspirações de segurança da Rússia devem ser atendidas e devidamente tratadas”.

A intensificação dos atritos da China com os EUA coincidiu com a chegada de Xi Jinping ao poder, momento em que Washington passava a enfatizar o discurso do “pivô” de Barack Obama para a Ásia-Pacífico (um fracasso devido à presença das tropas norte-americanas no Afeganistão). A contenda se acelerou em 2018 quando Donald Trump iniciou uma dura guerra comercial com a China que começou com a imposição unilateral de tarifas punitivas e mais tarde se ampliou para incluir restrições ao acesso das empresas chinesas às tecnologias americanas de ponta.

Desde que tomou posse, Biden tem ignorado as exigências de Pequim para desanuviar as tarifas de Trump e as restrições tecnológicas. Biden continuou a postura trumpista de “linha dura” sobre a China, ainda que tentando mediar a competição com a colaboração em alguns terrenos. Ao mesmo tempo, reconstruiu alianças ocidentais e chegou a uma nova arquitetura de segurança, como o pacto AUKUS que dará à Austrália a tecnologia de propulsão nuclear submarina (o programa de rearmamento alemão foi usado como desculpa pelo governo de Scott Morrison para iniciar a construção de uma base militar submarina na costa Pacífica da Austrália, visando a China). Sobre as ambições de Washington, na visão de Pequim, Wang Yi foi taxativo: Biden trata de “manter o sistema de hegemonia liderado pelos EUA, minar a cooperação regional [no sudeste asiático] e comprometer os interesses gerais e de longo prazo dos países da região”.

Diante disso, não espanta a postura chinesa. Como escreve Hal Brands no Foreign Affairs: “A convergência sino-russa dá a ambas as potências mais espaço de manobra ampliando o problema das duas frentes de Washington: os EUA enfrentam agora rivais próximos cada vez mais agressivos em dois teatros separados, Europa Oriental e Pacífico Ocidental, que estão a milhares de quilômetros de distância. A cooperação sino-russa, embora tensa e ambivalente, levanta a possibilidade de que os EUA enfrente seus dois rivais combinados em um único eixo autocrático. Mesmo antes disso, a situação atual reavivou o grande pesadelo geopolítico da era moderna: um poder ou entente autoritária lutando pelo domínio na Eurásia, o teatro estratégico central do mundo.”. O próprio conflito parece resultar no objetivo contrário de Washington, que era de separar paulatinamente os dois países. A divisão da atenção dos EUA em frentes distintas, com potências da magnitude da China e da Rússia, parece ser um trunfo precioso demais para ser abandonado por Xi.

Parte do Joint Western 2021 entre Rússia e China

Como escrevemos nesse artigo, o aproveitamento desse trunfo se dá em termos militares também, cujo mais recente exemplo foi a operação “Joint Western 2021”, primeiro exercício militar interno ao território da China com participação russa, na região de Ningxia. Quando as forças armadas chinesas e russas começaram os exercícios conjuntos em 2005, fizeram parceria apenas no exercício anual cognominado “Missão de Paz”, sob a Organização de Cooperação de Xangai (que envolve China, Rússia e países da Ásia Central como Cazaquistão e Uzbequistão), tradicionalmente focada em combater as insurgências na Ásia central. Mas desde 2012, a Rússia e a China vêm realizando exercícios navais bilaterais regulares. Desde 2018, o Exército de Libertação Popular participou de três dos exercícios estratégicos anuais da Rússia, realizados nas partes leste, central e sul da Rússia. Tilman Pradt, que escreveu em 2016 o livro “China’s New Foreign Policy: Military Modernisation, Multilateralism and the ‘China Threat’”, sistematiza a regularidade praticamente anual em que China e Rússia sustentam exercícios navais conjuntos em uma ampla área de abrangência do território asiático, envolvendo inclusive os Mares do Sul e Oriental da China, exercícios dominados por operações anti-submarinos e de defesa aérea. Essas operações de treinamento tem em mira a preparação, que combina elementos retóricos com elementos reais, para a reincorporação forçada de Taiwan ao território da China continental, assim como a defesa de Xinjiang, uma zona rica em recursos energéticos.

Todos esses fatores aproximam Pequim de Moscou do ponto de vista geoestratégico, e são um grande aliciente para que Xi Jinping absorva determinados impactos econômicos que advém do seu apoio a Putin. E o apoio é concreto inclusive do ponto de vista econômico. A China anunciou que duplicará o alcance comercial permitido entre sua moeda (renminbi) e o rublo da Rússia para ajudar a reforçar o comércio entre os dois países, absorvendo certos efeitos das sanções ocidentais impostas após a invasão da Ucrânia. O Sistema de Comércio Cambial da China (China Foreign Exchange Trade System, CFETS em inglês) anunciou na quinta-feira que “de acordo com as exigências do desenvolvimento do mercado” ampliaria a faixa de negociação diária para a taxa de câmbio do renminbi com o rublo, permitindo que o cruzamento de moeda chegue a 10% em qualquer direção de um ponto médio diário estabelecido pelo Banco Central da China, acima dos 5% anteriormente (https://www.ft.com/content/df240b8a-d7be-4f38-a289-8b5ebb09fba1) .

Trata-se de uma provocação contra os EUA e a OTAN, uma vez que, sem se postar diretamente contra as sanções, renovam o fôlego de Moscou para prolongar a ofensiva militar. Além de uma janela para as ambições chinesas no terreno financeiro: a mídia estatal destacou a oportunidade para o país de impulsionar o uso de seu próprio sistema de pagamentos transfronteiriços destinado a rivalizar com a Swift, facilitado pelo fortalecimento da moeda chinesa contra o rublo e outras asiáticas.

Mas as incógnitas da guerra...

É fato que cada um persegue objetivos individuais ao atuar em parceria com o outro contra Washington. China e Rússia tem disputas na Ásia Central, em que as duas potências não podem ser preeminentes simultaneamente. A Rússia não tem apreço pelo mundo sinocêntrico que Xi Jinping quer impor, e Pequim enxerga Moscou como um vulnerável ponto de instabilidade no Oriente Médio e no Leste europeu. Mas embora os objetivos finais de Xi e Putin divirjam, seus objetivos intermediários os aproximam. A Rússia é mais importante no panorama global dentro da entente com a China do que sozinha. A China tem mais possibilidades de enfrentar os EUA no terreno do Indo-Pacífico dividindo a atenção da Casa Branca em duas frentes, e assegurando que através da Rússia a Ásia seja obrigada a dobrar-se aos anseios de Pequim. Esse interesse comum é o principal obstáculo a sugestões de autores perspicazes como Rafael Poch, que aconselha Washington a operar um “1972 ao contrário”: ou seja, inverter a orientação política que, a meados da década de 1970, Kissinger e Nixon utilizavam para isolar a União Soviética, aproximando a China.

Mas na geopolítica também há certos limites. Os riscos são admissíveis até se tornarem inaceitáveis. Qual seria o ponto em que os atritos sino-russos se converteriam em algo inabsorvível para Pequim? O aumento dos preços das matérias-primas, a alta inflacionária e o risco alimentar na China podem gerar convulsões sociais que coloquem em risco os preparativos para a apoteose de Xi em novembro. De todo modo, a guerra na Ucrânia abriu novas incógnitas, e as crises econômicas e militares podem colocar variantes da luta de classes que mudem os cálculos de todos os atores envolvidos nas disputas capitalistas. Num ano em que precisa da “paz dos cemitérios” para garantir seu terceiro mandato no 20º Congresso do PCCh, as condições objetivas para uma conquista pacífica desse trunfo não parecem cooperar com Xi.




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