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PÃO E ROSAS MARÍLIA | Pão e Rosas Marília discute gênero e sexualidade na ETEC de Marília

Na semana do dia 7, aconteceu no Espaço Cultural, em Marília, a Semana do Ensino Médio realizada pela ETEC Antônio Devisate. O Pão e Rosas, frente de Marília, foi convidado para debater sobre questões de gênero e sexualidade.

quarta-feira 23 de setembro de 2015 | 00:00

Na semana do dia 7, aconteceu no Espaço Cultural, em Marília, a Semana do Ensino Médio realizada pela ETEC Antônio Devisate.

A semana é organizada todos os anos pela administração da escola em conjunto com os estudantes e tem como proposta trazer diversas discussões com temas relacionados à questão da água, do transporte coletivo, de cultura, dentre outros, além de espaços para expressão artística das e dos estudantes. O Pão e Rosas, frente de Marília, foi convidado para debater sobre questões de gênero e sexualidade na sexta-feira (11).

Ana Carolina Fulfaro, militante do Pão e Rosas e professora da rede estadual, iniciou o debate colocando a forma como são construídos os padrões de sexualidade estabelecidos, ou seja, a divisão determinada a partir do órgão genital (vagina ou pênis) e as características derivadas disso. Isso é, se uma pessoa nasce com vagina, logo se impõe que ela seja feminina, se encarregue dos trabalhos domésticos, ocupe determinados postos de trabalho fora de casa, seja considerada frágil e dependente e se relacione apenas com o gênero “oposto”.

Enquanto que aquelas que nascem com pênis logo são educadas para ocuparem os espaços públicos, ocuparem cargos ditos “masculinos”, expressarem força, coragem e se relacionarem com o gênero “oposto” também. Esses padrões são reproduzidos o tempo todo através da mídia, da escola, da família etc e todas as pessoas que destoam deles sofrerão alguma forma de opressão (transfobia, lesbofobia, homofobia, bifobia etc).

Em seguida, Mariana Galletti, estudante da Unesp de Marília e também militante do grupo Pão e Rosas, introduziu a discussão de como esses padrões submetem as mulheres a lógicas opressoras dentro de casa, encarregando a elas o serviço doméstico de forma gratuita, aumentando o lucro dos patrões que deveriam bancar esses trabalhos reprodutivos, pois são essenciais para que as pessoas retornem ao trabalho no dia seguinte. Além disso, por esses serviços ocuparem muito tempo, as mulheres acabam por perder grande parte do tempo que poderiam gastar para se organizar politicamente.

Além disso, outra questão colocada que assola as mulheres dentro das casas é a violência doméstica. Esta é totalmente naturalizada em nossa sociedade e, em geral, as mulheres são culpabilizadas por esse tipo de violência das quais são vítimas diariamente. No Brasil, algumas leis foram aprovadas, como a Lei Maria da Penha (2006) e a Lei do Feminicídio (2015) e representam grandes avanços na luta das mulheres. Entretanto, foi pontuado como ainda apresentam limites, já que na maior parte das denúncias a culpa recai sobre as mulheres e estas são desencorajadas a levar o processo a frente, inclusive pela própria polícia.

Ana Carolina, depois disso, debateu sobre um terceiro tipo de violência sobre as mulheres: a cultura do estupro. Ela mostrou como a mídia em geral, principalmente por meio da publicidade, torna natural o assédio e o estupro às mulheres. Também nesse caso, a maior parte das vítimas são culpabilizadas e diz-se que “estavam pedindo”, ainda que seja algo que ocorre com qualquer mulher: de roupa curta, de burca, calça, gordas, magras, negras, brancas, asiáticas, árabes, a qualquer hora do dia. As instituições e a polícia também contribuem para que essa violência continue ocorrendo, já que na maior parte dos casos se abstêm ou, mais uma vez, dizem que a culpa foi da vítima.

Por fim, Ana expôs o histórico de luta das mulheres desde o início do século XX e como através delas conseguimos avançar em muitos aspectos da opressão que sofrem diariamente, ao contrário do que tentam esconder os livros didáticos e mídia em geral. Ressaltou a importância dessa retomada histórica para que nos reconheçamos enquanto sujeitos políticos ativos que podem mudar a realidade, que é sempre passível de mudanças.

Sobre isso, comenta: “É de extrema importância que as escolas introduzam o debate sobre os mais diversos tipos de opressão em seu cotidiano para que nós, enquanto professores, possamos nos armar para combatê-las na sala de aula e para que os estudantes tenham desde cedo uma formação que desnaturalizem esse tipo de prática e que possam se reconhecer como sujeitos ativos nessa luta.”




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