domingo 22 de janeiro de 2017 | Edição do dia
"Pai afasta de mim essa selfie, fiquei com essa ideia na cabeça. Imediatamente lembrei da música imortalizada por Chico e Milton". Conta uma repórter do Esquerda Diário que esteve no velório de Teori Zavascki em Porto Alegre.
"Estava lá junto a tantos repórteres se perguntando onde estava Carmen Lucia. ’Todas autoridades estão aqui, cadê Carmen Lucia’ era a pergunta recorrente ali, do outro lado do isolamento. Do meu lado um fotógrafo respondia a quem supunha que era seu editor "não, ela não está aqui, vou te enviar a melhor foto que conseguir".
"Voltei para casa sem conseguir ver como seria o convívio dos ministros do Supremo em especial Carmen Lucia com os campeões de citações na Lava Jato e Wikileaks ali presentes", continuou seu relato a nossa redação. Sua missão era especial essa, buscar capturar não somente em foto mas nas ideias, essas pequenas coisas obscuras e clandestinas que agora dominam a política nacional em momento de crise política.
"Ao chegar em casa vi que pouco a pouco alguns meios de comunicação, até mesmo o UOL publicavam que foram expressamente instruídos a não fotografá-la enquanto Temer e outros estivessem ali. Não ouvi essas ordens, mas era marcante um clima de constrangimento, seja pelos sorrisos de Serra, ou de Moro ao falar com os repórteres. Sorrisos que eram mecanicamente substituidos por caras sorumbáticas. Um show de aparências e protocolo. Mas a falta da foto conjunta foi uma quebra de protocolo e um sinal que Carmen quis transmitir"
Perguntado sobre o que esse gesto significa, Leandro Lanfredi, editor do Esquerda Diário afirmou: "Carmen Lucia quer fazer uma operação de marketing. Se Lula teve que criar o "lulinha paz e amor", Carmen terá que criar a "Carmen sorumbática e imparcial", ela precisa se mostrar independente de Temer e de parte das forças golpistas para dar maior credibilidade a suas decisões".
O editor continuou sua análise: "É um sinal de que pretende homologar, ou trabalhar para que algum ministro homologue rapidamente as delações da Odebrecht. Mostrar-se independente, como fazia o falecido Teori é parte importantíssima da legitimidade do STF. Uma suposta de independência que é usada para decisões incoerentes, arbitrárias, e mostrar um distanciamento que ocorre no plano político mas não no plano dos ataques aos direitos dos trabalhadores, a mesma Carmen Lucia que não quis foto com Temer reune-se quase toda semana com ele, fecha acordo que ataca todos direitos dos funcionários públicos no Rio e pretende colocar em votação uma agenda de casos envolvendo a reforma trabalhista, previdenciária e ainda a extensão "ampla, geral e irrestrita" da terceirização."
Temas
