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PODEMOS ESQUERDA ESPANHOLA | Pablo Iglesias faz pouco caso aos críticos e mantém as primárias blindadas

Aprofunda-se a crise no Podemos. Os “críticos” pedem uma consulta interna sobre o modelo de primárias imposto pela cúpula do Podemos. Pablo Iglesias não faz nenhuma concessão e a direção se blinda das críticas.

quinta-feira 9 de julho de 2015 | 00:14

A crise aberta em Podemos por causa do recentemente aprovado regulamento para as primárias continua se aprofundando. Os críticos do modelo se agruparam em torno ao manifesto Podemos es Participación (Podemos é participação), ao que já aderiram mais de 5.600 assinaturas, das quais 763 pertencem a cargos autonomeáveis e municipais. Pedem por um novo sistema proporcional e um plebiscito interno para consultar a opinião dos afiliados.

Entre os assinantes se encontram a dirigente do Podemos na Andaluzia e Navarra, Teresa Rodriguez e Laura Perez respectivamente, o prefeito de Cádiz, José Maria Gonzalez “Kichi”, a presidente do parlamento balear, Xelo Huertas; a vice-prefeita de Oviedo, Ana Taboada, os euro deputados Lola Sãnchez e Miguel Urnan, assim como personalidades próximas a formação como o ator Alberto San Juan e o cantor Nacho Vegas, entre outros.

Além disso, foram feitas críticas e diversos pronunciamentos de rechaço desde as direções regionais de importantes praças como Aragón – encabeçada por Pablo Echenique – Euskadi, Astúrias, Ilhas Baleares ou a própria Comunidad de Madrid.

Em Andaluzia, no sábado passado se debateu uma resolução crítica que aprofundou as divisões entre a direção regional. Teresa Rodriguez de Anticapitalistas, que encabeça o conselho cidadão andaluz, compartilha a direção junto a membros afins a Pablo Iglesias devido ao acordo de direção conseguido com Pablo Iglesias para que o mesmo a respalde como candidata a Junta. Porém os membros afins a Tereza estão em minoria no órgão.

Esta situação haveria impedido que fosse adiante tal resolução ao se alcançar um empate técnico a 15 votos com duas abstenções, o que implica a adesão às críticas de ao menos um setor de membros “oficialistas”. A dirigente andaluza haveria se negado a colocar seu voto de qualidade, o que impôs que a resolução não se aprovasse, mesmo que haja tido consenso em enviar à mesma a cúpula da organização em Madrid.

Pablo Iglesias mantém seu “itinerário” e se blinda ante as críticas

Apesar da crescente pressão interna, a direção do Podemos se nega a retroceder com o novo regulamento e não oferece nenhuma concessão aos críticos. O secretário geral, Pablo Iglesias, descarta revisar o modelo de primárias cujo itinerário “já está fixado” e que foi “aprovado pelo Conselho Cidadão Estatal e nós cumpriremos a risca os estatutos do Podemos”, em palavras do próprio Iglesias.

Segundo estes estatutos, a oposição ao modelo de primárias deveria alcançar as 35.000 assinaturas para poder realizar-se um plebiscito interno. A cifra, que se faz inalcançável, pega como referência o número de votos obtidos pela direção durante a assembleia de Vistalegre.
Mesmo que a participação em votações internas tenha descendido notavelmente desde então.

O regulamento para as primárias inclui também uma epígrafe que suporia uma nova dificuldade adicionada ao exercício de uma oposição no seio da organização. Segundo o artigo 8 do regulamento com respeito à conformação de candidaturas, “os nomes das candidaturas têm sentido unicamente no contexto da competição eleitoral. As denominações dos grupos ou listas não deveriam ser utilizados com posterioridade no marco de debates ideológicos ou organizativos”. Quer dizer, limita a formação de correntes internas no período de primárias, um giro a mais ao contemplado no documento organizativo que impede optar a qualquer cargo interno a “membros ou afiliados de organizações políticas de âmbito estatal”.

A famosa clausula contra a “dupla militância” naquele momento estava claramente destinada a socavar o potencial opositor que pudesse exercer Esquerda Anticapitalista (agora Associação Anticapitalistas) – que terminou dissolvendo-se como partido político para seguir em Podemos – a nova ofensiva do aparato de Iglesias parece orientada a combater as correntes críticas que vem se formando ou podem se forma como alternativa a direção e evitar sua consolidação.

A virulência com a que é destacada qualquer classe de oposição interna no Podemos poderia responder as lições que Iglesias e os seus puderam extrair da experiência de Syriza e o caso grego. Mesmo que na prática, a oposição formal que exerce a Plataforma de Esquerda de Syriza a leva a claudicar diante as concessões de Tsipras a Troika, seu importante peso vem supondo um recife a ser salvo para o primeiro ministro grego. Especialmente a crise das últimas semanas, vendo-se obrigado a convocar um plebiscito nacional ante o temos de não poder aprovar o novo memorando que estava disposto a acordar com a Troika em um parlamento, dominado pela sua própria organização.

Aparentemente, Pablo Iglesias estaria tentando evitar de todas as formas um cenário semelhante, o que pré anuncia uma política ainda mais claudicante e escorada à direita que a do presidente heleno.

Volta ao “Podemos das origens”

A retórica democrático-radical da direção de Podemos contrasta abertamente com seu proceder no seio da organização. Em praticamente a totalidade da crescente “oposição interna” de Podemos existe um imaginário de “volta ao Podemos das origens”. Não cabem dúvidas que se podem resgatar aspectos positivos daquele período, como a organização política e incorporação de amplos setores populares, não somente ativistas, senão também setores que estavam na passividade.

Sem embargo, no Podemos das origens residem as bases do Podemos autoritário e centralista de hoje em dia. Podemos é, sempre em mente de seus dirigentes, um projeto de construção de “hiperlideranças” capaz de alcançar o governo em base a abertura de um “momento populista” que necessita renunciar as “diferenças da esquerda” e desenvolver um projeto centralista, com um programa de mornas reformas capitalistas, baseado na “eficiência organizativa”.

Para Iglesias, a assembleia de Vistalegre consolidou Podemos como partido supôs o fim do assembleísmo e preservou o “conservadorismo de esquerda” e “aos estilos paralisantes de alguns movimentos sociais”. Uma lógica de pensamento que expressa um profundo desdém – do qual continuamente fazem gala ele e sua equipe – pelos métodos próprios da classe trabalhadora, a esquerda e o ativismo social.




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