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Pablito: "Para derrotar Bolsonaro, ameaças golpistas e ataques é preciso unir os trabalhadores na luta de classes"

Nos últimos dias estamos vendo a demagogia de vários setores burgueses, como a FIESP, à Febraban e o Judiciário, se posicionando "em defesa da democracia", diante das ameaças golpistas de Bolsonaro. Confira abaixo a declaração de Marcello Pablito, trabalhador da manutenção da USP e pré-candidato do MRT a deputado federal, sobre qual caminho devemos seguir em um momento como esse.

Marcello Pablito Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

quarta-feira 3 de agosto de 2022 | Edição do dia

Estamos vivendo um dos momentos mais duros para a classe trabalhadora e todos os setores oprimidos. A carestia dos preços corrói os salários e joga vários setores da nossa classe nas filas do osso. O desemprego bate recordes e, junto, a enxurrada de ataques aos direitos dos trabalhadores, vinda das reformas, faz com que todos os dias aumente a informalidade e a uberização.

Bolsonaro e a extrema direita são a expressão de tudo que há de mais nefasto contra as condições de vida da nossa classe. Recentemente estamos vendo uma grande corja de burgueses, que são representados pela FIESP, pela Febraban e o Judiciário resolverem se posicionar cinicamente em defesa da democracia. Não podemos cair nessa. Eles estão do outro lado, são parte de outra classe social.

A FIESP, por exemplo, foi uma das apoiadoras da ditadura militar. Sempre estiveram a favor de privatizações, reformas e a repressão violenta aos negros nas periferias. Hoje, eles reivindicam a carta à nação de 1977 como sendo o que pôs fim à ditadura. Mas nós sabemos que o fator fundamental para que a ditadura caísse foi a luta de classes, a atuação dos trabalhadores nas fábricas que incendiaram o país.

Nesse momento Lula usou dessa força operária para desviar a luta para acordos com a burguesia. De certa forma, Lula faz o mesmo agora com sua chapa com Alckmin e as alianças com esses setores de peso da burguesia na construção do dia 11 de setembro, ao mesmo tempo que o PT atua fortemente para conter toda possibilidade de luta dos trabalhadores por baixo, usando seu peso na CUT e sua influência nas outras grandes centrais como a CTB e a Força Sindical.

Temos que saber que esse bloco burguês que se articula junto à chapa Lula-Alckmin tem um claro objetivo: reestabilizar o regime de forma que todos os ataques aos trabalhadores sigam intocáveis.

Justamente por isso eu quero destacar aqui alguns pequenos, mas importantíssimos exemplos de qual caminho devemos seguir para realmente sair dessa situação.

Nessa semana estive com meus companheiros que trabalham na prefeitura do campus do Butantã da USP e o sindicato dando todo apoio a uma situação drástica que eles estão enfrentando. Perdemos os companheiros Fusquinha e Madruga. Eles morreram repentinamente de forma trágica. Há poucos meses perdemos também a dona Nilda com quem trabalhei por anos no restaurante da USP.

Essas mortes poderiam ter sido evitadas? Não sabemos… Mas o que sabemos é que o sucateamento do atendimento de saúde da USP, com os ataques ao Hospital Universitário e ao HRAC, é tamanho que a USP não tem garantido nem os exames periódicos trabalhistas para o conjunto dos trabalhadores.

Talvez, se tivéssemos acesso a esses exames, esses companheiros poderiam ter identificado seus problemas de saúde e buscado o devido tratamento.

O que nos revolta é saber que a situação dos hospitais universitários é parte de um plano de desmonte que tem como horizonte entregar os hospitais para as OS que têm suas relações com as fundações privadas.

Sim, uma espécie de privatização, que vai de pouco a pouco tirando postos de trabalho, implementando a terceirização, impedindo a população e os trabalhadores de terem acesso ao atendimento para no final entregar os hospitais.

A burocracia acadêmica da USP, que também está assinando a carta pela democracia, também é parte desse mesmo setor burguês parasitário que faz de tudo para que o conhecimento e inclusive a estrutura física da universidade esteja a serviço dos interesses do setor privado. E justamente por isso querem que nessas próximas eleições os ataques e os planos de privatizações sigam a todo vapor.

Veja aqui a carta de denúncia dos trabalhadores da prefeitura da USP
CARTA ABERTA AO REITOR E AO SUPERINTENDENTE DE SAÚDE DA USP

Mas os trabalhadores resistem. No começo desse ano estive com meus companheiros e companheiras do restaurante central, lutando para que a reitoria desse atenção a um surto de COVID-19 que era negligenciado pela chefia. Foram 40 dias de luta para impedir o alastramento desse surto, garantindo que o restaurante não voltasse ao atendimento normal como queria a administração.

E nessa semana os companheiros da prefeitura da USP paralisaram por 3 dias exigindo que sejam feitos os exames periódicos e que haja acompanhamento hospitalar para todos os trabalhadores que precisam. E a coragem e a decisão deles em transformar a tristeza pela perda de companheiros de trabalho em organização e luta fez a universidade ceder.

Eles conquistaram o comprometimento da USP em realizar os exames emergenciais através de sua união. Mas também do apoio de diversos outros trabalhadores da USP, de diretores de base e ativistas da categoria junto à diretoria do SINTUSP, do apoio de outras categorias e de estudantes, que atuaram lado a lado dos trabalhadores da prefeitura sem nenhuma confiança ou aliança com os patrões.

Essa foi uma pequena conquista, mas que certamente fortalece os trabalhadores para seguir em frente e enfrentar todo o plano de desmonte da saúde na universidade, assim como mostrar que é no caminho da luta de classes podemos realmente enfrentar os ataques e a extrema direita.

Veja aqui um pouco mais sobre a luta da prefeitura da USP
Trabalhadores da prefeitura da USP conquistam exames emergenciais
Esquerda Diário 5 minutos: Luta pela vida dos trabalhadores da USP

Fora da USP, os metroviários vem enfrentando batalhas importantes em seus locais de trabalho, os professores mostraram uma forte disposição de luta em MG e estão enfrentando cotidianamente uma dura situação de sucateamento da educação, fruto de tantos ataques.

Trabalhadores de outras categorias privadas como os industriais de várias regiões do país também vêm enfrentando suas patronais, como vimos na SAE Towers e MG, os trabalhadores da CSN em Volta Redonda e na Cherry, na Avibras e na MWL, na região do Vale do Paraíba.

Isso mostra que existem importantes reservas na classe trabalhadora, que há sim disposição de luta que só não se expressa mais profundamente por que as grandes centrais sindicais impedem seu desenvolvimento.

Nossas pré-candidaturas do MRT estão a serviço desse caminho, e cada pequena batalha como essa para nós é de extrema importância para aumentar o grau de consciência dos trabalhadores, a confiança deles em suas próprias forças, sua auto organização, sua noção de que uma luta pela saúde na universidade é também a luta pelo atendimento de qualidade para toda a população. E que para isso é preciso que os trabalhadores também façam a sua política.

Essas batalhas são o que permite que possamos unir forças para exigir das direções majoritárias do movimento de massas, em primeiro lugar da CUT e CTB, que impulsionem um verdadeiro plano de luta contra as ameaças golpistas e pela revogação de todas as reformas e ataques, para convocar à luta pelas demandas da classe trabalhadora contra a carestia de vida e a fome.

A unidade que pode de fato derrotar Bolsonaro, a extrema direita, qualquer ameaça golpista e os ataques é a da classe trabalhadora com todo o povo oprimido.




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