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ARGENTINA | PTS na FIT: é possível uma esquerda da luta de classes que conquiste peso no terreno eleitoral

Existe hoje um fenômeno na esquerda latinoamericana que se fortalece na Argentina e merece ser conhecido: a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT), e em particular o PTS (partido irmão do MRT, que compõe a FIT com o PO e a IS), cuja estratégia retoma o ensinamento dos clássicos marxistas em unificar a atuação dos revolucionários no parlamento com a intervenção na luta de classes contra os capitalistas.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

quinta-feira 15 de outubro de 2015 | Edição do dia

Existe hoje um fenômeno na esquerda latinoamericana que se fortalece na Argentina e merece ser conhecido: a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT), e em particular o PTS (partido irmão do MRT, que compõe a FIT com o PO e a IS), cuja estratégia retoma o ensinamento dos clássicos marxistas em unificar a atuação dos revolucionários no parlamento com a intervenção na luta de classes contra os capitalistas. Trata-se de um exemplo que é de interesse de toda a esquerda e de todos que andam desiludidos com a possibilidade de uma política que não seja para enriquecer e para interesses individuais, sentimento que no Brasil é massivo devido à traição do PT.

O Partido dos Trabalhadores Socialistas, desde sua fundação no início da década de 1990 e com mais força depois das jornadas de 2001 na Argentina, escolheu construir-se nas principais concentrações operárias. Esta estratégia levou o partido a participar das principais experiências da luta de classes na década kirchnerista, fortalecendo uma tradição da luta independente dos trabalhadores junto com a esquerda.

Ligada a este desenvolvimento, a FIT, surgida em 2011, longe de um “fenômeno eleitoral” é uma força material produto de uma década de luta dos trabalhadores na Argentina, atravessada por experiências de recuperação de comissões internas fabris e ocupações de fábricas desde 2001, como Zanon e a gráfica MadyGraf (ex-Donnelley), e grandes batalhas contra a burocracia sindical para recuperar os sindicatos como instrumentos de luta dos trabalhadores. Representa, em síntese, o “salto” de uma enorme camada de trabalhadores, mulheres e jovens, das lutas sindicais para a militância política anticapitalista.

Uma mostra disso são os 1800 candidatos operários, a maioria dos principais referentes da luta de classes na Argentina, que acompanham Nicolás Del Caño, dirigente do PTS e candidato a presidente pela FIT, na campanha eleitoral, o peso das mulheres em cada chapa (60% nacionalmente) e a juventude trabalhadora e estudantil que se soma à política desde a esquerda.

Atualmente, a FIT representa a quarta força política nacional na Argentina. Isto ocorre porque manteve a independência política dos trabalhadores frente aos partidos patronais. Denunciou os políticos corruptos da burguesia e deu exemplo como Deputado Federal na defesa do programa inspirado no primeiro governo dos trabalhadores da história, a Comuna de Paris de 1871, de que todo alto funcionário de Estado ganhe o mesmo que uma professora e seja revogável, doando o restante às lutas dos trabalhadores como dos metalúrgicos de Lear, junto aos quais foi reprimido com balas de borracha nos piquetes da Rodovia Panamericana pela Polícia Federal.

Esta prática política, desconhecida no Brasil, é uma mostra poderosa de como é possível atuar de maneira revolucionária no parlamento sem separar-se da luta dos trabalhadores. O PT virou um partido dos patrões há tempos porque cada vez mais seu objetivo era somente eleitoral e de busca de privilégios. Infelizmente, outras correntes da esquerda como o PSOL, apesar de que são os parlamentares mais bem vistos pela população, não se vinculam com peso à luta de classes nem dão exemplo ganhando como um professor e doando o restante para as lutas, o que geraria novas esperanças na militância política.

O êxito eleitoral da FIT mostra o acerto em ligar a intervenção parlamentar à luta de classes

A maioria das organizações da esquerda separa a atuação nos parlamentos da intervenção na luta de classes e acabam sendo corrompidos ou se afastam da vida e luta dos trabalhadores.

A experiência da FIT e do PTS é outra. Possível conquistar peso em setores de massas sem rebaixar o programa revolucionário, sem abandonar a luta para que o movimento operário se transforme em sujeito político, avance das lutas sindicais à militância política e construa um partido com independência de classe.
Nos espelhamos neste exemplo de Nicolás del Caño e do PTS para construir uma esquerda para fazer diferença na luta de classes no Brasil, superando a nefasta experiência do PT e gerando uma política verdadeiramente nova, que tem que ser revolucionária e dos trabalhadores.




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