×

FORA BOLSONARO E MOURÃO | PT, PCdoB, PSOL, PSTU pedem impeachment. Mourão no poder e acordão com Maia é oposto do que precisamos

PT, PCdoB, PSOL e PSTU protocolam um impeachment na Câmara para conduzir o ódio que milhões sentem de Bolsonaro ao beco sem saída de uma saída institucional que coloca Mourão no poder. É preciso levantar a política de Fora Bolsonaro e fora Mourão!

sexta-feira 22 de maio de 2020 | Edição do dia

Enquanto ontem cedo Bolsonaro se reunia com governadores, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre e ministros, em um sinal de pactuação e reconfiguração entre as forças do regime, visando juntos promover ataques aos direitos dos trabalhadores e promover maior abertura da economia mesmo em meio ao pico da pandemia, aconteceu também o protocolo do pedido de impeachment do presidente pela chamada oposição parlamentar, que agora clama nas redes sociais para que Maia o aceite. Trata-se de conduzir o ódio que cada trabalhador e jovem tem de Bolsonaro ao beco sem saída de uma saída institucional que depende de um inimigo confesso dos trabalhadores, articulador da Reforma da Previdência, para ser colocado em pauta; depende de que 300 deputados em sua maioria reacionários das bancadas da Bala, da Bíblia, e do Boi de concordarem em tirar Bolsonaro para colocar em seu lugar um reacionário general defensor da ditadura militar, ninguém menos que Mourão.

O tom da reunião entre Bolsonaro, governadores e legislativo foi o mais ameno desde o começo da crise pandêmica no Brasil, chegando inclusive a troca de afagos entre Bolsonaro e João Doria durante a reunião e depois em entrevistas que cada um concedeu. Um grande clima de união nacional entre executivo, legislativo e governadores visando assegurar o capital financeiro e atacar ainda mais os trabalhadores.

Enquanto essa reunião acontecia, partidos de oposição e organizações de esquerda protocolaram o pedido de impeachment. PT, PCdoB, PSOL, UP, PCB, PCO e PSTU levaram à Câmara um pedido unificado e agora clamam para que Maia aceite o pedido. Com o argumento de que o impeachment de Bolsonaro pode “desestabilizar” o governo de conjunto, essas organizações que encabeçam esse pedido não dialogam com o fato concreto e objetivo de que seria Mourão quem entraria em seu lugar, e essa saída institucional pra ser realizada dependeria das forças do regime acordarem a saída de Bolsonaro, e não se dividirem, como fantasiosamente argumentam.

Ao contrário da argumentação fantasiosa, um impeachment não é um momento de desagregação do regime e suas forças, é o inverso, é um acordo nacional para que dois terços dos 590 parlamentares decidam dar aval a um novo governo. Não se trata somente da retirada de um governo, mas do apoio ativo a um novo e, no caso, de um general que tem ido à mídia defender o corte de salários do funcionalismo, entre inúmeras outras barbaridades.

Do ponto de vista objetivo dos rumos que podem tomar a crise sanitária, econômica e social, se trata de fortalecer setores que, também apoiados em interesses de patronais e capitalistas de todo tipo, também batalham por irracionais aberturas sem testes, leitos ou equipe médica adequada para colocar o lucro acima das vidas e colocar com maior centralidade no poder generais que são igualmente entreguistas ao imperialismo, igualmente avessos aos interesses dos trabalhadores e que igualmente querem jogar sobre nós todos os custos da crise.

Se já não fosse suficientemente um problema essa política, essas organizações ainda clamam esse pedido para o Congresso. Clamam ao mesmo Rodrigo Maia que ontem cedo se comprometia em preparar mais um novo ataque brutal à nós trabalhadores e juventude. O mesmo Rodrigo Maia que carrega o “troféu” de ser o principal articulador da reforma da previdência no ano passado, e que já declarou que as reformas tributária e administrativas serão aprovadas da mesma maneira que a da previdência, sempre muito bem disposto a atender os interesses do seu precioso centrão e da burguesia de conjunto.

A estratégia puramente parlamentar e sua condução do ódio a Bolsonaro a um beco sem saída

Que a estratégia do PT se baseia na conciliação de classes, apostando os rumos da vida dos trabalhadores nas mãos da burguesia e do que for conciliável com ela não é novidade. Não é de hoje que o projeto petista tem a prática de rifar lutas dos trabalhadores e apostar tudo nas negociatas nas alturas, via Congresso e acordões com setores burgueses apodrecidos do regime brasileiro. Nem falar o PCdoB, que apoiou a eleição de Rodrigo Maia à presidência da Câmara, além de diretamente convidar anualmente o golpista Maia à mesa de abertura de seu próprio congresso partidário. Convidar os golpistas a aparecerem como amigos dos trabalhadores chegou ao cume neste primeiro de Maio quando CUT, CTB, Força Sindical e outras centrais convidaram FHC, Marina e Ciro e vários governadores para fazerem falas em seu ato.

Mas é realmente lamentável a política das direções de setores da esquerda, em especial do PSOL, estejam assimilando cada vez mais a estratégia tão típica do petismo, de plena entrega de sua estratégia à confiança do parlamento, de combate à extrema direita apostando em setores burgueses e golpistas, que sabemos muito bem, não vão atender aos nossos interesses. O que vimos hoje é mais um passo em direção à estratégia que tem o parlamentarismo como seu centro de gravidade, e não a luta de classes que aposta na força dos trabalhadores com independência política.

É compreensível que setores das massas trabalhadoras, revoltadas com Bolsonaro ao ver milhares morrendo e esperando por leitos e respiradores, queiram retirar o presidente através de impeachment. Mas esse caminho coloca os trabalhadores não para o necessário desenvolvimento de sua auto-organização e independência política, mas para ter como norte, como máximo de suas aspirações, um conchavo com Maia para apoiar Mourão ao poder. Se por um lado, o texto assinado por esses partidos logo no início diz que "É urgente derrubar Bolsonaro, assim como Mourão", a política do impeachment é diretamente contraditória com isso. Colocam no texto que são contra Mourão, mas a prática da política o fortalece. Não há subterfúgios a negociação de um impeachment, não é meramente “tirar Bolsonaro”, é apoiar Mourão. Queremos que os trabalhadores apoiem Mourão? Evidentemente não. Se não queremos, então por que a tática parlamentar é para que ocorram negociações para apoiá-lo?

Mas qual deve ser a política das organizações que se dizem de esquerda, que supostamente defendem uma saída que fortaleça os trabalhadores?

Impeachment é o fortalecimento dos militares

Chega a ser assustador que em um país que tem uma história recente tão assombrosa como da ditadura militar, que a oposição parlamentar naturalize o fato de que, caso a burguesia venha aderir o pedido de impeachment protocolado e derrube o presidente de extrema-direita, quem assume a presidência é um general dos mais saudosistas da ditadura militar. No primeiro de abril vimos Mourão comemorar o aniversário do golpe de 64. Hoje, são inúmeros os militares dentro do governo, chegando a 12 só no ministério da saúde. São militares que saúdam 1964, que saúdam Brilhante Ustra e apoiam aqueles que escondem nos fundos de seus quintais ossos dos nossos que nunca foram encontrados.

É nesse sentido de combater e batalhar sim pela derrubada de Bolsonaro, mas sem esquecer de Mourão e todos os militares, que nós do Esquerda Diário temos levantando a necessidade da conformação de uma coordenação da esquerda e dos trabalhadores pelo Fora Bolsonaro e Mourão que agite essa consigna de forma unitária. Foi com esse propósito que intervimos no primeiro de Maio Classista e Independente dos patrões, denunciando contundentemente o Primeiro de Maio das burocracias sindicais com Maia, FHC e outros atores burgueses. É bastante contraditório que esse pedido de impeachment seja protocolado por organizações que corretamente levantaram o “Fora Bolsonaro e Mourão” conosco no Primeiro de Maio, como setores do próprio PSOL e o PSTU.

Leia mais: Qual o papel da esquerda diante da crise sanitária e política no Brasil?

Qual saída precisamos?

Há ainda outros setores da esquerda como a Resistência, que em um primeiro momento também defendiam a derrubada de Mourão junto a Bolsonaro, mas que agora se adaptam e chamam esse pedido de impeachment de "Frente Única", se referindo à tática de Frente Única Operária desenvolvida pela tradição marxista nas II e III internacionais. Um completo erro, dado que a Frente Única - ao contrário da Frente Ampla, que significa a junção de todas oposições e classes sociais, como aconteceu no início da ditadura, unindo Lacerda, Jango e JK que é na verdade o que essas organizações estão trabalhando para levantar - aposta na luta de classes e somente na unidade dos trabalhadores e suas organizações, sem quaisquer ilusões em frentes com Maias e outros capitalistas, para golpear com um só punho um inimigo em comum. O pedido de impeachment não é assinado por Maia, verdade, mas é para conduzir uma “união nacional” com Maia, com Joice Hasselman, com a Globo e com os militares para que o generalato tome o poder com apoio do STF, da mídia, da Lava Jato, do imperialismo e agora de parte das centrais sindicais e da esquerda.

É necessária uma estratégia que aposte na luta de classes e na força dos trabalhadores passa justamente por se espelhar em exemplos como as manifestações dos bolivianos em Cochabamba que, cansados pela fome e pela falta de água em plena pandemia, travaram essa semana uma verdadeira batalha campal contra a polícia do governo golpista e autoproclamado de Jeanine Áñez.

Outro exemplo de combate para nós deve ser a jornada de protestos contra a fome que eclodem pelo terceiro dia seguido em toda Grande Santiago, no Chile. Protestos como esses fazem Piñera voltar a tremer só de lembrar da enorme revolta popular que tomou o Chile no fim do ano passado, questionando inclusive o regime burguês herdeiro da ditadura pinochetista.

O que o PT, PCdoB e setores da esquerda fazem com esse pedido de impeachment é buscar a conformação de uma Frente Ampla com o congresso nacional, visando disputar setores da burguesia descontentes com Bolsonaro e pactuar com eles o futuro do país. Apenas uma tentativa, mesmo. Pois, como mostrou a reunião de ontem, Maia está muito mais preocupado em passar os ataques contra os trabalhadores, fazendo alianças com Bolsonaro, do que em atender os pedidos desesperados e cheio de ilusões institucionais de uma esquerda cada vez mais distante da luta de classes ou até mesmo de olhar quais são os jogos parlamentares em curso.

A esquerda brasileira, ao invés de apostar em processos institucionais como o impeachment, deveria avançar para questionar o regime brasileiro de conjunto através da sistemática preparação e organização em cada local de trabalho ou nas condições virtuais impostas pela pandemia tendo como norte a luta de classes. Não há saída progressista que possa vir das mãos do Congresso, do STF nem de nenhum setor burguês. Se a história não ensinou isso, o recente golpe de 2016 deveria ter ensinado. Confiar o destino dos trabalhadores e das massas populares nas mãos de atores caquéticos do regime somente fortalece capitalistas, em luta por interesses que são por definição antagônicos aos nossos. Infelizmente, não há atalhos, é preciso confiar nos trabalhadores pois só uma política com independência de classe pode oferecer resposta aos enormes problemas que estão colocados.

Em política quem realiza uma política influi também em seu resultado, os reacionários tirarem Bolsonaro é muito diferente dos trabalhadores e o povo retirarem-no. E quem conduz um impeachment são forças parlamentares reacionárias, influindo diretamente em seu resultado. Ao contrário de enfraquecer o regime autoritário que emergiu de 2016, seria sua reconfiguração e promoção de um novo acordão reacionário em prol do generalato do Exército.

Nós do MRT, que impulsionamos o Esquerda Diário, somos a favor da queda de Bolsonaro, e trabalhamos diariamente para estender o ódio contra ele, contudo também para que nossa política “anti-governo” rume também a ser “anti-regime”. Mas que não seja substituída por Mourão e nem que seja derrubado pelas mãos do asqueroso Congresso e sim dos trabalhadores, da juventude e do povo. É preciso levantar claramente a política Fora Bolsonaro e Fora Mourão. E essa política não deve ser levantada com pedidos confiando nas mãos do Congresso, do STF, Globo e nenhum ator até ontem golpista. É com essa política de unidade que chamamos o Bloco de esquerda do PSOL e o PSTU a abandonar a política de impeachment, que é diretamente contraditória com o "Fora Bolsonaro e fora Mourão", não vacilando e avalizando às estratégias do PT e do PCdoB. No caso de algumas organizações do bloco de esquerda do PSOL que não se posicionaram em relação à direção do PSOL, é preciso que se posicionem contrariamente ao apoio a Mourão.

Essa é a política de unidade que propomos aos setores que se reivindicam socialistas. Mas levantamos ainda que é preciso ir por mais. Batalhamos por uma política em que os trabalhadores não se limitem a questionar apenas a figura presidencial ou o fato de podermos votar somente de 2 em 2 anos, mas que seja capaz de questionar o regime de conjunto, impondo mudanças no conjunto das regras do jogo e não somente mudança de alguns jogadores, afinal, não se trata de ser só anti-bolsonarista, pois também é necessário ser anti-regime e lutar com a perspectiva de afundar o sistema capitalista, que condena à fome e à morte o nosso povo, sem isso não nos livramos do crescente entulho autoritário que se acumula no país.

Somente batalhando por uma resposta que seja dada pelos trabalhadores é que será possível fortalecer a luta pelos nossos interesses e impedir que os capitalistas deem alguma “solução” que nos condene à mais profunda catástrofe que já vivemos nas últimas várias décadas. Nós batalhamos por um governo dos trabalhadores em ruptura com o capitalismo, e enquanto os trabalhadores não defendam isso é necessário ter uma política que coloque os trabalhadores e o povo como sujeitos, democráticos da discussão de tudo no país, o que pode acelerar sua experiência com toda forma de democracia burguesa, por isso defendemos uma uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que seja capaz de colocar os trabalhadores na linha de frente da condução da solução desta crise para impedir a morte de milhões de pessoas e ao mesmo tempo questione também esse regime absolutamente caquético, apodrecido e antioperário, possa debater cada aspecto crucial do país, da dívida pública, ao latifúndio, ao que fazer com as imensas riquezas nacionais como o petróleo e o ferro entregues ao imperialismo, batalhando em primeiro lugar por questões essenciais frente à pandemia, desde garantia de liberação de todos trabalhadores não essenciais com salário, renda emergencial de no mínimo R$2mil para todos sem renda, testes massivos, imediata reconversão industrial, até grandes questões políticas estruturais do país.

Leia também: Fora Bolsonaro e Mourão: e depois o quê?




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias