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ELEIÇÕES NA ARGENTINA | PSTU argentino esconde a verdade das eleições da Frente de Esquerda

Daniel MatosSão Paulo | @DanielMatos1917

quinta-feira 13 de agosto de 2015 | 11:14

O PSTU argentino, organização irmã do PSTU brasileiro, publicou um balanço das eleições argentinas em que tenta colocar-se como grande defensor da “unidade da esquerda”. Para tal, escondem que apoiaram desde o princípio a política divisionista de Jorge Altamira do Partido Obrero (PO), que terminou derrotada.

Com essa incrível falsificação da realidade, escondem que a candidatura vencedora de Nicolás Del Caño, do Partido de Trabalhadores Socialistas (PTS, organização irmã do MRT no Brasil), foi a queinsistiu uma e outra vez com várias propostas de unidade para que as distintas organizações que compõem a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT, por suas siglas em espanhol) se apresentassem de forma unificada nas eleições, como a melhor forma de fortalecer o combate contra os candidatos da burguesia.

Apagam que um mês antes da data limite para a apresentação das coligações eleitorais na justiça, um mês antes de que todos os partidos – inclusive burgueses – definissem suas coligações, o Partido Obrero, apoiado desde o início pelo PSTU argentino e pela Izquierda Socialista (organização irmã da CST no Brasil, corrente interna do PSOL), lançou sua pré-candidatura rompendo as negociações que estavam em curso no interior da FIT. Escondem que o PTS, mesmo depois dessa decisão unilateral, seguiu defendendo até o dia de inscrição das coligações um acordo semelhante ao que permitiu uma lista unificada da FIT em 2011 e 2013. Falsificam a realidade ao tentar apagar o fato de que o PSTU nunca fez nenhum pronunciamento público favorável às propostas de unidade do PTS, apoiou até o final a candidatura de Altamira, renunciando inclusive à política de apoiar indistintamente as duas listas competidoras para ser minimamente consequente com uma suposta reivindicação da “unidade” que ninguém conheceu.

Haja cara de pau para tentar esconder uma derrota!

Duas concepções de “unidade da esquerda”

Não foi por acaso que o PSTU apoiou a candidatura de Altamira. Para além do oportunismo eleitoreiro (todos sabiam que o PO era o favorito nas eleições), estão em disputa dentro da FIT duas concepções distintas do que significa “unidade da esquerda”.

O Partido Obrero defende que a FIT se amplie incorporando de forma oportunista pequenos grupos populistas e sindicalistas de esquerda que sempre foram adversários da luta pela independência política dos trabalhadores em relação à burguesia, e que apoiam governos como o de Evo Morales na Bolívia, que reprime os mineiros que lutam por seus direitos. Agora que a FIT tem como um de seus principais patrimônios a demonstração prática de que a luta pela independência de classes pode chegar a setores de massas, como se vê nas crescentes votações que vem obtendo, caudilhos que até então sempre opinaram que isso perdia votos e que era preciso rebaixar o programa se apressam em declarar que mudaram de opinião. Mas, como dizia Lênin, quem acredita em palavras é um tonto. Se for realmente oportunismo eleitoral, este tipo de unidade não poderá resultar em outra coisa que não debilitar a FIT como uma Frente que luta pela independência de classe.

Na concepção do PTS, para compor uma frente eleitoral comum pela independência de classe não basta assinar um papel com um programa mais de esquerda. É necessário que a luta pela independência de classe se expresse na construção de uma força material de trabalhadores que combatem os capitalistas e defendam um programa anticapitalista. Por isso o PTS propôs abrir um debate estratégico com todos esses grupos populistas e sindicalistas de esquerda, e ao mesmo tempo confluir em uma prática comum na luta de classes. E em inúmeras oportunidades tem de fato confluído em frentes únicas para a ação com esses setores.

Ao mesmo tempo, para ampliar a Frente de Esquerda, o PTS integrou à campanha trabalhadores, jovens e mulheres independentes que foram protagonistas dos principais processos de luta dos últimos anos em todo o país, constituindo uma lista com mais de 1.500 candidaturas. Além dos militantes do PTS, que dirigem as organizações sindicais de importantes indústrias e serviços estratégicos, integram essa lista centenas de trabalhadores independentes que deram um passo além da luta sindical e passaram a militar por um programa anticapitalista nas fábricas, serviços e bairros proletários, colocando de pé uma nova força social na qual os próprios operários e operárias se assumem como sujeitos políticos. Uma campanha que nas agitações eleitorais e no dia das eleições contou com mais de 4 mil militantes em todo país.

Uma prática oposta pelo vértice à do PSTU brasileiro, que de tão “unitário” nem mesmo foi capaz de conceder a filiação democrática a dirigentes operários como Diana Assunção e Marcelo Pablito do Sintusp, ou Marília Rocha, demitida política do Metrô de São Paulo. Uma prática comum a todas as organizações da Frente de Esquerda na Argentina, como parte da tradição democrática do movimento operário.

Essa divergência deu lugar inclusive a um debate teórico no interior da Frente de Esquerda, já que o PO buscava justificar seu oportunismo utilizando a tática de frente única operária no terreno eleitoral, deturpando a tradição marxista, que sempre utilizou essa tática para a luta de classes.

A arte de esconder a derrota de uma estratégia

A concepção de unidade (oportunista) da esquerda que foi derrotada na argentina é a mesma que o PSTU brasileiro defende. No caso do PSTU argentino, como trata-se de um pequeno grupo com quase nenhuma influência na realidade, e que com a atual derrota passa a ter menos influência ainda, a falsificação da realidade que pretende esconder o apoio à candidatura derrotada passa quase desapercebida.

Entretanto, no caso do PSTU brasileiro trata-se de uma organização que dirige um setor minoritário de sindicatos. As frentes eleitorais que o PSTU fez com o PSOL, ao não lutarem pela independência política dos trabalhadores, terminaram fazendo que o próprio PSTU retrocedesse enormemente no terreno eleitoral, recebendo 88 mil votos nas últimas eleições, frente a 1,6 milhões do PSOL.

O triunfo do PTS na Frente de Esquerda na Argentina, que mostra como é possível transformar o peso sindical em uma força política, deveria servir como estímulo para que o PSTU brasileiro supere seu sindicalismo febril e se proponha dar o combate para que setores de vanguarda da classe operária intervenham no terreno político para impedir que a crise do PT seja capitalizada pela direita.




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