Thiago MathiasSão Paulo |
segunda-feira 29 de fevereiro de 2016 | 06:03
Um ponto de votação no Tatuapé foi invadido por homens apoiadores de Trípoli, que quebraram computadores e tentaram roubar uma urna, havendo pancadaria entre os filiados da sigla. Mais tarde foi feito um boletim de ocorrência contra a presidente regional do Tatuapé que roubou urnas, levando as embora no seu carro particular.
Imagem da briga tucana no Tatuapé
José Aníbal, que apóia Tripoli e Alberto Goldman, apoiador de Matarazzo, entraram com uma petição de impugnação da chapa de Doria, apoiada por Alckmin, ao diretório municipal. O resultado das prévias deve ser divulgado nesta segunda feira e a petição de impugnação analisada nesta semana.
Depois de uma campanha interna marcada por denúncias e trocas de acusações, as prévias do PSDB para o governo municipal, que aconteceram neste domingo na capital paulista, marcam o fim do “cessar fogo” entre Alckmin e Serra: está aberta a fase da disputa, até mesmo física como se deu entre cabos eleitorais que se bicaram e trocaram socos no Tatuapé.
O cessar-fogo entre Alckmin e Serra não passava de um acumular de forças para o combate. Um combate que ainda está em sua fase inicial mas já se expressou nas denúncias entre os candidatos apoiados por Serra e Alckmin e culminou no enfrentamento físico de hoje.
Na disputa preparatória a ver quem se cacifa para enfrentar Aécio para ser o candidato do partido para 2018 o PSDB mostra também como a crise do regime e dos partidos se expressa dentro de suas fileiras.
Os candidatos de Serra e Alckmin
O empresário João Doria, mesmo sem tradição tucana, representa o projeto de poder do governador Geraldo Alckmin, que tenta se viabilizar como candidato tucano à Presidência em 2018.
O vereador Andrea Matarazzo é aliado do senador José Serra, que não desistiu de chegar ao Palácio do Planalto depois de duas tentativas frustradas. Desse grupo serrista, também fazem parte o senador Aloysio Nunes e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Sem padrinhos entre os cardeais do partido, o deputado federal Ricardo Tripoli conta com a simpatia de alguns aliados do senador mineiro Aécio Neves em São Paulo.
O dividendos de uma vitória de Tripoli serão depositados na conta de Aécio; os de Doria, na de Alckmin; e os de Matarazzo, na de Serra. Por isso, as prévias deste domingo, que pareciam ser uma solução para a ausência de um nome natural do PSDB em São Paulo, se transformaram em mais uma luta fratricida.
O bloco pró-impeachment e as debilidades de Alckmin
Ao fim do ano passado, Fernando Henrique Cardoso e José Serra se unificam com Aécio na política do impeachment em reunião com os governadores e dirigentes nacionais do partido. Até então, os líderes se dividiam se optavam pela "governabilidade", deixando "o PT sangrar" segurando sozinho o ônus dos ataques e ajustes até 2018.
Gerando Alckmin saiu derrotado desta reunião, e teve de adotar o impeachment junto a seu partido. Individualmente em nada lhe interessa a política de impeachment ou eleições antecipadas, onde a disputa com seus adversários tucanos Serra e Aécio fica mais difícil. Além disso, o alvo para o impeachment tem sido as "pedaladas fiscais" de Dilma, na tentativa de lhe enquadrar como corruptora da Lei de Diretrizes Orçamentarias, a mesma que todos os governadores do PSDB, como Alckmin, utilizaram nos últimos anos para "fechar" as contas deficitárias de seus orçamentos regionais.
Para Alckmin a maior vantagem é estar sobre o governo do Estado mais rico da federação e utilizando o risco político do impeachment ao seu favor. Entretanto, as contas públicas não têm fechado e, pressionado pela vitória dos estudantes secundaristas contra a Reforma Educacional, têm sido pressionado a atacar as empresas do Estado com pressa e talvez cortar na "própria carne" da burocracia tucana ao redor destas estatais, como o Metrô-SP.
Enquanto isso, José Serra, em particular, tem buscado costurar uma alternativa de governo de "unidade nacional" com o PMDB, através de um bloco com Michel Temer e Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) diante da possível vitória de um impeachment. Serra conquistou uma histórica vitória para os seus financiadores de campanha na aprovação da mudança na exploração do pré-sal através de sua boa relação com o PMDB na Câmara, e tem mostrado que a política do impeachment pode não ser aventureira para a economia capitalista.
Os ritmos da crise econômica e política pressionam a burguesia brasileira para o impeachment, principalmente a paulista, onde a indústria tem fechado portas. Os editoriais dos jornais Folha e Estado de SP mostram este tom.
A disputa pelo legislativo e o uso dos escândalos de corrupção contra os próprios pares
Para além dos escândalos de corrupção politicamente orquestrados pela oposição contra o PT, os próprios tucanos podem estar favorecendo com que os seus "podres" sejam abertos como recurso nesta disputa dentro da oposição.
O PT já não consegue ter munição suficiente para manobrar os Ministérios Públicos de SP e MG a fim de dar prosseguimento nas investigações contra os líderes burgueses da oposição. Muito menos utilizar a mídia e empresas multinacionais como Siemens na delação contra tucanos. Se por um lado a Lava Jato tem contado com delações que incriminam tucanos, em paralelo, diversas denúncias surgem contra Aécio, Serra e Alckmin, que se conseguem ganhar repercussão podem minar as candidaturas em favor de um ou outro adversário.
Assim tem ocorrido com o escândalo do helicoca e o aeroporto de Claudio contra Aécio. Ou então o trensalão tucano contra Serra e depois Alckmin. Mas aos últimos escândalos de corrupção na merenda das escolas do Estado de SP atingiram o centro da administração do Governo Alckmin, algo que, na atual conjuntura, pode ter mãos de dentro do próprio PSDB.
O escândalo da merenda tem sido muito explorado pela TV Globo, abertamente articuladora do impeachment, e além de atingir o "braço-direito" de Alckmin no executivo, colocou no centro do alvo seu aliado e presidente da Assembléia Legislativa de SP, Fernando Capez. É um reflexo claro da disputa de frações do PSDB pelo controle da ALESP e preparação para 2018.
Este embate, por sua vez, reflete na disputa pela liderança do PSDB na Câmara dos Deputados em brasília. Aliado de Aécio, Antônio Imbassahy (BA) venceu Jutahy Magalhães (BA), que é aliado de Serra, com votos de parlamentares paulistas.
O fortalecimento de Aécio em campo "inimigo" preocupa os grupos de Serra e de Alckmin e tornam a vitória de seus apadrinhados nas prévias essencial para que eles possam demarcar território em relação ao avanço do mineiro e seus correligionários.
A nova proposta do governo federal de federalizar empresas públicas estaduais pode ser um fiel da balança para a disputa de Alckmin e os governadores contra a política do impeachment. A depender de como for redigida, o governo federal pode atrair os governadores, que passarão o ônus dos ataques aos servidores para o governo federal em troca de renegociação das dividas dos estados. O prefeito Fernando Haddad do PT já aponta para a construção desta política com uma postura de "equipe e parceria" com Geraldo Alckmin. Bom para os políticos do regime, ruim para os trabalhadores.
Temas