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PRIMEIRA ANÁLISE | PSDB fortalecido em eleições com vários elementos de crise dos partidos tradicionais

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

domingo 2 de outubro de 2016 | Edição do dia

As urnas terminam de ser apuradas em todo país. Nas grandes capitais quatro tendências ficam claras. A primeira e mais importante: ressurge um forte partido neoliberal, o PSDB se oferecendo como uma alternativa “não política” de “gestores empresariais” em várias cidades do país.

Segunda tendência, o PT debilitado perdeu sua prefeitura da capital paulista e outros bastiões como São Bernardo do Campo, nestes lugares sequer conseguiram ir ao segundo turno. Ainda por cima perdeu outras cidades onde seus candidatos debandaram a partidos golpistas fugindo do rechaço ao PT, como aconteceu em Osasco na Grande São Paulo e João Pessoa, capital da Paraíba. Terceira tendência, Temer e o PMDB não estão tão golpeados como o PT, mas suas duas principais apostas foram categoricamente derrotadas: Marta em São Paulo e Pedro Paulo sucessor do PMDB no Rio não foram sequer ao segundo turno.

Quarta tendência, fragmentação dos partidos que lideram as prefeituras e predomínio do poder dos empresários apesar de toda propaganda que a reforma política faria o oposto em umas eleições marcadas pela censura à esquerda.

Tucanato fortalecido com um discurso que é o avesso de sua cara real

O PSDB conseguiu crescer rapidamente. Ganhou no primeiro turno a joia da coroa, a capital paulista com o empresário milionário João Dória com mais de 53% dos votos. Em Belo Horizonte, Porto Alegre e Belém o PSDB também emplaca seus candidatos no primeiro lugar nas disputas para o segundo turno, respectivamente com 33%, 30% e 31% nestas cidades.

Em todos esses lugares, bem como em importantes cidades metropolitanas como São Bernardo no ABC Paulista e Contagem na região metropolitana de Belo Horizonte o PSDB vai para o segundo turno com candidatos que assumem um discurso comum ao paulista Doria e ao gaúcho Marchezan de que não são políticos, mas empresários. Procuraram, e conseguiram capitalizar parte da crise de representatividade com esse discurso. Ganharam voto populares “anti-políticos” que estão longe de ser em sua ampla maioria favoráveis a seus programas privatistas e antipopulares. O discurso anti-político do PSDB lhe cobrará o preço ao buscar aplicar o programa que não foi o destaque de seus candidatos.

As vitórias substanciais do PSDB na capital paulista e mineira deslocam José Serra da disputa tríplice do tucanato, a favor de Alckmin, padrinho político de Doria, e Aécio do homofóbico João Leite em BH. Junto ao fortalecimento tucano a expressiva votação de ACM Neto do DEM que se reelege prefeito em Salvador, são algumas das expressões eleitorais à direita que estas eleições deixaram claro.

Debilidade e crise do PT

O PT já tinha se preparado para eleições muito difíceis, diminui muito o número de prefeituras que concorreu às eleições, porém o resultado foi muito pior. Seu prefeito da capital paulista, mesmo com o importante crescimento nos últimos dias não chegou sequer ao segundo turno. O sucessor de Marinho no bastião histórico de São Bernardo também não foi ao segundo turno. O PT elegeu o prefeito de Rio Branco, no Acre e disputa um difícil segundo turno em Recife. Outras capitais onde apostava que tinha chances de ir ao segundo turno como Porto Alegre e Fortaleza ficaram muito longe desta possibilidade.

O PT paga o desgaste com os trabalhadores de seus ataques e sua assimilação dos métodos mais corruptos de todos partidos capitalistas do país.

PMDB muito menos vitorioso do que pensava

O PMDB herdeiro da presidência da República com o golpe institucional procurava nesta eleição não somente repetir as mais de mil prefeituras que detinha, como manter seu bastião carioca e avançar na capital paulista. Saiu derrotada nessas duas empreitadas. Possivelmente, no cômpito quantitativo a derrota do PMDB não seja tão grande, seu encolhimento não será tão expressivo como do PT, mas a perda das chances em São Paulo e a derrota carioca marcam dificuldades de Temer que terá que lidar não somente com sua impopularidade devido ao golpe institucional e seus ataques como também lidará com um fortalecido aliado que vive lhe ameaçando, o PSDB.

Um regime político fragmentado e que tenta censurar a esquerda

A crise política, econômica e social do país não se resolveram com o impeachment nem deve se resolver com estas eleições, mesmo com o fortalecimento do PSDB.
A grande mídia, os empresários e os grandes partidos políticos dos empresários todos clamam por uma reforma política que restrinja o número de partidos políticos e exclua – ainda mais – a possibilidade de participação da esquerda na vida política nacional. Os vitoriosos nas eleições e aqueles que foram ao segundo turno mostram uma fragmentação do regime partidário.

Estas eleições, as primeiras sob as regras da reforma política de Cunha, permitiram um fortalecimento dos candidatos empresários. A restrição do tempo de TV, exclusão dos debates, entre outras medidas, favoreceram ainda mais os milionários e poderosos. Juntos dos tucanos milionários, diversas capitais exibem os candidatos das famílias oligárquicas que controlam a mídia e economia locais. O exemplo mais caricato é ACM Neto, mas também em Fortaleza homens de confiança do clã Jereissati se enfrentam com o poderoso clã dos Gomes. Um regime que fala em renovação mas o que mais tem a oferecer são milionários e velhos clãs políticos.
O PSDB está em vários segundos turnos, porém, há uma fragmentação dos lídereas das prefeituras. Algumas são lideradas pelo PSB, outras pela Rede, PP, PSD, PDT, PMN, PT, DEM, PHS e diversos outros partidos.

Mesmo com um PSDB vitorioso a fotografia mostra a fragmentação

Mesmo com uma lei eleitoral restritiva que cortou o tempo de TV e possibilidade de participação da esquerda o PSOL conseguiu passar ao segundo turno em Belém do Pará e no Rio de Janeiro. Aumentou suas bancadas parlamentares no Rio e São Paulo. Em Belém, Edmilson coligado com partidos do regime como PDT, PCdoB e PV expressou menos a vontade de milhares que buscam uma esquerda independente do PT do que foi a candidatura de Freixo no Rio. No Rio, neste segundo turno contra Crivella e sua máquina de empresários, igreja e partidos do regime a pressão estará colocada para “domesticar” e levar até o fim os pactos que Freixo negociava meses atrás com PCdoB e Rede.

Estas tendências, centrífugas do regime político, deram suas caras com a fragmentação dos votos em várias capitais, à direita e à esquerda, como se mostrou no Rio, onde não só Freixo obteve boa votação lhe levando ao segundo turno, como Bolsonaro terminou em quarto com expressivos 14% dos votos. A pressão por uma nova reforma política que diretamente exclua a esquerda com uma clausula de barreira tendem a crescer.

O que estas tendências apontam?

Um país com tucanos falando de anti-política, com um PT enfraquecido, um PMDB que sai destas eleições menor do que entrou, a expressão de votos do PSOL em algumas capitais e os múltiplos partidos burgueses vitoriosos tencionam a uma continuidade da crise política nacional. Uma crise que tem por atores não somente estes partidos com representação parlamentar, mas também o “partido judiciário” e a mídia.

As urnas dão uma fotografia distorcida das forças em jogo. O embate continuará não somente no segundo turno, mas nas ruas. Uma batalha crucial para a esquerda estará em erguer uma verdadeira luta contra os ataques de Temer exigindo das centrais sindicais uma mobilização por uma verdadeira greve geral, mas também para derrotar as leis de proscrição da esquerda, que já existiram nesta eleição, com suas restrições e prometem dar um salto com a clausula de barreira.

O fortalecimento do tucanato será uma senha para ataques mais duros aos direitos da classe trabalhadora. Será ainda mais necessário construir uma força militante de dezenas de milhares de trabalhadores e jovens que lutem contra os patrões e o capitalismo. As candidaturas do MRT nestas eleições buscaram dar um primeiro passo nesse sentido.




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