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145 ANOS DA COMUNA DE PARIS | Os papagaios que voavam no céu

Flavia ValleProfessora, Minas Gerais

quinta-feira 24 de março de 2016 | Edição do dia

Sábado conheci mais uma partezinha de Contagem. Um lugar no alto onde os meninos, dezenas e de várias idades, soltam papagaio no CÉU desde um terreno baldio, no Durval de Barros. Esse é mais um bairro da cidade onde muita coisa da péssima "administração pública" estatal não chega. Se colocar no "google imagens" aparecem apenas os dramas sociais da região devido a precarização da vida da juventude no capitalismo.

Mas os meninos estavam lá criando e improvisando seu espaço de diversão e lazer. Se não improvisa, praticamente não tem diversão e nem lazer em Contagem para a juventude. Parecido é em Ibirité e (em menor medida mas não diferente na essência do problema) em Belo Horizonte, outras duas cidades que comporta o mesmo bairro em que os meninos soltavam papagaio hoje pela tarde.

Porque depois, chegando em casa, aqueles meninos que soltavam papagaio no Durval me lembraram os 145 anos da Comuna de Paris?

A Comuna de Paris foi um dos maiores acontecimentos revolucionários da história. Karl Marx escreveu que quando os trabalhadores franceses criaram embriões de seus próprios organismos de poder, contrapostos ao poder burguês, monárquico e capitalista em 18 de março de 1871, eles haviam TOMADO O CÉU POR ASSALTO. Era então um embrião de um tipo de estado diferente desse que conhecemos em que apenas uma minoria, os empresários, grandes capitalistas e os políticos que representam os interesses desses mesmos capitalistas tem uma "vida boa", às custas da vida e do trabalho da imensa maioria da população e dos trabalhadores.

Aquele era o embrião de um estado operário em que os deputados eram escolhidos por sufrágio universal, revogáveis pela população a qualquer momento e que ganhavam como um operário qualificado. Ou seja, sem os privilégios dos políticos e juízes a serviço dos capitalistas como predomina na Câmara, no Senado e Judiciário no Brasil.

Dissolveram o exército e a polícia que haviam ajudado a entregar a cidade para as forças monárquicas e capitalistas e formaram uma guarda nacional formada pela população. Assim, não havia mais um destacamento armado separado do povo que esculacha, bate, oprime principalmente a juventude pobre como é a polícia assassina no Brasil.

Unificaram o executivo e o legislativo numa única câmara, que expressava a vontade e o controle dos trabalhadores e do povo. A administração pública então deixou de ter sua essência burguesa, ou seja, separada do controle do povo, e passava a ser controlada por um poder operário em que cada pessoa era parte ativa das decisões e execução de projetos que aspiravam uma vida de plenitude para todos e não para uma minoria.

Ainda que sem um plano e uma estratégia clara que a preparasse contra a resistência contrarrevolucionária da burguesia europeia que acabou por esmagar violentamente esta brilhante experiência do proletariado francês, lançou medidas que pela primeira vez na história questionaram o conjunto das instituições burguesas e inspiraram os trabalhadores em todo o mundo na luta contra o Estado burguês, várias medidas das quais foram incorporadas na primeira revolução proletária triunfante em 1917, na Rússia.

E os meninos que soltavam papagaio no CÉU do Durval?

Eles são parte da juventude trabalhadora ou pobre que é obrigada a improvisar seu mínimo espaço de lazer numa região metropolitana do porte de Contagem, sem ter sequer espaço para diversão garantido pela administração desse estado (e prefeitura) a serviços dos negócios capitalistas.

Essa juventude trabalhadora e pobre apareceu em peso com sua cara nos atos de junho de 2013, o maior ato de toda história recente. E a cara dela não estava no ato da direita que é contrária aos direitos sociais existentes nos últimos anos nessa democracia dos ricos do dia 13 de março. Mas ela também não estava presente na chamada "festa da democracia" que foram os atos de 18 de março dirigidos pelo PT, por Lula e pela CUT que vem implementando os ajustes via governo Dilma. E esse ajuste é sentido pela juventude que improvisa seu lazer em Contagem, que ocupou escolas em São Paulo, que luta e faz greve por melhorias na educação no Rio de Janeiro. Enfim, por toda juventude que saiu às ruas em 2013 e que junto à população sente os cortes na educação, da saúde, desemprego e na precarização da vida, como a falta de lazer.

A essa juventude cabe ter futuro e essa luta está colocada pra já.

Uma resposta imediata passa por impor uma nova constituição pela força da mobilização das massas em que a cara dessa juventude trabalhadora e pobre, negra, seja regra e não exceção, junto aos metalúrgicos, trabalhadoras texteis, petroleiros, trabalhadores da mineração, garis, professoras, trabalhadoras da saúde, jovens universitários, LGBTs, .

Uma nova constituição que como na Comuna de Paris tenha deputados novos, renovados, estudantes e trabalhadores, gente comum fazendo política, que imponha numa constituinte o fim dos privilégios dos políticos conhecidos de hoje (como Dilma, Lula, Aécio), juízes (como Moro que passou a mandar e desmandar por cima até da constituição visando fortalecer uma possibilidade de impeachment, ou seja, um golpe institucional) e funcionários públicos de alto escalão (como os presidentes da Petrobrás envolvidos em denúncias de corrupção). Que acabe com a especulação imobiliária que gera milhões de poder urbanos no país, com a concentração das terras nas mãos de poucos enquanto muitos não tem nem onde plantar. Que reestatize a Vale retirando-a das mãos dos capitalistas como os da Vale e que voltem para a gestão pública, mas controlada pelos trabalhadores e pelo povo para não haver mais tragédias como as de Mariana.

A realidade tira a experiência revolucionaria da Comuna de Paris do passado e traz para os dias atuais, pois para impor uma constituinte deste tipo é preciso de força viva, jovem, trabalhadora e que lute por um governo contraposto aos governos dos capitalistas, um novo governo operário e popular, erguido sobre as ruínas dos governos da burguesia pela vontade da mobilização das massas trabalhadoras e de milhões de jovens, que garanta o futuro de todos os jovens que tem que improvisar seu espaço de lazer, em Contagem e em todo Brasil.

Como marxistas revolucionários, nós defendemos que os trabalhadores se organizem para derrubar a burguesia e instalar um governo dos trabalhadores, que rompa com os capitalistas e sua sociedade de exploração e opressão. Mas somos conscientes de que se trata de uma concepção minoritária na classe trabalhadora brasileira. Por isso, mantendo nossa estratégia, propomos uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que incorpore estas consignas democrático radicais da experiência de 1871, e através dela, os trabalhadores e a juventude possam fazer experiência com os próprios limites da democracia e avançar na luta pra um verdadeiro governo operário que rompa com a exploração capitalista.

A juventude, junto da imensidão da classe operária brasileira, pode TOMAR ESSE MESMO CÉU EM QUE OS PAPAGAIOS VOAVAM. E POR ASSALTO!


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