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UMA HISTÓRIA CONTRA O PRÓPRIO POVO | Os massacres e repressões das Forças Armadas: Canudos e Revolta da Chibata

Aqueles que comandam o monopólio das forças armadas no Brasil, na realidade, sempre tiveram como papel o massacre da própria população brasileira, isso ainda quando aqui nem era Brasil. Os bandeirantes, que tanto se orgulham os militares, e os exércitos oficiais das capitanias e da Coroa, assim como de mercenários, constituem a pré-história genocida do braço armado estatal brasileiro durante os séculos XVI e XVII. Nada mudou com a República e a maior profissionalização das FA, Canudos e a Revolta da Chibata são dois exemplos categóricos.

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

quarta-feira 31 de março de 2021 | Edição do dia

População de Canudos (os poucos que não foram mortos) amontoada pelos militares. A foto fez parte da exposição “Euclides da Cunha. Os sertões — testemunho e apocalipse”, na Biblioteca Nacional

Aqueles que comandam o monopólio das forças armadas no Brasil, na realidade, sempre tiveram como papel o massacre da própria população brasileira, isso ainda quando aqui nem era Brasil. Os bandeirantes, que tanto se orgulham os militares, e os exércitos oficiais das capitanias e da Coroa, assim como de mercenários, constituem a pré-história genocida do braço armado estatal brasileiro durante os séculos XVI e XVII. Mas nunca tiveram diante de si um inimigo - a própria população pobre e trabalhadora, escrava ou liberta - passivo, inferior.

Prova disso são as diversas revoltas escravas, como a Revolta dos Malês na Bahia, e mais ainda Palmares, que prosperou por décadas mesmo com as diversas investidas dos militares ordenados pela Coroa. O poder estatal responsável pela violência sempre esteve subordinado aos interesses diretos da classe dominante e formou-se amedrontado pelo fantasma das revoltas sociais dos explorados e oprimidos. Isso continuou quando a monarquia foi tirada da cena e a república proclamada por um golpe militar em 1889, para as classes dominadas, nada mudou, continuavam excluídas da política e perseguidas. A guerra de Canudos, de 1896 a 1897, é um exemplo gráfico disso.

Cerca de 25 mil pessoas foram assassinadas pelo Exército brasileiro. Uma população que havia se juntado e criado uma comunidade para responder a miséria imposta pelos coronéis, senhores de engenho e a recém formada República. Contudo, homens, mulheres e crianças de Canudos demonstraram o heroísmo dos oprimidos e derrotaram o exército em três expedições; na quarta, caíram.

Os oficiais do exército, em especial suas patentes mais superiores, fazem historicamente parte da classe dominante - possuem relações próximas com o latifúndio, grandes comerciantes e burocratas do Estado, quando eles próprios não o são. Da mesma maneira, os praças são convocados da classe trabalhadora, camponeses e oprimidos. Tal é o contexto social da Revolta da Chibata em 1910.

As contradições da sociedade capitalista, suas hierarquias e relações, são produzidas dentro das FA, e elas se expressaram em luta de classes dentro da Marinha na Revolta da Chibata em 1910. Marinheiros liderados por Antônio Cândido tomaram o controle de quatro navios armados até os dentes na Capital Rio de Janeiro, exigindo que as punições com chibatadas - herança da escravidão que, não por acaso, era aplicada pelos oficiais em soldados, muitos deles negros - acabassem. O gatilho da revolta foi quando um marinheiro foi amarrado no mastro do convés, o que gerou uma reação em cadeia dos soldados negros.

Uma reportagem da BBC narra a situação:

"Aos gritos de "Viva a liberdade!" e "Abaixo a chibata!", a marujada içou bandeiras vermelhas de insurreição, apontou 80 canhões na direção do Rio de Janeiro e ameaçou bombardear a então capital da República, caso suas exigências não fossem cumpridas: melhores salários, anistia aos revoltosos e, principalmente, o fim dos castigos."

O medo foi tanto das autoridades da República e dos militares que o presidente marechal Hermes da Fonseca teve que ceder a anistia e prometer o cumprimento das reivindicações. Contudo, seguindo o protocolo histórico de covardia e traição, a República e os militares descumpriram sua palavra e prenderam os revoltosos. Antônio Cândido tornou-se uma figura titânica, e até a sua morte em 1969, ainda causava medo nas autoridades.

Hoje, ficará marcado na história a continuidade da carnificina que significou a gestão militar da crise sanitária no Brasil. Eduardo Pazuello, ex ministro da Saúde, o general “especialista” em logística, e toda cúpula militar, têm suas mão manchadas de sangue. Compartilham, junto a Bolsonaro, STF, governadores e Câmara, o papel de fazer com que a crise fosse paga com mais de 300 mil mortes, que hoje quase alcançam os 4 mil por dia, desemprego e fome




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