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A liminar aprovada pela justiça do DF que permite que psicólogos tratem a homossexualidade como doença gerou grande repulsa e indignação, já são diversos atos marcados pelo país. Essa justiça que prende Rafael Braga por portar desinfetante, protege empresários e políticos corruptos e busca ingerir sobre os corpos e orientação sexual da população é a expressão da moral mais podre do Capitalismo, que para se sustentar precisa alimentar todos os tipos de opressão e violência. Doente é o capitalismo e não o amor entre as pessoas.

Isabel Inês São Paulo

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

quarta-feira 20 de setembro de 2017 | Edição do dia

A indignação gerada pela medida da Justiça do Distrito Federal mostra o rechaço a ingerência do Estado na vida das pessoas, e o desejo pela liberdade para desenvolver os próprios amores e orientação sexual. A justiça se apresenta como a encarnação moral do Estado Capitalista que legisla junto a bancada parlamentar para atacar os trabalhadores, e com medidas reacionárias contra as mulheres, os negros e os LGBTS.

Vide a reforma trabalhista que deve acabar com todos os direitos trabalhista, tramita também pela Câmara um texto que visa proibir qualquer tipo de aborto, mesmo causado por estupro. Um retrocesso ainda maior ao direito das mulheres ao próprio corpo.

E "a última" da Justiça que movida por “convicções” reacionárias, aprovou a liminar que permite considerar os LGBT como doentes, e assim abre espaço para “reversão sexual”, o que podemos traduzir como tortura psicológica e física.

Esse é o absurdo reacionário do Estado, regido por pessoas brancas, velhas e ricas, legislando para si mesmos e para os capitalistas. Os paladinos da “moral e dos bons costumes” engravatados como “gente do bem” são responsáveis diretos pela manutenção de uma moral que ano a ano assassina e violenta centena de pessoas.

Em 2017, até o início de maio, 117 pessoas foram assassinadas no Brasil devido à homofobia. É um assassinato a cada 25 horas. A informação é do Grupo Gay da Bahia (GGB). Em 2016, segundo a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais, 340 LGBTs foram mortos no Brasil. É quase uma vítima por dia, sendo até então, o maior número já registrado na história. Em 2015, foram registradas 318 mortes, segundo informações do grupo. O Brasil é um dos recordistas de assassinatos de LGBTs.

Até hoje a Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda entende as identidades não cisnormativas como doença, classificando-as como transtornos e disforias, "Disforia de gênero grave, juntamente com um desejo persistente de características físicas e papéis sociais que conhecem o sexo biológico oposto. (apa, dsm-iv, 1994)".

A comunidade trans segue na luta pela aprovação da Lei João Nery e para que a a identidade trans não seja mais reconhecida como doença ou disforia. Enquanto vivemos em uma realidade onde a expectativa de vida das pessoas trans é de apenas 35 anos.

Saiba mais - O sistema de saúde público e as identidades trans

Figuras como Marco Feliciano (PSC) ano a ano destila sua ignorância reacionária, afirmando que o que “define um homem é o que tem entre as pernas”, para defender a “Cura gay”. Jair Bolsonaro, que é das figuras mais putrefatas que existe hoje, já afirmou que mulher precisa ganhar menos, e cotidianamente destila seu ódio as mulheres, negros, LGBTs e imigrantes.

O MBL chegou ao nível de atacar obras de arte e depois postou vídeo defendendo a reacionária liminar da "Cura Gay". Todas essas expressões de direita tem ganhado repercussão devido a crise política, econômica e social que vivemos, eles buscam aparecer como “novo” e anti-sistema tradicional desgastado. Contudo são a pior e mais atrasada face do capitalismo.

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Querem retroceder em conquistas históricas da luta contra as opressões, isso coloca a importância do combate a essa direita, sabendo que a burguesia concede direitos e os retira a depender da situação política e econômica do sistema capitalista.

Cada luta contra as opressões deve ser um pilar da luta contra o sistema capitalista, pois a emancipação total de toda a sociedade só será possível quando vivermos em um mundo onde não haja explorados e onde as diferenças de cor, de orientação sexual ou de gênero não sejam usadas para uma classe minoritária explorar e lucrar mais.

A homofobia e a opressão a mulher como pilares fundamentais do Capitalismo

A revolução russa no inicio do século, em 1917, construiu um estado operário que foi o primeiro estado a descriminalizar a homossexualidade, a garantir o direito ao divórcio e ao aborto e diversas demandas democráticas, antes que qualquer outra democracia capitalista, direitos que até hoje não existem em vários países. Isso porque a moral reacionária não paira no ar, ou é problema apenas de indivíduos particulares, mas sim mantém e é mantida por um determinado modo de produção.

Os revolucionários bolcheviques lutaram contra o capitalismo com uma estratégia e uma ciência clara, que para emancipar a humanidade é preciso liberar as forças de produção das amarras da propriedade privada e da dominação da burguesia, e reconstruir uma sociedade livre de todas as opressões.

O estado operário foi o primeiro no mundo a colocar fim a qualquer perseguição a homossexualidade. Em 1921 um médico chamado Magnus Hirschfeld organizou um Encontro Internacional para a Reforma Sexual com cientistas do mundo que viam com preocupação a criminalização dos homossexuais, foi colocado como exemplo a legislação da Rússia Soviética onde a revolução proletária havia eliminada as leis repressoras da homossexualidade, por serem contraditórias com a consciência e a legalidade revolucionária. Como disse Diana Assunção em sua palestra.

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A ligação entre o machismo e a LGBTfobia tem um elo fundante, um estado patriarcal e o modo de produção capitalista onde as as opressões cumprem uma função econômica para maior exploração das forças de trabalho. O capitalismo se apropria das opressões para diminuir o valor dos trabalhadores, dividir os trabalhadores entre homens, mulheres, LGBTs e negros e assim enfraquecer toda a classe trabalhadora.

A mulher é mantida como o pilar fundamental da família, cuidando da saúde, roupas e alimentação dos idosos e crianças. Assim o Estado economiza uma tarefa que deveria ser realizada por ele mesmo, ao mesmo tempo que obriga a mulher a trabalho domestico embrutecedor, a retira da vida política e pública.

Assim a mulher tem sua sexualidade castrada e todo tipo de sexualidade que se afronte com essa divisão social dos sexos imposto na família deve ser condenada pela moral burguesa. A opressão da mulher e aos LGBTs se liga, na medida em que se estabelece uma “norma sexual" que tem uma serventia econômica concreta ao sistema, como posto acima. Mas que deriva uma série de morais, da castidade da mulher, da inferioridade a tudo que pareça feminino, de modo a justificar a violência aos homens gays, e o extremo da violência às mulheres trans, que são as mais violentadas e que mal conseguem terminar os estudos e trabalhar. Como se devessem sofrer mais por serem homens que “escolheram” se “rebaixar” ao sexo feminino.

O Revolucionário Leon Trotsky definiu que: a profundidade da questão da mulher está dada pelo fato de que ela é, em essência, o elemento vivente no qual se entrecruzam todos os fios decisivos do trabalho econômico e cultural. Ou seja, que no modo de produção capitalista, em uma sociedade baseada na exploração do trabalho humano, dividida em classes e patriarcal, as contradições desta mesma sociedade perpassam a vida das mulheres, e as aprisiona como o pilar das famílias.

Sendo a família um núcleo econômico base do capitalismo, os revolucionários russos criaram restaurantes e creches públicas, para emancipar as mulheres da funções domésticas. Acabaram com toda a ingerência do Estado sobre a vida da população, e assim permitiram que se desenvolvessem todos tipos de relações e amor, onde não importa a orientação sexual da pessoa, mas sim sua felicidade e liberdade.

Para saber mais - A descriminalização da homossexualidade na URSS: um marco na história da liberação sexual

Atos estão sendo chamados em diversas cidades do país. Na próxima sexta, 22, haverá uma manifestação em São Paulo contra a decisão da Justiça Federal que acata a liminar que permite tratar LGBT como doentes. Veja aqui




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