×

MANIFESTO DE FUNDAÇÃO | Ontologia e Combate

Partimos não só de acordos teóricos gerais, mas de acordos profundos e uma atuação em comum nestes dias turbulentos da política nacional. Em comum a avaliação do golpe institucional em curso, da necessidade de combate-los sem se somar a defesa do governo Dilma e dos seus ajustes, nem da atual democracia degrada, colocando a necessidade de barrar o golpe institucional e impor uma assembleia constituinte pela força da mobilização. Juntos temos combatido o papel lamentável que organizações como PSTU, MÊS e CST do PSOL estão tendo, ao aplicar uma política funcional a direita.

Estamos impulsionando juntos a “Faisca” e nos próximo período lançaremos novas iniciativas para acelerar a construção do esquerda diário no Rio Grande do Sul, como um ponto de concentração de militantes e organizações com quem possamos avançar em acordos sólidos de como intervir na atual situação nacional. Estamos preparando também uma intervenção em comum no ato do 1 de maio da CUT em Porto Alegre, levantando a necessidade de uma luta consequente contra o golpe institucional.

terça-feira 26 de abril de 2016 | Edição do dia

Ontologia e Combate
Manifesto de Fundação

Direto de Porto Alegre, 24/04/2016.

A contradição estrutural do capitalismo com a humanidade desde 2008, quando o “crack” financeiro e logo depois a quebra do Banco Lehman Brothers marcou o início da crise econômica no mundo, tem intensificado, continente a continente, as lutas de classes demonstrando que ainda não chegamos ao fim da história da luta entre capitalismo e comunismo como foi divulgada na ofensiva burguesa pós-restaurações capitalistas nos ex-estados operários degenerados pelo stalinismo.

A situação nacional brasileira, que vem se polarizando desde as manifestações de junho de 2013, vive agora com o processo do pedido de Impeachmant de Dilma a sua conjuntura de maior tensão política da direita ao Governo petista seguindo a lógica de uma polarização crescente que tende a resolver-se, entre diversas possibilidades, por confirmar o fim de ciclo petista no Brasil e que a tragédia da crise capitalista os trabalhadores sofrerão, com perdas de direitos sociais, econômicos e políticos ao mesmo tempo em que a democracia fortalece seu caráter burguês e burocrático.

O sistema capitalista globalizado que teve sua crise espalhada dos EUA para a Europa, onde países como a Grécia serviram de bode-expiatório e sofreram os maiores abalos, passando pelas disputas bélicas e econômicas no Oriente Médio e a “Primavera Árabe”, além das respostas de massas nos países centrais como as greves de trabalhadores na Europa em 2010/11 junto dos ‪#‎indignados‬ e o ‪#‎occupywallstreet‬ nos EUA, agora traz ao Brasil a "tsunami" que em tempos de Lula era apenas uma “marolinha”. Temos certeza que a razão da situação brasileira se encontra em nível mundial, tal e qual temos certeza da necessidade de a estratégia comunista internacionalista ser o caminho para a emancipação da classe operária da exploração do capital e da liberação de todos os oprimidos dos seus opressores através de uma luta classista e independente.

Compreendemos que o principal sujeito coletivo-social da revolução é a classe operária que funda a partir do trabalho toda a reprodução social da vida na sociedade burguesa, ocupando na produção da riqueza social o lugar central, ficando assim submetido à alienação do trabalho que lhe perverte humanamente ao mesmo tempo em que possibilita uma consciência radical frente os problemas da sociedade. No Brasil, com a decadência do PT a classe vai se libertando das amarras da CUT, fazendo greves e mostrando disposição de mobilização, como a histórica greve da Usina de Jirau em 2011 e a crescente onda de greves em todos os ramos de produção demonstrando nos momentos mais inesperados como no início de 2014 a força dos trabalhadores como os Garis do RJ em greve em pleno carnaval e os rodoviários de Porto Alegre que deixaram por 15 dias a cidade parada.

Diante da estrutura do sistema capitalista a revolução só será possível se na sua linha de frente estiverem as mulheres, negros e LGBTs, que resistem à uma barbarizante onda de violência social, estatal e para-estatal, quando o status quo da elite branca e patriarcal começa a entrar em xeque. A luta contra todas as opressões, assim como contra a exploração, é um fundamento ético sem o qual não poderemos jamais criar uma sociedade emancipada. O racismo, o machismo, a homofobia e a xenofobia, para a direita vira arma ideológica de natureza fascista e para o governo demagogia sórdida enquanto aos LGBTs sobram os trabalhos precários, aos negros as balas de fuzil, às mulheres objetificação em todos os sentidos.

Enquanto temos a convicção de que exemplos históricos ainda estão por se realizarem, observamos da história revolucionária um legado humano transcendental. A experiência da Comuna de Paris, O Capital de Karl Marx e a Revolução Bolchevique são exemplos de expressões complexas da magnitude da época histórica que vivemos e das tarefas para revolucionarmos a decadência capitalista que já coloca a espécie humana em contradição brutal consigo própria e a Terra. Acreditamos que o legado de Lenin e Trotsky é base para diversas lições estratégicas fundamentais para o combate da sociedade burguesa e seus Estados e Monopólios Imperialistas.

Este manifesto é o ponto de partida da OC, onde simplesmente queremos iniciar a questionar a forma de fazer política e mencionar elementos fundamentais da nossa constituição. Consideramos que a análise concreta da situação política mundial ainda está por ser realizada em toda sua complexidade necessária e possível, ainda que pressupomos facilmente a hegemonia das tendências reacionárias e contra-revolucionárias burguesas na economia e no ambiente social fetichizado.

A Origem do Nome Ontologia e Combate – OC

Marx dizia no seu fundamental Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1944, escrito em Kroisna logo após compreender o Estado burocrático burguês e a dialética materialista, que: “a divisão do trabalho é a expressão econômica do caráter social do trabalho no quadro da alienação”. Essa alienação existe, na medida exata em que vivemos internos ao sistema do capital, para o trabalhador e também para os revolucionários submersos na crise de direção. Efetiva-se da mesma forma, a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, mas no caso dos revolucionários expressa-se na nítida separação entre intelectuais e sindicalistas, quando, uns são da teoria e os outros da prática.

A divisão do trabalho revolucionário impróprio que existe nos partidos da esquerda, entre intelectuais e sindicalistas/eleitoralistas, só pode ser superada se na imanência da prática se construir uma consciência ontológica e não pragmática, isto é, cada militante revolucionário ser capaz de orientar sua atividade plenamente seja enquanto estiver em formação essencial ou em combate. Só assim superaremos a crise de direção revolucionária, é preciso multiplicar a potência dos militantes estrategicamente.

O modus operandi do pragmatismo é naturalmente alienante, porque afasta o sujeito da compreensão da sua atividade, o desliga no tempo-espaço da possibilidade de compreender a totalidade pelas qualidades próprias do nosso cérebro. Coisa que a atual capacidade de comunicação informacional daria conta de sistematizar e qualificar o trabalho teórico e político.

Ontologia (estudo do ser, em grego) é empregado por Marx em tal obra justamente porque ele percebe a necessidade de compreensão da totalidade da natureza para poder racionalizá-la na sua essência. Os seres da sociedade burguesa, do capital e da própria humanidade, precisam ser revolucionados, mas também compreendidos em sua totalidade.

Efetivaremos a ontologia em dois momentos, quando do trabalho em equipe e no processo individual, pois precisamos dominar a teoria coletivamente e respeitar os ritmos individuais de desenvolvimento. Na medida do ontológico publicaremos trabalhos, enquanto manteremos grupos de estudos como da Ontologia do Ser Social (de György Lukács com foco inicial no capítulo O Trabalho), mas nossa ação política central é em defesa da constituição de um poder operário e revolucionário comunista que se expressará em nosso plano inicial de combate. Pensamos que o tempo para filosofar, como processo de pensamento necessário para compreender a razão de ser das coisas, deve ser exigido por cada militante organizado como seu direito a emancipação imediata essencial contra qualquer tipo de burocracia.

A esquerda brasileira em junho de 2013 provou sua imaturidade, que não sendo coisa momentânea repetem novamente agora com suas posições covardes diante da crise política em que não conseguem se localizar a tempo nas mudanças da conjuntura porque não entendem a situação dada e se perdem em pragmáticas sindicalistas e eleitoralistas não podendo apresentar alternativas concretas de mobilização para os trabalhadores, jovens, mulheres, negros e LGBTs que se postulam nas lutas por direitos, demandas econômicas e políticas contra os ataques dos governos e inclusive contra o Impeatchment da Dilma.

Concentrar forças no que é estratégico é a palavra de ordem central para a organização dos revolucionários, e neste caso, o grande dirigente argentino Nahuel Moreno (a referência teórico-político da Luciana Genro-MES, Zé Maria-PSTU e Babá-CST) não serve quando limita as estratégias a “construção do partido” e “mobilização das massas” em seus escandalosos Conceitos Políticos Básicos.

Nada mais justifica a falência ideológica das pretensas organizações socialistas revolucionárias, e quando dizemos falência ideológica é porque a crise de direção revolucionária não possibilita superação objetiva sem uma superação subjetiva, neste sentido é pressuposto a teoria no corpo de uma concepção de mundo fundamentar a estratégia revolucionária. Analisamos que a Fração Trotskysta, esta que agora lança a rede Esquerda Diário internacionalmente, resgata os princípios estratégicos de combate ao capitalismo aprendidos nas lições de Trotsky em suas diversas obras teórico-políticas como no Programa de Transição e na Teoria da Revolução Permanente num sentido de superar o como chamam “grau zero” da falência estratégica revolucionária após a restauração burguesa nos países outrora soviéticos. Acreditamos que os dois atos práticos que a práxis humana dará cabo na revolução se positivam aqui, a democracia operária como critério para frente única das massas insurrectas e a subjetividade estratégica e revolucionária.

A origem do nosso nome está na necessidade de conhecer a natureza e de combater o capital. Neste sentido a história nos guarda ainda muitas avaliações.

Plano Inicial de Combate

A superação da crise de direção revolucionária se dará através do movimento de massas operárias, como postula a teoria da revolução permanente, tomar a direção política de todos explorados e oprimidos dentro da defesa de um programa econômico que socialize as forças produtivas e dessa forma atenda as necessidades humanas e não de lucro capitalista. Para tal processo se desenvolver sem repetir o erro reformista do tipo PT, além do balanço estratégico necessário da política reformista, queremos complementar a necessidade de combate ao capital na construção de um Comitê do Esquerda Diário-RS, propomos uma experiência em comum com o Movimento Revolucionário de Trabalhadores – MRT para ser construída em Porto Alegre agregando outros comunistas independentes e o OC, na perspectiva de unificar os revolucionários na defesa dos interesses legítimos da classe operária em processo de organizar-se estrategicamente em cada luta com os métodos da democracia operária.

O exemplo dado na greve dos professores de São Paulo onde o MRT lutou para que fossem os comandos de base a direção de uma greve histórica da categoria que durou mais de três meses enquanto o sindicato ligado a CUT, APEOESP, travava uma luta demagógica para os trabalhadores da educação simultâneo aos acordos com Alckmin para conter seu avanço. Vemos no novo site lançado pelo MRT, o Esquerda Diário, uma alternativa de organização para um combate estratégico, que aparece mais explicitamente necessário com a atual crise política brasileira, porque já vem ocupando um relativo espaço de massas enquanto mídia independente que antagoniza com as mídias burguesas e as alternativas de direita e do PT. Fazem isso resgatando o método do programa de transição de Trotsky, emergindo como um canal de diálogo e combate para a esquerda independente e classista que ao concluir seu primeiro ano chega a 2 milhões de acessos e sua página no Facebook já atinge 73 mil seguidores.

Agora o Esquerda Diário reafirma sua vontade de ser o espaço das notícias com a percepção revolucionária e de agregar os setores combativos que não se dobram a burocratizações ou sectarismos em sua Tribuna Aberta. Nosso amplo convite à esquerda é que sigam o exemplo do combate com o critério da democracia operária como método de organização, onde se possa experimentar em progressão a unidade principista dos revolucionários com os movimentos que se despertam contra o capitalismo, já que este é de fato o empecilho fundamental para a acumulação de forças radicais revolucionárias.

Somente tal método pode construir uma situação de duplo poder onde a classe vai reconhecer suas forças e esforçar-se para superar a burguesia. Trotsky ao voltar para a Rússia, depois de um grande exílio e após a queda de Tzar, declara em 4 de maio: “três artigos de fé revolucionários: não confiar na burguesia; controlar os líderes; contar apenas com as próprias forças”. É com este entendimento que nós, jovens estudantes e trabalhadores, nos lançamos a defesa da revolução socialista mundial.

Em memória da Comuna de Paris

“Paris dos operários, com sua Comuna, será eternamente exaltada como o porta-bandeira glorioso de uma nova sociedade. Seus mártires tem seu santuário no grande coração da classe operária. Quanto a seus exterminadores, a história já os cravou para sempre num pelourinho, do qual todas as preces de seus clérigos não conseguirão redimi-los.”
Karl Marx




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias