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TURQUIA SÍRIA | Onda terrorista do governo turco contra a esquerda e o movimento curdo

Após o massacre na cidade curda de Suruç na semana passada, o governo do AKP lançou “operações antiterroristas” em várias cidades prendendo mais de 900 pessoas, como anúncio de uma verdadeira ofensiva militar contra as posições da guerrilha curda.

quarta-feira 29 de julho de 2015 | 00:00

Na operação policial, além de militantes do proibido “Partido de Trabalhadores” curdo, o PKK, e da organização clandestina DHKP-C, se detiveram também ativistas de movimentos sociais que haviam protestado contra a política repressiva do AKP.

Ao mesmo tempo, se deteve apenas uma pequena quantidade de militantes do “Estado Islâmico” (EI) para encobrir essa “caça às bruxas” contra a esquerda turca e kurda. Já durante as recentes eleições – que acabaram colocando fim a 13 anos de governo indiscutido do AKP -, o partido islâmico neoliberal havia agitado e lançado provocações contra a esquerda e o movimento kurdo.

Depois que morreram dois soldados após um atentado a um comboio militar no território curdo no sudeste da Turquia, as forças aéreas turcas começaram a bombardear as posições do PKK nas montanhas de Kandil no nordeste iraquiano, da noite da sexta-feira, dia 24, ao sábado, dia 25.

Como resposta à ofensiva turca, o PKK declarou o fim do “processo de paz”. “A trégua perdeu seu significado após os graves bombardeios”, destacou em um comunicado. Até a segunda-feira à tarde, os 50 aviões de combate turcos haviam bombardeado quase 400 posições do PKK. Segundo as “Unidades de Defesa do Povo” kurdas, o YPG, a força aérea também bombardeou posições dos kurdos na Siria.

O partido kurdo HDP também está sendo atacado fortemente. Centenas de militantes foram detidos e na imprensa e a partir do partido de ultra direita, o MHP, se exige a proibição do HDP. O AKP aponta impedir uma nova entrada do HDP no parlamento caso se realizem novas eleições, para voltar a ter maioria absoluta e governar só.

O fim da trégua

A trégua, que durava de março de 2013 e se converteu na questão política central na Turquia, era uma concessão concreta ao PKK para iniciar um “processo de paz”. Tanto a burguesia turca como os imperialismo saudavam essa iniciativa. Mas o que impuseram como condição foi nada menos que a capitulação completa do movimento curdo e a consolidação da região curda como colonia interna do Estado turco.

Enquanto isso, o movimento curdo fomentou ilusões nesse “processo de paz”, com o qual se poderia “democratizar” o Estado turco.

Na noite de 24 de julho, se mostrou claramente que o governo do AKP nunca teve o objetivo de conquistar uma verdadeira paz em relação às massas curdas. Sob o pretexto de atacar o “Estado Islâmico”, as FFAA reabriram a guerra contra os kurdos. Até o fechamento desse artigo, o governo seguia negando que quisesse mandar o exército, mas os bombardeios falam uma linguagem clara.

O ataque contra o “EI” é uma camuflagem

A colaboração do governo turco com os bandidos do “Estado Islâmico” já não se pode esconder no último período.

O presidente dos EUA, Barack Obama, havia acusado o governo turco durante a cúpula do G7 na Alemanha de graves deficiências na supervisão de sua fronteira com a Síria. Após o atentado de Suruç, se pressionou o governo turco para uma posição mais ofensiva contra o “EI”.

Ainda que a Turquia forme parte da aliança liderada pelos EUA contra o “EI”, havia se negado até agora a colocar a sua base militar em Incirlik na cidade de Adana à disposição para ofensivas aéreas da aliança – questão que se colocou a favor recentemente no final da semana passada.

Ainda assim, os bombardeios turcos contra o “EI” constituem um sinal para os aliados ocidentais. Segundo informa o “New York Times”, os EUA e a Turquia acordaram impor uma zona livre do “EI” de cem quilômetros ao norte da Síria e ao longo da fronteira com a Turquia. Ainda não se fala de tropas terrestres, mas sim de apoiar o Exército Livre Sírio (ELS).

Com esse acordo, o Estado turco pretende por um lado aliviar a pressão dos poderes ocidentais, e por outro impedir a fundação de um estado curdo em sua fronteira austral. O que mostra que seu verdadeiro foco não é o “EI” mas o combate contra o movimento curdo.

A posição do Ocidente

O governo em Ankara justificou seus bombardeios frente às Nações Unidas apelando ao seu direito de autodefesa, referindo-se ao artigo 51 da Carta da ONU.

Mesmo assim a OTAN exigiu uma reunião extraordinária para essa quarta-feira, 28 de julho. O Ministério de Assuntos Exteriores de Ankara anunciou que se tratava de deliberar sobre a assessoria e o apoio à ofensiva militar. A OTAN confirmou que se reunirão 28 Estados membros da organização militar.

O governo turco se remete ao artigo 4 do tratado da OTAN prevendo consultas em caso de ameaça à segurança ou ao território de um país membro. Ankara não espera um apoio diretamente militar, mas sim uma legitimação diplomática de um apoio político a suas ações.

O Secretário Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, afirmou que a “Turquia tem direito a defender-se conta os atentados terroristas.” Por sua vez, advertiu o governo turco de que não coloque em isco o “processo de paz” com ataques contra o PKK.

“É importante que as medidas sejam proporcionais e não contribuam desnecessariamente com uma escalada do conflito. Um ataque terrorista não deve ser obstáculo para os esforços de encontrar uma solução pacífica e política para o conflito”.

A posição do governo alemão é idêntica. No domingo passado, dia 26 de julho, o ministro alemão de Assuntos Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, declarou sua “compreensão” em relação às ações militares do Estado turco contra as “organizações terroristas”. Ao mesmo tempo sublinhou também a necessidade de continuar com o “processo de paz” com o movimento curdo. Enquanto isso, o PKK curdo segue na lista de “organizações terroristas” na Alemanha e na maioria dos países europeus, o que mostra a hipocrisia dos governos europeus.

A ofensiva tuca iniciada nessa semana, contra as organizações do povo curdo e organizações da esquerda, legitimada pela OTAN e pela UE, deve ser repudiada por todos os povos da Europa.




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