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OLIMPÍADAS NO BRASIL | Olimpíadas e crise política no Brasil: novo 7 a 1?

sexta-feira 15 de abril de 2016 | Edição do dia

Em cenário conturbado no regime político, com enorme queda de braço entre os representantes da classe dominante, um auxiliar de Dilma utilizou a metáfora do 7 a 1 para se referir ao processo de Impeachment, afirmando que a base do governo trabalha para vencer a votação na Câmara, ou minimizar a derrota: "Não pode ser um 7 a 1 porque, se for assim, não há chance de segurar no Senado".

À beira das Olimpíadas é impossível não vir à lembrança a última Copa do Mundo realizada no país. Os milhares de manifestantes que saíram às ruas sob o lema “Não vai ter Copa!” davam o tom da indignação de uma classe que demonstrava estar cansada de só receber ataques dos governos, de ter educação e saúde públicas totalmente precárias enquanto milhões eram gastos para realização das atividades esportivas. Ao final da Copa o resultado em campo da seleção brasileira foi simbólico. Os 7 a 1 que os brasileiros tomaram em campo, se tornaram um símbolo dos inúmeros “elefantes brancos” construídos, estádios que custaram milhões aos cofres públicos e que foram largados às traças. Escândalos de superfaturamento nas obras vieram à tona, e mostraram que por trás de interesses como “o bom futebol”, ou a “alegria” dos brasileiros, no fundo aquele circo era uma boa oportunidade para enriquecer os milionários, para grandes negociatas, e para rios de desvio de verbas para os bolsos de políticos corruptos e empresários. A derrota amarga não era de uma ou outra fração da classe burguesa, como na analogia do assessor de Dilma, mas era uma decepção à classe trabalhadora, que pouco ou nada aproveitou do futebol, e ficou com as filas quilométricas no SUS, e com os cortes de verba nas escolas.

Apesar da baixa adesão dos brasileiros às compras de ingressos dos jogos em meio ao cenário de crise, em entrevista esta semana os representantes do Comitê Olímpico Internacional tentam colocar panos quentes em relação à crise política nacional. Respondendo à enxurrada de perguntas sobre este tema, tentaram de todas as formas apontar que nem o clima político do Brasil, nem a ameaça da Zika vírus vão afetar os jogos, e que os preparativos vão bem. Os organizadores do evento tentam aquecer um pouco o clima de empolgação com os jogos, realizando eventos com cobertura televisiva. Contudo, sabemos que a realidade não é bem essa pintada nas últimas entrevistas. O governo Francês investiga irregularidades já desde a escolha do Brasil como país cede das Olimpíadas. As contas dos Jogos já foram questionadas pelo Tribunal de Contas da União, o Comitê Olímpico justifica a falta de transparência dos gastos pela origem privada dos recursos. Pelo menos 7 empresas citadas na operação lava-jato (Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Mendes Júnior e Carioca), envolvidas em escândalos bilionários de corrupção, são responsáveis por 11 projetos de construção fundamentais para a realização dos Jogos. Há já dois casos de corrupção em obras relacionadas aos Jogos no Rio que foram motivo de orgulho do prefeito Eduardo Paes: as obras da linha 5 do metrô, e do “Porto Maravilha”, para revitalização da zona portuária do Rio.

Os dois campos de golfe presentes no Rio foram considerados inadequados, por isso um novo está sendo construído em local de Proteção Ambiental, para os Jogos, custando 52 milhões, e prevendo também a construção de apartamentos de luxo no local. Manifestações contrárias à construção da população e de ambientalistas ocorreram no local. As autoridades já reconheceram também que não vão cumprir o compromisso de despoluir a Baía de Guanabara.

A verdade é que o processo de preparação para as Olimpíadas está totalmente entrelaçado na crise política nacional. O enorme descontentamento com o governo tem base também no avanço da crise econômica e nos ajustes fiscais. Alguns jornais anunciam que o Rio gastará 39 bilhões com os Jogos. As obras atrasadas do metrô já criam a necessidade de um novo empréstimo de mais 1 bilhão de reais ao BNDES. Ao mesmo tempo, com enorme recessão, houveram cortes de 35% na área da segurança pública, o orçamento do Comitê Rio 2016 foi reduzido, e eventos testes foram cancelados. Há poucos meses dos Jogos, estudantes e professores constroem enorme luta contra a precarização da educação no Rio de Janeiro, com greves, atos, cortes de rua.

A preparação para os Jogos Olímpicos de 2016 não começou este ano. Ao início das operações especiais que criaram as primeiras UPPs, feitas com a aliança do governo do Rio de Janeiro com o governo federal, que resultaram em massacre da população das favelas, e saldo que não para de crescer de inúmeros trabalhadores pobres e negros assassinados na periferia do Rio, já era anunciada que aquele era o início de uma preparação aos Jogos, uma “limpeza” da cidade. O massacre da “pacificação” é sistemático, é cotidiano no Rio, os jovens mal podem transitar pelas praias sem ameaças e espancamentos, para abrirem caminho aos gringos. A mídia, sobretudo a Rede Globo, investe na violenta vendagem da imagem das mulheres brasileiras “mulatas” como objetos de consumo aos gringos, para aquecer o inescrupuloso “mercado” do turismo sexual.

Bilhões gastos com apartamentos de luxo, com modernas instalações, e a população amarga cortes na educação pública, péssimas condições de saúde, desemprego na juventude. À revelia do esporte, lá estão as negociatas e as grandes empreiteiras corruptas sugando dinheiro. Em meio à esta forte crise política e econômica em que passa o país, quem ganha, e quem perde esses Jogos?




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