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NOVA PUBLICAÇÃO | Obra de Mary Wollstonecraft precursora do feminismo chega ao Brasil

Conheça a obra "Reivindicação dos direitos da mulher" de Mary Wollstonecraft, com comentário de Diana Assunção.

segunda-feira 14 de março de 2016 | 12:01

Chegou ao Brasil o livro "Reivindicação dos direitos da Mulher" de Mary Wollstonecraft, considerada uma dos precursoras do feminismo mundial. A Boitempo Editorial, com apoio das Edições ISKRA traz ao Brasil esta publicação após o enorme sucesso do estudo de Wendy Goldman sobre as mulheres na Revolução Russa, “Mulher, Estado e Revolução”.

Escrito em 1792, o livro de Wollstonecraft está inserido no calor revolucionário que vinha da França, e dialoga diretamente com as demandas da luta que colocava à frente o lema da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. A autora, uma inglesa que fez de sua própria vida uma contínua batalha contra as injustiças cometidas contra as mulheres, apresenta aqui uma discussão que têm como interlocutores as mulheres e revolucionários contemporâneos, e também alguns dos principais filósofos e ideólogos do movimento revolucionário e do iluminismo francês.

Wollstonecraft foi uma das principais vozes a se levantar nesse momento dizendo que a proclamada igualdade revolucionária não poderia ser digna desse nome se não se fizesse concreta também para um dos setores historicamente mais explorados e oprimidos socialmente: as mulheres. Para isso ela enfrenta nomes como Jean Jacques Rosseau, que pregava a submissão e a obediência das mulheres aos homens, defendendo que a educação destas se restringisse ao necessário para serem boas companheiras a seus maridos. O espírito revolucionário de Wollstonecraft não se restringia aos limites estreitos que uma parcela dos líderes queria lhe dar, e ela julgava que, do mesmo modo que se questionava o direito divino dos Reis governarem, deveria se questionar o direito divino da superioridade dos homens, pais e maridos sobre as mulheres.

O vigor e a profundidade de seu livro, além de seu ímpeto revolucionário, o transformaram em uma obra decisiva para influenciar as mulheres que dariam corpo e teoria ao feminismo nas décadas e séculos posteriores. A revolução industrial e a ascensão do capitalismo, que progressivamente colocaram as mulheres nas fileiras operárias e ocupando cargos duríssimos e com as piores remunerações dentro das fábricas, foram a base material que permitiu que mulheres como Wollstonecraft passassem a enfrentar abertamente e de forma corajosa a dominação social masculina.

As Edições Iskra, em apoio a publicação da Boitempo Editorial, têm orgulho de trazer ao público brasileiro essa peça chave da história da luta das mulheres. Diana Assunção, historiadora e militante dos direitos das mulheres, também fundadora do grupo de mulheres Pão e Rosas falou com o Esquerda Diário "É um orgulho poder ter escrito a orelha de uma obra tão fundamental como esta. Acredito que este livro pode ser um impulso para todas as meninas e mulheres que hoje despertam para a luta feminista e que já começam a perceber que não é possível parar por aí, é preciso ir a raiz dos problemas desta sociedade que nos oprime e nos explora. Por isso, para dar continuidade à obra de Mary Wollstonecraft, hoje o grito feminista precisa ser também anticapitalista e se ligar à classe trabalhadora, a classe revolucionária da nossa época. A causa das mulheres, ao se fundir com a causa universal do comunismo, pode apontar para a igualdade perante a vida, na construção do que Karl Marx chamou de reino da liberdade".

O livro conta com prefácio assinado por Maria Lygia Quartim de Moraes. Apresenta também uma breve cronologia da vida de Mary Wollstonecraft, cuja trajetória é em si uma lição de luta pelos direitos femininos, e com uma importância que vemos inclusive na fama de sua segunda filha – cujo parto difícil infelizmente levou à morte precoce de sua mãe – a escritora Mary Shelley, autora do célebre romance Frankestein em uma época em que as autoras mulheres eram ainda muito pouco encontradas. Por fim, o volume conta ainda com uma página sobre a trajetória da escritora em quadrinhos, de Fred Van Lente (adaptação) e Ryan Dunlavey (arte), publicada originalmente na antologia Cânone gráfico, volume 1: clássicos da literatura universal em quadrinhos (Barricada, 2014). A Boitempo neste mês está apresentando um promoção de livros sobre a questão da mulher.

Ficha técnica
Título: Reivindicação dos direitos da mulher
Título original: A vindication of the rights of woman
Autora: Mary Wollstonecraft
Tradução: Ivania Pocinho Motta
Prefácio: Maria Lygia Quartim de Moraes
Orelha: Diana Assunção
Número de páginas: 256
Previsão de lançamento: março
Editora: Boitempo | Apoio: ISKRA

Leia na íntegra a orelha assinada por Diana Assunção:

No fim do século XVIII, logo após a França ser palco da maior revolução burguesa da história, que exigia liberdade, igualdade e fraternidade, diversos questionamentos passaram a clamar pela extensão de tais direitos a toda a humanidade, e não apenas aos homens brancos europeus: o primeiro surgiu na colônia francesa no Haiti, que já em 1791 deu início a sua revolução negra; logo em seguida, em 1792, fez-se ouvir o protesto feminista de Mary Wollstonecraft, de Londres, que exigia justiça para as mulheres, excluídas do papel de cidadãs pela Constituição Francesa recém-promulgada. Foram, portanto, as próprias ideias iluministas que influenciaram Mary a enfrentar grandes nomes como Jean-Jacques Rousseau e Denis Diderot, os quais, apesar de se basearem na razão, guardavam para a mulher um lugar inferior na sociedade. Mary Wollstonecraft sustentava que a dependência econômica das mulheres, bem como sua impossibilidade de acesso à educação racional, transformava-as em seres infantis e resignados. A obra Reivindicação dos direitos da mulher é considerada uma das precursoras do feminismo, escrita em um momento anterior ao das grandes lutas proletárias, quando a burguesia ainda carregava uma missão revolucionária. As ondas seguintes do feminismo internacional já teriam como palco o mundo capitalista, em que a burguesia não somente deixaria de ter papel revolucionário como conduziria a humanidade aos massacres das duas guerras mundiais, convertendo o mundo em uma suja prisão. Para dar continuidade à obra de Mary Wollstonecraft, hoje o protesto feminista precisa ser também anticapitalista e se ligar à classe trabalhadora, a classe revolucionária da nossa época. É um grande acerto a Boitempo Editorial resgatar essa voz contra a cruel opressão cotidiana, uma voz que continua viva em milhões de mulheres – meninas, negras, indígenas e imigrantes em todo o mundo.

Diana Assunção




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